Hoje apetece-me escrever. Acreditem que há dias em que, de tanta morrinha, a vontade de escrever nem precisa de preliminares. E as palavras caem como morrinha na cabeça de tolo, sem malícia e a cheirar a chuva molhada. Pastelentas e quase inocentes.
E se ligarmos este momento, ao momento mais estúpido e, ao mesmo tempo, mais saboroso da vida de um homem a acordar neste pranto de emoções, neste "emotional weather report", que é o momento em que ficamos prostrados em frente à torradeira, pacientemente à espera que o pão salte, numa exclamação de tão autêntica prontidão, de charme e classe, dependendo muito, neste caso, da coçadela das partes baixas por de entre o pijama "negligé", então esta morrinha vele mesmo a pena, porque se percebe, afinal, que atingimos um carma verdadeiramente "himalaio". Estamos nas nuvens, pois, no momento imediatamente antes do vitorioso salto do pão tostado, daquele instante jamais fotografado, daquela imagem de cheiros e sabores que o cérebro recolhe em amostras pictográficas, que se confundem com o impulso de comer e o outro, o de mijar antes que a torrada salte. Ainda é preciso mijar aquele nico de cerveja da noite anterior, ainda é cedo para a manteiga e o leitinho com café.
Naquele minuto, a nossa vida enche-se de stress. É o minuto mais fundamental e determinante da vida de um homem de quarenta anos.
1 comentário:
Esta cinematográfica angústia do homem antes de saltar a torrada faz-me acreditar que a ressaca é criativa, como a chuva molhada na terra. :)
Enviar um comentário