segunda-feira, 21 de novembro de 2022

 Fez ontem quinze dias, andávamos nós a passear por terras do nordeste transmontano onde gastámos um voucher da odisseias, aproveitando assim para conhecer Puebla de Sanábria, em Espanha, que adorámos, e reviver algumas coisas de Bragança, como o seu belo castelo, a Praça da Sé e a velha Casa do Professor, que está fechada, não existe mais, e que tão belas recordações nos deixou por ocasião de um almoço de colegas de curso da minha mulher, e que já vai para aí há uns bons trinta anos. 

Em boa verdade este texto não é para falar deste roteiro em si mesmo mas sim para vos contar umas coisinhas quase sem importância, não fosse eu um tipo de dar importância a esses pequenos relevos que muitas vezes nos passam ao lado .


Coisinhas essas que têm a particularidade de terem sido vivenciadas por nós e que são uma casa de turismo rural e uma casa de petiscos. E das quais só uma semana e meia mais tarde, desta feita numa visita a um cliente em Vimioso, fiquei eu a saber coisas que não consegui saber quando lá estive, em Bragança. 

Parece complicado mas não é. Na verdade, tudo isto só acontece na minha vida  por via da minha veia conversadora. É que eu falo de tudo, sobretudo de coisas que me despertam pequenas prazeres e que depois transformam a conversa num manancial de "a propósitos* que nunca mais acaba.


Ora, estava eu a contar ao senhor R, e à sua simpática senhora, da minha visita ao Nordeste Transmontano, não deixando, claro está, de fazer referência á casa onde pernoitámos, a casa do Soto na aldeia do Milhão, bem perto de Quintanilha.

 - É a casa do Dr. Calado, o escritor, informa-me a senhora professora

Quem nos recebeu foi um tal senhor Fernando, atirei eu.

Ficou-se ali uns momentos sem se saber bem se estávamos a falar da mesma pessoa mas a minha anfitriã tratou de resolver o enigma ausentando-se da sala onde lanchávamos um belo folar de carne feito por ela, umas "lonchas" de bom presunto e um alentejo tinto melhor do que muito bom, para voltar em menos de um minuto com um livro na mão. Era um livro do escritor Fernando Calado. 

O Dr Calado, claro está. 


E eu pego nisto porque afinal de contas eu estava a ser informado que fui recebido na casa do Soto, em Milhão, por um escritor português da nossa língua e que eu desconhecia, pessoa afamada no planalto bragançano, mas que era nada mais nada menos do que um homem simpático, afável, nada dado a tiques de intelectual barato, coisa que, obviamente ele não é. E eu, enquanto trincava mais um pedaço de presunto pensava que aquilo era uma coisa rara e boa de se saber.


Enquanto isto andava ali a entremear a nossa degustação leonesa, veio-me à ideia contar que no tal fim de semana em Bragança também tínhamos ido lanchar a um sitio muito agradável, uma casa de petiscos que se chamava "O Bem Falado" ou a "Taberna do Tio Artur", onde comemos realmente bem, boas alheiras de Bragança, que são as melhores, boa chouriça, uma tigelada de feijoada comida à colher e mais umas coisas para além de bom vinho, e no final até provámos uma bebida, tipo receita à base de cerveja, vinho e açúcar, mas olhem, era mesmo cá uma pinga muito boa e que se chamava "charabanada", vejam bem! Muito boa, a charabanada!

Estava eu ali em Vimioso a lanchar bem e a contar bem, tudo isto no meu estilo que só quem me conhece pode percepcionar e de repente...

- Fechou! 


Eu, o quê?


- É, fechou há dias. o Tio Artur fechou, atirou o senhor R.


Bolas! Não queria acreditar. Então eu tinha estado ali há uma semana, mais coisa menos coisa, e gostei tanto e aquilo fechou?


- É verdade!


E pumbas. Foste passear a Bragança para uma semana depois te achares em  Vimioso a receber notícias fresquinhas das coisas que tu estavas a dar notícia, já para não falar que também ali me confirmaram que a casa do Professor de Bragança encerrou de vez.  O mundo é pequeno, já diz o povo.


Ora, posto isto, estava eu já em viagem para o Porto e lembrou-me de procurar o numero de telefone da "Taberna do Tio Artur" e lá telefonei. Atendeu o marido que me confirmou que a casa tinha realmente fechado e, vai daí, eu pedi para falar com a senhora dele que afinal foi ela que me atendeu e atendeu bem e até me vendeu alheiras que eu trouxe para casa, para mim e para a minha sogra, ai não! 


Então minha senhora, soube agora em Vimioso, veja lá você, confirma-se que realmente fechou a tasca?


- É verdade! sabe, eu ando cansada com isto e como tenho o meu emprego, não tenho vagar para isto, nem eu nem a minha filha, portanto, olhe, fechámos no domingo. Os senhores estiveram cá no sábado e eu era para vos dizer que ia fechar mas nem tive coragem e pensei "é a primeira vez e a última que cá vêm".

E eu atirei, então não há ninguém que queira ficar com o negócio? 

- Haver há mas olhe, eu decidi acabar mesmo, É que está ali o nome do meu pai e, olhe, ele é dos poucos comerciantes cá de Bragança, se não o único, que tem uma rua com o nome dele e eu não quero que um dia alguém venha a estragar o nome do meu pai, por isso resolvi fechar...

Lindo, pensei eu.


Mas olhe, e as alheiras e as chouriças?


- Vamos continuar com esse negócio até ver...


Boa! Então mande para os Carvalhos uma dúzia de alheiras e seis chouriças, 


- Mando sim. Entrego-as no senhor Silva do Restaurante Tira a Rolha!


Maravilha!





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