Yuri é um rapaz da minha idade que eu conheci há dois meses e vive na Grande Leiria. É um cidadão russo, sem muita formação e sem carta de condução sequer, que está cá há bastante tempo em busca de melhores condições de vida, em busca do "eldorado" dos Euros que lhe fora prometido quando, na Rússia liberal, viu suas possibilidades de sobrevivência esfumarem-se por entre as brumas do novo capitalismo selvagem que enferma aquela região. Yuri veio para Portugal, como poderia ter ido para Espanha, e já fala português fluentemente. Mas não está legal, o Yuri, pese embora encontre trabalhos para fazer, mal pagos e outras vezes por pagar, e não obstante estarmos perante um ser humano educado, vertical e competente.
Yuri está a viver num país com tradições sociais mas que caminha rapidamente para o liberalismo selvagem e não percebe bem porque é que não consegue papeis, nem um emprego "normal" nem uma situação de vida sequer próxima dos "bidonvilles" portugueses dos anos sessenta em Paris. "Estásse bem..." é, contudo, a frase mais vezes pronunciada por Yuri.
Ontem soube que, após ter aguentado quatro dias sem comer, Yuri cozinhou erva do campo misturada com farinha. Foi o último e digníssimo jantar deste rapaz de Leste nesta bela praia lusitana; e digo último porque, tecnicamente, o próximo não será hoje. Um repasto que desenjoa no meio de tanta fartura e tantos McDonalds e bolicaus. E ao lado dele tanta gente a pensar nas coisas boas do liberalismo-estásse-bem.
"Estásse bem" Yuri? Eu acho que não rapaz, sobretudo porque tu não és uma ficção nem constas num desses catálogos quaisquer que tão arrojadamente nos nos promovem.
2 comentários:
Arrepiante mesmo!
deixe-me o contacto... se ele não se importar na construção civil. Tenho um cliente de Leiria (pessoa honesta) que talvesz o possa encaixar. Nunca se sabe.
Abraço
Retrato perfeito de muitos Yuris que andam por cá. Mas o que me entristece mais é a atitude dos empregadores portugueses. São desonestos e exploradores. Eu sei que é mto complicado tratar da palelada (já passei por isso) mas não compreendo este abuso e "não se está nada bem" assim
P.S. Obrigada pela musica de fundo, é óptima
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