sexta-feira, 30 de junho de 2006

Everybody knows this is nowhere

"Hello cowgirl in the sand
Is this place
at your command
Can I stay here
for a while
Can I see your
sweet sweet smile"


Arrumei as coisas e fui até ao centro da cidade beber umas cervejas. Coimbra é uma cidade diferente das demais. E mais diferente fica quando a noite entra fora de horas e as esplanadas ficam repletas de uma população diferente, muito jovem e muito bebedolas. Fiquei ali, a beber e a fumar, em silêncio, muito quieto. Depois levantei-me de um salto, enfiei-me no carro e fui.
Ao chegar a casa, já a entrar na garagem, António Sérgio brindou-me com este "Cowgirl in The Sand". Parei o carro no meu lugar de garagem, subi o volume áudio e deixei-me estar ali a ouvir e a rasgar-me de prazer.

segunda-feira, 26 de junho de 2006

doi muito

Eu estou com a lolita. Quero ver Portugal na final, independentemente das merdas todas que sufocam o mundo. E não vejo razões para ficar aborrecido com os censores. Eles existem para nos dizer o que está bem e só o que está bem, mas não têm comparação com os adeptos da Selecção de Sub-21 que tinham grandes esperanças no Quaresma e estão hoje preocupadíssimos com as questões do Fair Play e das manhas do Figo. Em todo a caso, um abraço solidário para ambos, que eu bem lhes vejo as dores.

mundi alices

Vi o Portugal-Holanda no ecran gigante do Estádio Municipal Cidade de Coimbra. Ali decorre até ao próximo fim-de-semana a CIC, Feira Comercial e Industrial de Coímbra, cuja organização é da responsabilidade da ACIC.
Ali vi a Lusa a bater-se perante as adversidades de um jogo típico da América do Sul. A malta aguentou-se porque já não estamos em tempo de vitórias morais. Agora é ganhar e esta geração de jogadores joga sempre para vencer. É esse o dado novo que se pode acrescentar ao nosso fado. Vi os rotulados de imprescindíveis a fazer cagada para que os chamados de segunda linha entrassem em jogo para aguentar a vitória. Vi um punhado de rapazes a defender o que havia para defender e não estou nada interessado em ouvir lamentações só porque não teremos o substituto de Rui Costa nem o Costinha contra a Inglaterra. O resto, fair plays e declarações blaterianas, fitas e cartolinas, lesões e expulsões, tudo isso faz parte da história e do jogo. O importante é esta onda de sucesso, é vencer independentemente disso tudo. Com brasileiros ou sem eles, a verdade é que ontem a alma lusitana esteve ali. Até quando...

sexta-feira, 23 de junho de 2006

L Word, the [Lesbian TV Series]

L Word, the [Lesbian TV Series] na RTP2, de segunda a sexta, bem pela noite dentro para que os "certinhos e atinadinhos", aqueles que fodem sempre na posição do missionário, quando fodem, e portanto adormecem cedo, não vejam estes retalhos de mulheres normais, bonitas, inteligentes, cultas e lésbicas. Podem bem ficar impressinados.

quinta-feira, 22 de junho de 2006

coisas de nada

Um dia era verão e eu estava de férias grandes e a televisão dava os jogos do Mundial 82, os "naranjitos". Eu estava de férias grandes e fui trabalhar para umas obras. O prédio ainda existe e situa-se a menos de 100 metros de minha casa e é onde funciona a Clínica N. Srª da Saúde.
Eu era miúdo e fui trabalhar para as obras porque queria dinheiro. E trabalhei ali quase dois meses e escolhi ser pedreiro, já que detestava andar de colher de trolha na mão a chapar massa e a alisar paredes. Preferia as coisas brutas como acartar pesados carros de mão cheios de argamassa, ou baldes enormes cheios de tralha, pedras e assim. Eu nunca gostei muito de comer frango assado com faca e garfo. Ou como com a mão ou como com a mão. De modos que eu era miúdo e trabalhei nas obras. Depois veio o S. João e eu tinha dinheiro e fui para o Porto gasta-lo. Antes disso fui à rua do Loureiro e comprei roupa. Eu não era muito bom a comprar roupa. Comprei uma camisola vermelha e umas calças azul clarinho, aquele azul cueca da Argentina, e uns sapatos brancos e meias brancas. Ainda tenho uma foto muito catita vestido com essa roupa e muito penteadinho.
Eu era trolha. Mas ganhei dinheiro e comprei roupa e fui ao S. João. Depois deixei de ser trolha e voltei a ficar sem dinheiro e ia para a praia da Granja à boleia ou a pé, enquanto não começava Setembro e a escola. Enquanto ia e vinha apreciava os trolhas e tinha-lhes inveja. Eles não precisavam de cravar tabaco nem de andar à boleia. Fumavam SG Filtro e andavam de XF Zundap de cinco velocidades. A minha única glória era que eu ia para a praia e ficava moreno inteirinho. Eles eram morenos parciais.
Eu era um trolha condenado a não ser trolha. Mas um dia ainda hei-de ser trolha outra vez.

o meu solstício às vezes é maior do que o teu

Assinalar o segundo aniversário do dia em que Pacheco Pereira montou o seu telescópio e disse que a lua estava em D, finíssima!

chocolate

Acabei de acordar. O dia está quente e amanhã é o S.João. Era para ir viajar mas já não vou. Vou tomar um café forte, no café "Cruz de Cristo", e depois vou ler jornais. Não sei se vá trabalhar alguma coisa.

terça-feira, 20 de junho de 2006

mundi alices

O Sr. José chamou-me, quase discretamente, porque queria ajuda numa coisa do telemóvel. Estes homens velhos, já reformados e sábios de tudo, vêem em nós nada mais, nada menos, do que um manual tácito das novas tecnologias. Dão-nos esse crédito como se nós não prestássemos para mais nada. E eu confesso que me sinto bem nesse papel quase pedagógico de técnico especializado nas coisas modernas. Fui sentar-me ao pé dele, na esplanada do café, e deixei-me ficar ali um bocadinho a trocar palpites disto e daquilo. E o futebol veio à baila. O futebol calha sempre em conversa quando estamos sentados numa esplanada a trocar palpites disto e daquilo. Mas hoje o Sr. José tinha uma coisa para me dizer, mas em surdina, não fossem os outros ouvir tamanha heresia:
- Sabe, eu até já tenho dito isto à minha mulher, gosto de ver futebol, mas não sei porquê, não me puxa para gostar da Selecção...nunca gostei da nossa Selecção!

WRECKLESS INTENT

Isto é uma coisa de pai. Um pai como eu que aos quarenta anos depara com um filho de onze a desbundar cenas como Killswitch Engage, Mercy Drive, P.O.D., Saliva, Shadows Fall, Three 6 Mafia e os legendários Motörhead. Isto é um tema! Qualquer coisa que confunde os meus músculos labiais, já que nem sei se deva sorrir ou esboçar uma beiçola de preocupação. Um puto de onze anos, meu filho, a deslocar-se directamente do canal panda para estas merdas, sem passar pela prisão, os D'zrts e essas cenas, é uma coisa que me dá espanto. A minha rapariga, que vai entrar agora na Universidade, já anda a curtir umas cenas catitas, embora ainda não tenha vislumbrado as delícias poéticas do velho Tom, nem as liberdades incondicionais de um Neil Young, mas zarpou bem em coisas de meninas, teve o seu tempo para os imbecis, como é o caso desse rapaz de Stock On Trent ou raio que o parta.
Mas o meu Alex...passar assim para esta batida deixou-me de cara à banda. A este ritmo, quando vierem os anos da "pobre idade" e da tusa e das garinas (falta quase nada) ainda vou ter um metaleiro a entrar-me por casa adentro, cheio de taxas e piercings ou sei lá.... Por agora é assim: nada de melancias dominicais. Nem quaresmas, nem conselhos de água benta. O moço está na dele. Pois…

segunda-feira, 19 de junho de 2006

Waiting for the sun

Ah, uma borboleta é coisa tamanha. Um simples bater de asas de borboleta pode bem causar uma tempestade. Mas eu quero um bater de asas que não cause tormentas, apenas harmonia, sensualidade, graça e ternura. Um bater de asas assim merece que brindemos a todas as borboletas deste mundo que esvoaçam os céus e pousam nas flores mais bonitas. E a esvoaçar os céus elas apontam-nos o caminho. E é seguindo o seu curso, sem mais para onde olhar, que podemos um dia pousar naquela flor.

terça-feira, 13 de junho de 2006

mundi alices

O substituto, no Milan, do melhor jogador português dos últimos 30 anos salvou o Brasil de uma estreia desastrosa neste Mundial de Futebol. Já todos sabemos que o Brasil tem excelentes jogadores. Aliás essa é a segunda grande obra dos portugueses enquanto andaram a misturar o seu património genético pelos quatro cantos do mundo (a maior de todas foi a criação da mulher brasileira e a pior foi o dirigente desportivo). Mas ter os melhores jogadores não basta, como se viu hoje contra a croácia. Os "croácios" mereciam outra sorte, apesar de não serem nossos irmãos nem falarem a nossa língua, nem dançarem samba, nem exportarem caipirinha e chinelas marca havaianas. Os "croácios" são a evolução do "Boavista" com aquelas camisolas de xadrez vermelho berrante.
Pronto, isto vai mal e é assim: o Brasil ganhou mal, mas vai à final, lá isso vai. A não ser que o Togo lhes saia na rifa.
Além disso, cá no burgo qualquer merda seca fala, à boca cheia, que Portugal também vai à final. Há-de ir sim senhor. Basta que a Nossa Senhora do Caravaggio assim o queira. Mas essa Nossa Senhora não é italiana? Scolari é. Perceberam? Se calhari é. Mas nós sobreviveremos.
Até amanhã. Amanhã é que vai ser cá um destes dias: finalmente a Espanha vai ser falada!

Miguel Esteves Cardoso ou o outro Mundial de Futebol

"Só que é muito difícil não simpatizar com os italianos, por exemplo. Sabemos que são uma equipa que nos pode causar problemas, mas gostamos deles à mesma. É exactamente o que acontece com a salada de pimentos: sabemos que nos vai fazer mal, mas a malta gosta e, pronto, come."

in O Jogo

mundi alices

Rui Costa foi o melhor jogador da Selecção Nacional nos últimos 30 anos. Foi tão bom, tão bom, que o substitudo dele teve de ser importado do Brasil.

segunda-feira, 12 de junho de 2006

inconfesse-se

"Há anos que não tenho um orgasmo com o meu marido. Faço sexo por obrigação, para ele se satisfazer. Finalmente decidi andar com alguém que me tirou as dúvidas. Caraças, já pensava que era frígida!"

coisas simples

Faz já mais de mês que tenho andado sem meias. Parece estranho estar aqui a falar disto mas tenho para mim que andar sem meias tem um significado bem mais expressivo do que a simples necessidade de refrescar os pés. Por isso falo disso aqui, sabendo que isso não interessa nada, para que um dia, ao reler as minhas coisas, eu possa ter a percepção de que em determinado dia achei importante contar uma coisa destas. Uma confidência, um assunto banal, daqueles que não geram nada e que simplesmente dizem respeito apenas a quem escreve. Escrevo para mim, portanto.
Sem meias, muito despojados, os meus pés agradecem. No Inverno ficarão felizes por se sentirem agasalhados. Talvez eu fale de cachecóis e roupas de lã, ou de lareiras e sopas quentes. Hoje falo de andar sem meias, mas podia falar de ameias e de sereias e de almas cheias, que aconchegadinha anda a minha alma, apesar dos pés quase nus, em absoluta harmonia com a leveza que me pesa o pensamento.

mundi alices

Em 2004 Rui Manuel Costa decide abandonar a Selecção. Figo também, mas regressa meses depois. Ontem o substituto de Rui Manuel Costa não jogou devido a lesão e Figo substituiu-o, e bem. Digamos que Figo esteve à altura do substituto de Rui Manuel Costa mas o substituto de Figo, nem por isso. Idem para o substituto de Jorge Andrade e para o substituto de Humberto Coelho. Já o substituto de Nuno Gomes lá conseguiu marcar um golo numa fase final, embora tenha falhado a oportunidade de o ter feito aos 15 segundos de jogo. E um aplauso para o substituto de Abramovich, que tem uma coloração do cabelo de fazer inveja ao mais pintado azeiteiro.

sábado, 10 de junho de 2006

quando olho para mim vejo-me inteirinho neste poema

Cântico Negro

"Vem por aqui" --- dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom se eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui"!
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
--- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha mãe.

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
Por que me repetis: "vem por aqui"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis machados, ferramentas, e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátrias, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha Loucura!

Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
--- Sei que não vou por aí.

José Régio

sexta-feira, 9 de junho de 2006

Pronto, pronto. A malta esmerou-se em "parabenizar" Francisco José Viegas ( sem link para que ele não leia isto). Eu não lhe dou os parabéns porque não tenho autoridade para isso. Sempre achei essa merda de dar os parabéns uma forma doentia de exercermos a nossa mais absoluta mediocridade, mas enfim, deixemos isso para outra maré. O que eu fiquei foi contente, porque o tipo merece. Aliás eu não li o livro e devo dizer que nunca mais hei-de gostar tanto de um escrito desse gajo como um que ele escreveu para o Jornal Expresso, num daqueles guias de viagens e que falava sobre o Alto Alentejo. Foi a coisa mais soberba que esse escritor-blogger-apresentador-portistadesgraçado, me escreveu. A mim, sim. Aposto que ele escreveu aquilo para mim que amo Portalegre, Castelo de Vide, o Marvão, Alter do Chão e o Crato e Aviz ( com z claro). Bom, é tudo. Só para que conste que eu gosto de ver as pessoas de quem gosto por aí, felizes. E é tudo.
sim, porque uma folha de menta cheirosa, suave e fresca, pode muito bem ser pouca coisa. mas não é erva daninha nem flor para a vista. tem cheiro que fica, sabor intenso que resiste e pede mais. uma folha de menta pode não ser grande coisa, pode até secar e amarrotar e ser levada pelo vento, destroçada. mas o aroma fica. e o aroma não vai para longe. e se olharmos bem para esse longe, ela lá está, a folha de menta, muito suave e que nos faz arrepiar e correr e saltar e sorrir e desejar. essa folha de menta perdida é bem capaz de me fazer conseguir sonhar.

spin on my world

Coney Island Baby

Every night she cames
To take me out to dreamland
When I'm with her, I'm the richest
Man in the town

She's a rose, she's the pearl
She's the spin on my world
All the stars make their wishes on her eyes

She's my Coney Island Baby
She's my Coney Island Girl
She's a princess, in a red dress
She's the moon in the mist to me
She's my Coney Island Baby
She's my Coney Island Girl

Mr. Tom Waits

quinta-feira, 8 de junho de 2006

Scolari Clube de Portugal ou, se quiserem, que se foda o gajo!

Querido diário, hoje regresso a casa e amanhã começa o Mundial de Futebol. Noutros tempos, sempre que havia Mundial o meu país ficava sempre fora e eu era, assim, adepto de uma Selecção Estrangeira. Detestava o Brasil e acho que ainda detesto. Fui adepto da Itália em 82 ( em 78 era menino de 12 anos e gostava do Brasil, obviamente, mas também gostei da Holanda), Fui adepto da Argentina em 86 e 90, fui adepto da Itália em 94 e da França em 98. Em 2002, Portugal esteve lá tal como em 86 mas foi-se, ainda a procissão estava no adro. Tornei-me adepto da Turquia que fez um belo campeonato e tinha feito um grande jogo contra o Brasil. Este ano confesso-me adepto da Itália. Não porque eles sejam bons ou coisa parecida. Apenas porque gosto dos equipamentos e do Micoli, pronto. Quanto a Portugal, que vai lá estar, passa-me ao lado. Ó crime dos crimes! Que o meu filho não leia semelhante heresia! Mas faço questão de tornar público que eu não irei torcer por Portugal. Aliás, pelo SCP, ou seja: Scolari Clube de Portugal. Não e pronto. Viva a Itália, o Irão e todos os que lá estão. Menos os do Filipão. PUM!

de profundis

Oiço o tema “Amélie”, do filme "O Fabuloso Destino de Amélie", e nada tenho para fazer. Estou longe de casa e a cama do hotel está longe da minha vontade.
Não me apetece fazer nada. Podia ir ao “Terreiro” beber cerveja e olhar o castelo de Leiria que, na noite, fica mais bonito, mais castelo. Podia estar num bar qualquer da Batalha a ver pessoas bonitas, a ouvir a música estafada dos bares de gente (porque há poucos bares de não-gente) quase sempre cheios desses seres sorridentemente banais que enxameiam os sítios de se beber, demasiadamente bonitos e muito bem vestidos, perfumados, barbeados, usando cores vivas nas malhas de pouco pano. Mas detenho-me, quieto, quase sonolento a ouvir música. E a fumar. E no entanto podia fazer tantas coisas de que desejaria fazer aqui, se não estivesse aqui, se é que estou aqui.

quarta-feira, 7 de junho de 2006

conspirações da alma III

Vinte anos. Passaram vinte anos e pronto. Aquela viagem ficou guardada, como todas as viagens, e agora estamos mais velhos. Todos os poemas do mundo não servem de nada. Todos os caminhos, todas as árvores e todos os rios não chegam para abraçar esta corrente de memória, esta lembrança indelével. Passaram vinte anos e as asas levaram-nos. Os ventos fortes, tempestuosos, levaram-nos para longe e ficaram os sonhos, os desejos, as angústias e a memória. A menória daquilo que foi e deixou de ser. A menória como um filme mais belo que todo o cinema do mundo. A memória que me faz sorrir hoje como há vinte anos. E se o sol aparecer de novo, então valeu a pena. Sorrir é uma coisa que vale a pena. Pela memória.

segunda-feira, 5 de junho de 2006

e agora, politicamente incorrecto...

Quer me parecer que este que vos escreve anda numa onda completamente anti-nacionalista. Que Angola ganhe para eu ver os angolanos gritarem bem alto: "Portugal é nosso!"

peregrinação

Querido blog, hoje volto à estrada quente e cansativa. Mais uma semana a coleccionar terras e localidades, a cultivar clientes, que sou agricultor sem charrua mas cuido saber arar esta terra dura, efémera. Irei a Pinhal Novo, a Sines, a Sesimbra, e por essas terras acharei um pequeno plano, uma chaminé, um beiral, uma ou duas cegonhas apaixonadas. E regressarei satisfeito, como a águia que volta ao seu ninho para cuidar dos seus. Depois deixo-me estar, atento à paisagem e aos lagos e aos montes da vida. E volto a andar. Sempre a andar, eu, peregrino sem santuário.

sábado, 3 de junho de 2006

dos despertares...

Acordei. Bebo "Pedras", sabor Framboesa e Ginseng. Uma água doce para temperar o meu gosto, perfumada e fresca. Em mim tudo é fresco na Primavera.

sexta-feira, 2 de junho de 2006

Já agora, façam o favor de comentar isto

Numa aula de substituição a professora incumbida dessa aula decidiu que tinha de se ausentar da sala, não sei bem porque motivo foi. Obviamente que aos miudos, sozinhos, só lhes lembrou uma coisa que é a coisa que lembra a todos os miúdos quando se acham em tal situação: algazarra. Quando a professora chegou e viu aquele ambiente decidiu marcar uma falta disciplinar colectiva. Numa primeira fase levaram todos por tabela, mesmo aqueles que estavam inocentes. Depois o Conselho Executivo mandou retirar a falta colectiva e encomendou que os alunos fizessem um relatório individual da ocorrência. Gerou-se ali uma mole de acusações: este fez isto e aquele fez aquilo. Ao outro, porque eu nem gosto dele por ele ter um telemóvel, vou acusa-lo. E assim por diante. Na mão dos relatórios, o Conselho Executivo decidiu que se mantivesse a falta disciplinar apenas aos alegados faltosos, os pestinhas. E quem foram os faltosos? Os acusados pelos colegas, pois então. E a veracidade? E a equidistância? E onde estava o Professor? O Auxiliar de Educação estaria de baixa? Era hora de tomar châ? Ninguém sabe. Aconteceu uma forma surrealista de se fazer justiça. Acham que isto é credível? Acham que os miúdos ficaram com a noção de que fora feita justiça? Comentem por favor. Ao meu filho não foi marcada falta disciplinar.Teve sorte? Devo ficar contente? Sei lá. Sabemos lá...

e se a bola é redonda porquê insistir que é quadrada?II

Caro besugo, infelizmente tu és frontalmente contra o sistema de comentários, o que me obriga a gastar um post deste meu excelentíssimo diário para te responder. Sabes, amigo lagarto, eu chamei “funcionária” a uma professora que se comportou como tal enquanto directora de turma, não enquanto professora. Também tenho familiares professores e mais, a minha mulher é Licenciada em Ciências da Educação. E deves saber que uma mulher fala com o marido sobre essas coisas do ensino e das reformas e um marido, como deves saber, gosta de ouvir a sua mulher para além dos apreciados carinhos e das solicitações para retirar o carro da garagem. Adiante. No teu caso, como médico, jamais te chamaria funcionário. Mas se estivesses a exercer qualquer cargo administrativo, executivo ou não, serias sempre um “funcionário” no tempo em que te dedicarias aos expedientes do ministério da saúde, etc e tal. Portanto, não considero, nem de longe nem de perto, que tenha sido menos cortês para com a classe dos professores, embora esteja convencido de que muitos professores deveriam fazer testes psicotécnicos antes de se lhes ser entregue a responsabilidade de exercer a prática do ensino. No mais, caro besug,o estamos conversados. Tens carradas de razão, sim senhor. Não quis ser mau para a classe, com certeza que não. Pretendi apenas denunciar este estado de coisas que grassa nas escolas do ensino básico e que tenho vivido de muito perto e devido a um vasto conjunto de factores: o meu filho é delegado de turma, logo tem assento nos surrealistas processos disciplinares. A minha mulher é a representante dos pais para este tipo de casos, logo tem assento nos caprichosos processos disciplinares. Parando aqui, dou-te já um exemplo que me ocorre assim de repente que eu sou um gajo de repentes, como sabes. Num processo disciplinar a um miúdo da turma do meu filho, a “funcionária” do conselho executivo (que é professora mas que não dá aulas porque está ali naquele gabinete a mandar que se façam mil mais um relatório sobre a forma mais ao menos supinada com que determinado aluno estaladou determinado colega) perguntou ao meu filho qual o castigo que se deveria dar ao colega. Queria que o miúdo falasse, para que ficasse escrito, entendes? A um miúdo de 11 anos pode pedir-se tudo, mas não lhe peçam para ser juiz, não obstante a sua capacidade de ser honesto e ponderado. Valeu ao pequeno que a representante dos pais ali presente intercedesse junto da mesa para que se evitasse semelhante parvoeira.
Não sei, besugo, se fui capaz de ser ilustrativo com o que aqui te conto. Sei que não falo de cor, e acho que não é apenas e só por ser o meu filho. Também é, claro. Mas podia ser o teu ou o da vizinha. Eu tenho estado por dentro e só me dá vontade de rir quando olho para o que leio e oiço e confronto tudo isso com a realidade dos factos que tenho vivido. Acontece também que estou a ponderar seriamente em matricular o meu filho no Colégio dos Carvalhos, embora isso me custe os olhos da cara porque sei que, ali, a padralada ainda funciona, ainda tem algum bom senso e isso deixa-me descansado. E também o que valem uns olhos da cara para o bem dum filho nosso?
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