Ontem vi a fotografia da Rosa publicada na secção de necrologia do Jornal de Notícias. A Rosa tinha sido enterrada dias antes e hoje vai ser celebrada a missa de sétimo dia. A Rosa não era amiga minha. Foi minha colega de trabalho há quase 20 anos e ambos fizemos parte de um grupo de jovens que experimentava o primeiro emprego. Era um grupo de Auxiliares de Educadores de Infância que se ocupava de uma secção muito específica a funcionar na Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental de Vila Nova de Gaia: o Pavilhão dos Profundos.
Ali fomos capazes de ser uns tolos solidários, fomos capazes de gostar uns dos outros, fomos capazes de ser assíduos e responsáveis pela primeira vez. Ali fomos cúmplices e artistas e fomos uns miúdos descarados e fizemos greve e viajámos e partilhámos as nossas glórias. E as nossas desgraças também. Ali vivemos um tempo que eu nunca mais vivi desde que trabalho. A Rosa trabalhou lá três anos, e um dia formou-se enfermeira e casou e teve filhos. Eu trabalhei lá três anos também e fui embora, casei e tive filhos. Deixámos de nos falar, obviamente, porque as nossas diferenças eram muitas. Mas a Rosa foi a enterrar esta semana com 38 anos apenas. Suicidou-se a Rosa. E eu choro por ela e pela vida que ela era em si.
Não sei se ela está feliz mas eu sempre a vi feliz.
E eu olho para aqueles tempos de quando éramos todos uns putos e ergo o meu copo bem alto num brinde à tua felicidade, querida Rosa.
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