terça-feira, 27 de janeiro de 2009

transições ou terapia de regressão

Há os fins-de-semana e a semana laboral propriamente dita. E há a transição do fim-de-semana para a semana útil, embora pouco se fale disso, ao invés da transição imediatamente anterior e que se dá por volta da aurora de todas as sextas-feiras. Pois eu ando a notar certas marcas que persistem obliterando a passagem dos domingos para as segundas-feiras. Aos domingos, pela noitinha, vemos o "conta-me como foi" onde, com nostalgia se calhar, é mostrada a vida dos nossos pais, depois arremata-se com o "equador" onde perpassamos ao de leve pelo período pré-republicano e lá nos vem à memória as matérias que estudámos nos tempos de escola e, cos diabos, ficámos com a sensação de que o país viveu qualquer coisa entre um bordel e uma empresa liberal qualquer. Depois, caminha quente e a transição a surgir. De manhãzinha, café com leite e as notícias da manhã a correr. Tirando o futebol, onde tudo permanece imutável, as restantes novidades começam a ser uma espécie rara de fatalidade: despedimentos e falências em catadupa, numa novela inacabável que nos faz esquecer os tempos de Luís Bernardo Valença e nos transporta para os anos 20. É a crise. A Grande Crise do início do Terceiro Milénio e os argumentos. Os argumentos hilariantes daqueles que falam e procuram explicar o fenómeno maldito do colapso financeiro mundial. É o zénite da transição para a semana laboral. Dezenas de sentenças proferidas com propriedade intelectual por sábios insuspeitos. neo-liberais quase todos e funcionários públicos bem pagos e com ADSL e outros mimos. Tipos que falam sem temor, e sem pudor, contra o estado da nação e os males perpetrados por quem nos desgoverna. E de tão cegos tribunos, de barriga cheia ainda por cima, nunca se lhes leu um "ai", nunca se lhes ouviu um "ui". Falam da crise porque falam de tudo.É esta transição que me anda a inquietar; uma transição empobrecida pela falta de um elemento fundamental para a mudança: a Revolta.

domingo, 25 de janeiro de 2009

duas notas sobre futebol

1) O Braguinha do Salvador enfardou mais uma derrota em casa contra o verdadeiro e único propósito da existência de um presidente Salvador do Braga: o fc porto, o grande graal de António Salvador, que o levou a protagonizar terrível campanha de protesto contra a arbitragem, a propósito do Benfica-Braga de há duas semanas. Desta vez Salvador está encurralado. Afinal, o Braga voltou a ver ser-lhe marcado um golo em fora-de-jogo e teve pelo menos dois penaltis por marcar contra os de azul. Salvador está, assim, a comer do próprio ranho e baba. Nada a fazer portanto. Ninguém estaria à espera de ver um arcebispo rebelar-se contra o papa. Oremos.


2) Já sua santidade, continua imbatível na sua agenda política. Foi a Cesar, terra da fábrica de panelas Silampos e das frigideiras Celar e juntou a sua já habitual comandita para, desta vez, lhes dizer que os adeptos do Benfica do Norte são uns traidores. Pois é verdade! Nós somos uns traidores porque somos benfiquistas. Aguardamos pois por dias terríveis. Inquisição aos nossos filhos, linchamentos públicos na Alameda das Antas, criacão de um Índex talvez, a censurar tudo o que seja escrito fora do universo da Controlinveste com o Manuel Tavares de lápis azul a controlar a blogosfera E o João Marcelino fora do Diário de Notícias que não está a conseguir ser um clone do Jornal de Notícias, porra. Uns fuzilamentos aos pais que levem os filhos ao estádio da Luz e classificação da águia como símbolo de todos os males de entre a foz-do-douro e entre-os-rios. Pobres de nós benfiquistas do Norte. Temos de fugir para bem longe porque a Ku klux Klan não tarda a queimar-nos as casas. Acudam-nos.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

que foge

Ele queria muito partir dali porque achava que lá longe é que seria capaz de renascer e arrumar os pecados em cada pegada desse caminho longo que, tinha a certeza, iria fazer. Na verdade, ele ansiava por mudar de vida mas nada disso podia ser feito ali, onde os pássaros cantam as mesmas canções de geração em geração, onde as ondas do mar batem sempre e continuadamente aquela melodia bucólica e quase rústica. E trágica.
Ele queria mudar, era certo. E para isso imaginava uma viagem longa e para longe. Não queria que o pensamento lhe apontasse a outra viagem, dentro dele e com pegadas e sítios espaçosos para arrumar os seus pecados. Essa viagem qualquer um faz, dizia ele a si próprio. Para ele, mudar significava sair. Ir. Deixar tudo para trás como se esse todo fosse feito de notas dispersas de uma melodia rara e única. E cada nota seria apenas o som que foge e não volta mais. Sem pauta ou assento que se visse. Como podia ele esquecer essa melodia pesada e tumultuosa sem partir? Tem de partir um dia. E para longe.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

obama, ver e acreditar


Eis um novo tempo. De mudança, de novos sonhos e velhos medos. O mundo está a ver a mudança e cada um fica com o seu bocado de história. Participar, comprometer-se e registar a história é o que hoje se pode fazer, como evidencia esta notável imagem do Los Angeles Times. Ontem, milhões de pessoas comuns viram a história mudar. E registaram porque estão atentas, vigilantes e já não acreditam em relatos. Elas vêem e, por isso, elas acreditam.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

chora-se

Ah, esta coisa de chorar! Eu choro muito naquela parte dos filmes mais dramática. Isso é que choro! De resto, essa coisa de chorar faz-me impressão. Chora-se por tudo e por nada. E agora ainda mais, por causa da tal, dessa cria mal amanhada que se chama crise. E chora-se ao ponto de já não haver lágrimas. Quem me dera chorar ao ponto de não haver mais lágrimas. Temo não as ter se calhar. E por isso custa-me chorar desses choros. Prefiro os outros. Montes de lágrimas saltando borda fora, bem naquele momento mais forte. Por exemplo, no resgate do soldado Ryan chorei. Aí sim. Foi um belo momento de incontinência lacrimal. Claro que depois fui mijar e passou logo. Uma mija esperta bota as coisas do coração no devido lugar. E aqueles que choram de mais na mesa do café, na paragem do autocarro, na sala de estar ou na frutaria, esses, coitados, é deixa-los chorar e ir logo a correr mijar grande.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

do Equador

A coisa promete, embora dê a sensação de que no livro deve haver mais acção. Não sei o que lá vem, mas isso é a história propriamente dita. Por outro lado, estou a adorar os excelentes exteriores de época e as interpretações estão muito boas, sim senhor, e finalmente toda a gente pode ver o interior do S. Carlos. Muito bonito!
A personagem do Marco Horácio está cada vez mais confinada ao papel de "messenger 2.1". Merecia um upgrade.

domingo, 4 de janeiro de 2009

olha lá rapaz...

Então Rui Costa? Como é? Estava ali a ver-te, na televisão, a abanar a cabeça. Parecias um asno! Tu que até sabias jogar a bola! Como é? Ainda não percebeste que estás a dirigir uma equipa composta na sua componente nuclear, o meio campo, por uma cambada de nabos? Estou admirado, Rui Costa! Muito admirado! Ainda não percebeste que assim não vais lá? Tu faz alguma coisa rapaz. E rápido! Tu fala-me duro com esse Quique. E trata de encontrar um jogador que pelo menos não seja um ex-combatente da liga espanhola e que saiba onde fica a baliza adversária. E compra o Beto ao Leixões. Imediatamente! Ouviste morcão?
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