segunda-feira, 9 de abril de 2007

Dr Knock, ou a importância de se chamar doutor

Este país é um país de "Drs Knocks" que para quem não sabe é uma personagem de uma peça de teatro que eu representei nos tempos em que eu era para ser doutor, que na verdade era um charlatão que se passava por médico. Vivemos, pois, num país cujos cidadãos ejaculam títulos académicos, na sua maioria superlativamente pronunciados, para assim darem alguma cor ao bafio das suas excelentíssimas capacidades intelectuais. E falo nisto porque sou catedrático nesta matéria. Não tenho curso superior e não interessa agora dizer-vos porquê, mas já me chamaram de tudo. Doutor, Engenheiro, Jornalista, e inclusivamente Padre. Bem sei, portanto, a importância que se dá ao raio do título académico, seja ele forjado ou simplesmente conquistado com muito suor. Na minha profissão lido com uma certa tipologia de gente da classe "A+A+A", isto é, o top dos endinheirados desta parvónia, e percebo bem a estranheza do titulado sempre que eu o chamo de senhor fulano de tal. Bem sei que o senhor fulano de tal há-de ser engenheiro ou doutor ou até mesmo industrial, que é o título académico para os novos ricos, embora ninguém os trate por senhor industrial fulano de tal. A menos que obtenham passagem directa para Comendador sem passarem pela prisão.
Em Espanha, por exemplo, o doutor Sanches é tratado por Sanches e o engenheiro Manolo é tratado por Manolito... Já em Portugal, os licenciados são tratados por doutores, os bacharéis são tratados por doutores, os professores de moral são tratados por doutores e os professores de EVT, serralheiros e carpinteiros recauchutados, são também religiosamente tratados por senhores doutores. Tudo a título de "doutor da mula russa". Até os vendedores de "acesso directo" da Novis se acham no direito de serem tratados por "voice engineers". E os cangalheiros, e os portageiros (grande profissão esta), e os porteiros de discotecas? Fácil. Se forem a um desses restaurantes de rodízio brasileiro estou certo de que serão abordados por um empregado de mesa do sertão que lhes dirá insistentemente: - vai uma caipirinha doutô? até ia...

4 comentários:

Dulce disse...

Até ia uma caipirinha, doutô, uma tb para mim!

Anónimo disse...

hoje sou a D.Rosa ... mas por ter o nome de Rosa ... e numa outra função que tive, foi diversas vezes posta de lado ... porque Rosa , era nome de criada.

Belo.

Anónimo disse...

num país de doutores e engenheiros escasseiam já pessoas ke sabem fazer coisas como serviços de pichelaria e afins...e os ke existem já se fazem pagar mt bem

daki a uns anos vamos ser um país de mestres...urraaaa

´nao gosto mt dos americanos, mas tenho ke concordar c/eles numa coisa...doutores são os médicos...o resto são mister. E mt bem

beijo

Anónimo disse...

nesta história toda dos "dotores e enginheiro" só me chateia mesmo o facto do DR no cartão de débito ou crédito significar simpatia da encanzelada que nos atende enquanto que o cartãozinho com as letrinhas na nossa graça apenas significam apenas um grunho de desprezo... enfim será que temos o país que merecemos?

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