segunda-feira, 27 de setembro de 2004

Hoje almocei com o Hernâni e o Fernando, no café Perestroika. Falámos um pouco sobre quase tudo. E falámos de como somos uns queridos trintões e um tanto amalucados. De modo que resolvemos começar a desenhar um “ very select Christmas dinner”. Bem sabemos que a frase é meio aparvalhada, mas foi o que saiu.
A coisa está a ser pensada, dizia eu, e, a realizar-se, será sempre depois do dia 15 de Dezembro. Um jantar organizado por três malucos só pode ser muito selecto, a iniciar à meia-noite e com direito a um “special gift”.
Obviamente não será caro e jamais em caso algum poderá o evento conter laivos de maçada. Ai de nós, estes trintões, magarefes da coisa lúdica, se deixássemos cair um único pingo de monotonia neste lindo pano do melhor linho que sois vós, amigos da blogosfera. Por isso estai atentos ó prazenteiros da borga. Aguardem por mais detalhes e espero que este evento mereça a vossa simpatia.

domingo, 26 de setembro de 2004

(longa pausa)...respirar, muito, apontar o olhar, escutar, suar, seguir em frente, sonhar. Um dia (longa pausa) passa a uma velocidade rara. Ela mesmo. Um dia passa...(longa pausa) um dia.

sábado, 25 de setembro de 2004

Porque hoje é sábado, de resto, sabe-me melhor o amanhecer. Acordar relativamente tarde, comer uma maça apressada e ler um ou dois jornais. Tudo na mesma.

O meu amigo de todos os momentos nunca mais anuncia a sua vinda a Portugal. Aquele homem que um dia ouviu Alfredo Marceneiro e disse “isto é o verdadeiro fado” tarda em vir. Por este andar vou ficar ainda mais velho do que ele, só de esperar.

Hoje temos um desafio de futebol “à moda antiga”. Já tenho saudades daquelas frases prenhas de orgulho que o Aviz deixava cair na sua “pantalla”.

E agora algo completamente impossível de aparecer nos textos de gastronomia que empestam tudo o que é revista e suplemento burguês: Pizaria Michel em Seixas, Caminha. Alguém lá foi? Privar com aquele napolitano maluco que ancorou à beira Minho (o rio) é qualquer coisa de épico. Bagaço para nós e amareto para elas. Brindemos pois.

sexta-feira, 24 de setembro de 2004

Sentado ao balcão, de costas para a televisão, bebia cerveja e pensava na vida. Filha da mãe da vida, da minha e da de todos. E depois as horas passam e a gente vê-se por aí e sorri: “olá como está?”, e cumprimos horários e compramos gasolina e fumamos e telefonamos muito. E recebemos mensagens estúpidas e rimos porque apenas achamos piada. Nem sabemos porquê, achamos piada e pronto.
E a vida está fodida. Trocamos uma nota de vinte e, de repente, três ou quatro moedas apenas. Mais tabaco, outra cerveja e a televisão fala debates de políticos. E os locutores dizem: “Portugalce”. Estão a ficar parvos esses locutores de dicção “embrochada”.
Não percebo onde vai dar isto tudo. Em casa oiço as músicas da minha filha e descubro coisas giras.
E a vida está fodida e cada vez mais há banda larga nas casas dos portugueses. Eu quero fazer um download doutras coisas que já não tenho. Do meu pião de madeira, do arco e da gancheta, do jogo da cabra cega. Não há, pronto.
Até logo.

quinta-feira, 23 de setembro de 2004

recuerdos

Segunda-feira de uma semana recente, Valência. O meu telemóvel já me tinha dito que eram seis horas da manha (espanholas). A malta levantou-se e rapidamente se aprontou para rumar a Sagunt, onde nos esperavam aquele par de lindas ninfas de que já aqui dei conta.
Tomei a palavra e comuniquei ao grupo que me ia embora. Que dissessem a quem de direito que eu tinha que me apresentar em Portugal. E assim foi, o grupo partiu e eu fiquei ali a arrumar o meu saco.
Já na cidade, parei numa mercearia e pedi o "marcador" emprestado. O precioso "marcador", que garbosamente apontava os preços dos "melons" e das " naranjas", estava longe, por certo, de se imaginar a debitar, garridamente, as palavras “ Madrid” e “Portugal” em dois cartões grandes e castanhos. Dois dias depois uma carrinha parava à minha porta, nos Carvalhos. Era a ultima das três boleias que me trouxeram a casa.
Trazia o saco um tanto mais pesado, carregado que estava com uma enorme folha de “canabis” que me fora gentilmente oferecida pelo Raul, em Madrid.

Engraçado, agora todo o mundo conhece a Compta, e pelos piores motivos. Eu já conheço a Compta há muitos anos e sempre soube das suas ligações ao PSD. Como também sabia de imensos negócios que eles ganharam à custa disso. Mas não são os únicos, meus queridos. De quantos erros ou falhas precisaremos para que venha à baila aquilo que toda a gente sabe e finge que não sabe e só acusa quando lhe dói na pele? Quantos negócios são feitos pela politiquice? Porque será que Dias Loureiro é presidente de uma multinacional sueca em Portugal? E outros mais? Procurem, vá lá, não custa nada.

Pois eu tenho uma excelente recordação da Compta e vou saúda-los por isso: uma vez convidaram-me para uma apresentação de uns routers da Motorola. Foi no Hotel da Lapa no Bairro Alto. Graças à Compta eu passei um dia de lorde, almoço no jardim da piscina e tal e tal (devo dizer que gamei os frasquinhos todos de sabonete creme da casa de banho – coisas de necessitados).
Obrigado Compta.

juro

Juro que gostaria muito de comentar o post que o Ma-Schamba dedicou ao "food-i-do". Não o farei porque entendo que há certas coisas que são escritas com tanta verticalidade que não devem nunca serem assassinadas com qualquer tipo de comentário.

atrasos

...e subitamente verificamos haver dois profissionais do mesmo oficio com uma grande diferença a separa-los: um atrasou-se um dia, o outro atrasou-se seis pontos.

terça-feira, 21 de setembro de 2004

Claro que nos nossos dias o burguês médio prefere uma empregada doméstica de origem eslava ou mesmo romena. Mais submissas, quase silenciosas e sem qualquer poder reivindicativo, elas trabalham que se fartam e nem se importam com essa coisa horrível que são as horas extraordinárias. E saber que os patrões delas, médicos, professores e outros funcionários públicos, lutam tanto por menos carga horária e melhores salários.
E saber que os patrões delas as acham um modelo de empregados. E saber que os patrões delas vão de férias para paraísos orientais e ficam deslumbrados com tantos funcionários de volta deles, que lhes fazem a cama mal acaba a “queca” da ordem, que os levam em ombros para as jangadas de forma a não molharem os pés, que lhes limpam e relimpam os sapatos no hall do hotel, sempre com o mesmo sorriso e sem reclamarem o que quer que seja. Que têm um emprego pago a um euro por dia e dão graças aos turistas ocidentais, que é por causa deles que não estão nos arrozais.
E estes ocidentais adoram falar disso, das ucranianas educadas e submissas, enquanto lamentam a injustiça de terem que trabalhar tantas horas por semana. Do salário nem vale a pena falar.
Ontem fui a Lisboa e gostei. Passeei por Sintra e acabei a jantar num restaurante lisboeta muito bom. Do vinho lembro-me que era tinto, alentejano e premiado em Bruxelas (o nome era tipo “casa de zagalo”, ou coisa assim).

Esta frase é muito burguesa. Ignorem-na por favor.

domingo, 19 de setembro de 2004

Se eu te desse um beijo grande de certo não o recusarias.
Um beijo grande, molhado, era o que eu te daria, se pudesse.
E tu ficavas muito felina a saborear o meu sal.

de espacio

Domingo. Não se sabe bem se o espanhol vai receber uma carta, informando-o do seu despedimento compulsivo, ao abrigo da lei do “período de experiência”.
E também não se sabe muito bem em que época vivemos, tal a fartura de “conversas em família” que os governantes nos atiram, à noitinha, através das nossas queridas televisões.

Oiço Tom cantar “…i must be insane” e concordo com ele. Não fossem as notas do saxofone sossegarem-me, por certo já andava de colete de forças. Vagueio por aqui e reencontro uma nota de piano, ao ritmo quaternário, “ de espacio”, e proponho-me brindar ao sol que vejo da minha janela. Bom dia.

sexta-feira, 17 de setembro de 2004

visto dali...

Descia a “General Torres”, vidro bem aberto, a saborear a brisa que subia a escarpa. Lá bem ao fundo o casario encavalitado sobre o Douro e salpicado por pequenos quadradinhos brilhantes, tomava conta de todas as minhas emoções. Cor, muita cor. Amarelos ocres, brancos e ligeiros tons de pastel. O Porto, meus senhores, visto dali é único. Não há vista no mundo inteiro mais deslumbrante e viva. Não há. O Porto, meus senhores.

quarta-feira, 15 de setembro de 2004

apdeites

Recebi um e-mail do João Pedro Graça, que agradeço, reclamando justiça contra o plágio do excelente Apdeites e de tudo aquilo que eles têm desenvolvido sem fins lucrativos, penso eu.

Caro João Pereira, a solução é simples: denuncie os plagiadores, escreva o nome deles e deite fora o eufemismo "concorrencia". Faça-se uma campanha contra essa corja, um boicote. Crie, caro João, um banner qualquer contra essa gente que eu coloco-o aqui no meu blog.

sexta-feira, 10 de setembro de 2004

valencia, terça-feira

Subitamente uma mole de agua debateu-se sobre o porto, diluviana. As ninfas olhavam, surpresas, a gente que procurava um abrigo. Eu tirei a camisola manchada de uma mistura de po de ferro com agua e corri. As botas pesadas, nao me detiveram. A agua que caia era forte e quente, de modos que senti um gosto terno. Parei junto ao carro, entrei e liguei a "chofagem" no maximo. O radio tocava uma balada espanhola. Olhei as ninfas e sorri-lhes. Elas nao repararam, sobranceiras: "Hay que ser duro"

domingo, 5 de setembro de 2004


Solo voy con mi pena
Sola va mi condena
Correr es mi destino
Para burlar la ley
Perdido en el corazon
De la grande Babylon
Me dicen el clandestino
Por no llevar papel

Pa una ciudad del norte
Yo me fui a trabajar
Mi vida la deje
Entre Ceuta y Gibraltar
Soy una raya en el mar
Fantasma en la ciudad
Mi vida va prohibida
Dice la autoridad

Solo voy con mi pena
Sola va mi condena
Correr es mi destino
Por no llevar papel
Perdido en el corazon
De la grande Babylon
Me dicen el clandestino
Yo soy el quiebra ley

Mano Negra clandestina
Peruano clandestino
Africano clandestino
Marijuana ilegal

Solo voy con mi pena
Sola va mi condena
Correr es mi destino
Para burlar la ley
Perdido en el corazon
De la grande Babylon
Me dicen el clandestino
Por no llevar papel

Clandestino, Manu Chao

sábado, 4 de setembro de 2004

Acordei cedo e depressa sosseguei. Estava em casa. Por estas bandas o sol é mais brando e muito mais agradável. É o nosso sol, enfim. De modos que dei algumas voltas pelos sítios do costume, revi as caras do costume e facilmente percebi como é bom o reencontro com os nossos cantos e as nossas coisinhas. Segunda-feira voltarei a Valência e enfrentarei, com denodo, aquelas duas ninfas do mediterrâneo, aquelas torres de betão que me inspiram coisas homéricas. Delírios.

sexta-feira, 3 de setembro de 2004

uma noticia apenas

Em Espanha, durante tres semanas, apenas li uma noticia sobre Portugal: o caso do barco do aborto. E na televisão referem-se a Deco como "el jugador portugués". Vá lá.

tanques de Sagunt, Valencia



E dizia eu, há dias, que este trabalho é duro. E é muito mais duro, não pelo carácter robusto das funções propriamente ditas, mas sim por via da forma perfeitamente “ kusturikiana “ que guarnece as relações laborais entre as chefias e os subordinados (aos amantes de Hegel fazia-lhes bem uma observação cuidada deste tipo de relação senhor/escravo, em pleno terceiro milénio). A hierarquia existe sempre, claro, desde que estejamos perante determinada relação profissional. Mas quando tudo é básico, incluindo o manuseamento das pesadas barras de ferro, não há qualquer tipo de contemplações.“Hay que ser duro” é a expressão mais utilizada durante o dia de trabalho.

E depois existe um factor muito importante nesta dialéctica: o salário. Um cheque mensal cuja cifra suplanta todo o tipo de humilhações ou injustiças. Um cheque quase impossível de obter numa linha de montagem da Yasaky Saltano, ou da Lameirinho. Um cheque destes fala sempre mais alto.


PS: Um dia destes alguém citou Che Guevara, lá na obra: “ A vida só é dura para quem for mole”. Ora anda-me. Sublime intenção, esta, de pegar numa frase tão metafórica e atira-la assim, completamente despojada de sentimento, do cimo de um andaime: tu tens que ser mais duro que o ferro que manuseias, o trabalho só será duro se tu fores mole.

quinta-feira, 2 de setembro de 2004

regresso

Valencia. Hoje regresso a casa, ao meu lar. E darei inicio, aqui, a um conjunto de textos sobre esta experiencia. Até já.
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