Ando a emagrecer aos bocados. Não, não estou doente, graças a Deus. Simplesmente ando a emagrecer porque quero emagrecer. Estou cansado de ser um tipo gordo de quarenta e cinco anos. Bem sei que tenho de pagar a factura das "rugas dos magros" que me dão a impressão de começar a ficar com um aspecto mais de quarenta e cinco anos do que de trinta e sete, que era a ideia que eu tinha do meu aspecto. Mas ando a emagrecer e, aí é que ela bate, ando a emagrecer sem ter tido de deixar de comer. Ora pois. Emagreço tranquilamente na companhia dos enchidos, dos queijos e dos tintos e da Heineken (gajo pobre bebe Heineken).
O doutor Seabra mandou-me fazer uma bateria de testes e disse-me que eu tenho um coração de atleta, um fígado de bebé mas ando com o colesterol na casa dos duzentos e noventa! Nada de diabetes, nem triglicerídios, essas merdas.
Receitou-me, o doutor, o ferrari dos medicamentos para redução do colesterol. Nem sei a marca porque nem olhei para a receita. Aliás, tenho alguma inveja daquelas pessoas que sabem os nomes de quase todos os medicamentos. Eu não sei nenhum, se exceptuarmos a aspirina e o actifed. Bom, a receita tenho-a ali pronta a trocar na Farmácia Central mas não ando com muita vontade de mamar sessenta pastilhas, uma por dia. Não sei, não gosto de pastilhas. O que ando a fazer é correr quase todos os dias aí uns cinco mil metros, uma légua. E ando a pesar-me e a ver o peso descer e a ouvir os amigos dizerem "Torres, estás mais magro pá!" e isso sabe-me bem. Mas tenho de tomar as pastilhas, não tenho? Foda-se! Detesto essas merdas.