sábado, 11 de outubro de 2025

 Hoje apetece-me partilhar um excerto de poesia de Miguel Torga que é, para mim, o maior escritor português de sempre. Leiam-no bem e apreciem a atualidade que ele tem.

Não que a mulher de hoje seja "do campo" apenas, mas sim e essencialmente porque ela é agora uma mulher do campo onde há betão e asfalto e buzinas e escritórios e fábricas. Não que a mulher de hoje seja "rude e silenciosa".
Mas é "cheia de horizontes largos", cada vez mais, e continua "de ferro", continua a não se vergar e cada vez mais se levanta e é "lume que aquece"...
"Mulher do campo, rude e silenciosa,
Com os olhos cheios de horizontes largos,
E as mãos gretadas como a própria terra,
És tu que fazes a seara e o pão,
E dás ao homem a força e a ternura
Que sustentam o mundo.
Terra dura, mulheres de ferro,
Que o vento não dobra nem a fome verga.
Nos vossos olhos há o frio da serra
E o lume que aquece o lar.
Maria, mulher da aldeia,
A tua vida é um rosário de sol e lama.
Lavas, rezas, lavras, calas
E no fim ainda dás graças."
Miguel Torga

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