segunda-feira, 25 de agosto de 2003

Romarias

Ontem na minha terra, Carvalhos, celebrou-se a romaria em honra de S. Bartolomeu. De maneiras que recebemos a família lá em casa, onde foi servido um excelente bacalhau com natas, magnificamente preparado pela minha mulher. Na minha terra há algumas festas e romarias. A maior é a da Nossa Senhora da Saúde que teve o seu ponto alto no dia 15 de Agosto, o feriado de excelência de todos os Verões. E todos os anos estas romarias sucedem-se, onde impera a “feira” naquilo que mais empobrece essa tão antiga forma de mercar. Todo o perímetro da festa fica inundado por vendedores de roupas, quinquilharias e comes e bebes verdadeiramente inimigos da saúde humana. Ele é altifalantes apregoando o melhor preço, ele é cassetes estridentes anunciando os melhores êxitos pimba, enfim, ele é um tal regabofe que dá dor. Depois também temos o lado sacro da coisa, onde se misturam os serviços religiosos da praxe com os pagadores de promessas a oferecerem um sem número de réplicas do corpo humano à padroeira. Vem isto a propósito na medida em que eu tive o distinto prazer de visitar uma outra romaria, em honra a Nossa Senhora da Graça, mas que se realizou no primeiro fim-de-semana de Agosto em plena serra de Montemuro, numa aldeia que já aqui referi e que se chama Gralheira.
A Gralheira é uma aldeia da Beira Alta instalada lá bem no alto da serra de Montemuro, Cinfães, mas que bem podia pertencer a Castro D’Aire. Nessa aldeia há tudo um pouco daquilo que guardamos no nosso imaginário, quando se trata de pensar uma aldeia portuguesa. Também tem progresso e, nestas alturas, está cheiinha de emigrantes, sendo muito notória a presença dos filhos da terra que partiram ora para o Porto ora para Lisboa. Mas o valor daquilo é a teimosia de quem lá fica, de quem lá tem o seu bocado de terra e umas cabeças de gado, em manter o espírito da festa e os seus rituais sacros e também pagãos (porque não?). “ O Durão Barroso pode ter a certeza que não come melhor do que eu. Tomara ele comer destas batatas e destas tronchudas que não sabem o que é adubo ou coisa assim “, dizia-me o “Cinco Estrelinhas” já feliz por tudo e por me ver feliz também. Aqui a feira não existe, o barulho das cassetes piratas não ecoa nos montes e nem sequer há sinais de “carros de choque” e outros divertimentos do género. Na Gralheira ouve-se a banda filarmónica logo pela manhãzinha a passear a aldeia, vai-se à missa matinal e, de seguida, cada família “resgata” um ou dois músicos a quem se dá de comer daquilo que a mesa tem. E os gralheirenses sabem receber como poucos. O cabrito e os enchidos parecem qualquer coisa de exótico, que não existe, por tão mal representados andarem na industrializada urbe deste país. Logo terminado o repasto apetece mesmo ir até ao coreto ver a banda. E que bem se ouve essas modas e marchas que espalham perfume nos montes, alegram as caras coradas daquela gente e embebedam os visitantes, como eu, num certo estado de alma que relaxa, que amorna o espírito e estimula a alma.

Muito mais haveria para contar sobre esta gente. A alma hospitaleira deste povo e o sentido de tradição aliado aos valores da vida e da comunidade. Por mim adianto que recebi muito. E devo dizer que não há nada melhor do que tais romarias sem a mania das grandezas e sempre dotada da melhor das tradições: as pessoas.

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