terça-feira, 27 de novembro de 2007

difusões

Como naquele conto de Oscar Wilde também eu desejo por vezes que algumas pessoas que me rodeiam não tivessem coração. Não padecessem nem perecessem e que a sua missão não fosse mais que fazer-me rir e brincar comigo sempre que eu quisesse. Não precisariam de ser bonitas, apenas práticas e muito disponíveis. E como naquele outro conto do mesmo autor, gostaria que uma bruxa de cabelos cor de ouro rubro me oferecesse um punhal com cabo de serpente que eu levaria comigo e numa noite de lua cheia eu pudesse cortar a minha sombra e despedir-me da minha alma. E por certo a minha alma desprender-se-ia de mim sem nada reclamar. Não me visitaria mais e eu, assim, poderia enfim mergulhar no oceano dos meus sonhos e beijar os lábios molhados de uma sereia.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

prazeres

Bom, isto não é para se dizer mas acontece que eu sou uma puta e digo tudo, mesmo coisas que não se devem dizer. Este fim-de-semana virei o barco que é uma coisa que eu faço de quando em vez mas já não tinha memória da última.
Virar o barco é uma coisa bárbara. Um tipo fica assim a modos que com muitos calores e de repente apanha-se prostrado sobre uma sanita, o mais kunderiana possível já agora e que me deixe ver as entranhas da terra mais o inferno e as chamas que ardem de um fogo irresistivelmente atraente, e enquanto deita tudo borda fora, a alma inicia o seu único e verdadeiro momento de indispensável reciclagem.
Pronto, foi isso; é isto que me acontece sempre que viro o barco. Fico liso na mente, asseado na compostura e remeto-me sempre para as coisas da alma. Depois faço um Spa de infusões quentes, uma sauna de chá verde e umas bolachinhas maria. E deixo-me ficar muito quieto e talvez compre um livro de contos. Tão bom!..

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

despertares

Hoje despertei entranhado num apetite diferente. Comi bananas e nozes e bebi chá lúcia lima. Desalbardei Coltrane do leitor de CDs e lá voltei eu ao meu velho e grande amigo que me visita tantas vezes nestes dias de chuva. Sussurra-me coisas, este cabrão. Desafia-me a dançar de olhos fechados. E eu danço num balanço torto e deixo-me sorrir como se soubesse onde fica o lugar da felicidade.

domingo, 11 de novembro de 2007

andamos sempre!

Carvalhos já tem uma igreja. Carvalhos, que tem tudo não podendo ter nada, porque está lá tudo menos o mais importante, a independência formal da freguesia de Pedroso, inaugurou ontem o Santuário do Coração de Maria. Um belo recinto espiritual cuja obra nem é da Junta de Pedroso nem é da Diocese do Porto. É uma obra de pessoas que acreditaram ser possível uma obra. Uma obra que mostra finalmente alguma convergência, algum sentido de unidade e orgulho, porque não? E prova que se podem fazer coisas, que já não é necessário esperar por mais uma geração para que haja mudança, para que as pessoas se possam rever num ideal que não é, não senhor, revolucionário, que não serve orgulhos torpes e guerras cegas de poder. Esta nova igreja, que eu vejo da minha janela, pode significar muitas coisas. Para mim, que não sou um caso sério em matéria religiosa, significa um ponto de partida para o caminho da razoabilidade. Um símbolo de visibilidade e autenticidade de uma gente que todos os dias ajuda construir uma identidade própria e irreversível: Os Carvalhos!

sábado, 10 de novembro de 2007

miserável honestidade

O tipo seria hoje um homem bem mais realizado, não fosse a miserável honestidade a sua principal característica. Dizem-lhe as vozes da nobre arte do elogio que essa qualidade é a melhor coisa que um homem pode ter. O tipo sorri e engole miseráveis sulcos de honesta saliva, cujas enzimas parecem trespassar a alma ingénua como se tal virtude pudesse bem ser triturada qual simples bolo de arroz. O tipo sabe o que perdeu, o que perde todos os dias, e entrega-se às mais miseráveis e desonestas das emoções: a nostalgia. Sim, porque o tipo sente. E sente a nostalgia das coisas que não tem, dos momentos que não vive, das almas que não toca por causa dessa miserável honestidade. Dessa coisa colorida que o torna cinzento, como se não houvesse mais cores no mundo...

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

de lírios no meu tel visor

Sócrates e Santana na Assembleia da República em dueto do "Ópiparó.." em versão Pimba (prefiro a versão Cantares Alentejanos!). À noitinha os azuis ganham e os vermelhos perdem. Ópiparó!....Ópiparó...Cantares Alentejanos seu Camacho!!!
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