Como andas?
Olha, eu fui ver Bob Dylan a Lisboa. Imagina tu que
andei eu estes anos todos a criar um filho que deu nisto de gostar muito de ouvir
o Velho Robert e, assim, lá resolveu comprar dois bilhetes e “Ó Tinoco, vamos a
Lisboa ver Bob Dylan”.
Confesso que gostei, Carlos. Principalmente porque
isto tem muito a ver com uma certa tomada de posição no que toca a criar
filhos. Tocar as canções com eles a crescer, som alto de preferência, Zappa,
Dylan, Doors, Pink Floyd, e eles a crescer e a resmungar. Tom Waits
tantas vezes, “Um dia ainda ides acabar por gostar de Tom Waits” e esse dia
chegou bem cedo e surpreendente, ou não, porque estes músicos, estes autores, estes
artistas também hão-de ser ouvidos pelos filhos dos meus filhos, e pelos netos,
de tão eternos que são. E estando ainda alguns vivos, há que ir. Há que não
perder.
E gostei, Carlos. Gostei da viagem que fiz com um
filho homem ao meu lado. Das conversas que tivemos, das pausas, das perguntas, das
expressões. Depois veio o concerto e o homem é aquele que tu bem conheces e que
já viste tocar no Porto, há muitos anos, e me disseste que ele é diferente. Que
não quer cá palminhas e folclore “olá Lisboa!”. Nada! O homem está em palco,
acendem-se as luzes, canta, toca, exprime, enfim, a sua arte que não é bem a
arte de um entertainer apesar de o ser. É uma arte que não é bem um concerto
musical apesar de o ser. É uma arte que vem de um artista raro, muito, muito
raro.
E portanto gostei. Principalmente de ver o meu
filho a gostar quase muito mais do que eu e dos outros cotas que encheram o
pavilhão.
E tu, como andas? Sempre apareces um dia?
Nós que vimos juntos Neil Young, Lou Reed e que já
vimos Dylan em momentos diferentes, podemos sonhar ver um dia Tom Waits. Mas para
isso seria preciso que tu viesses cá e que ele não acabe por se fartar desta
vida. Tenho esperança, enfim, de vos ver aos dois.
Um abraço, Carlos. Um grande abraço.
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