Ele queria muito partir dali porque achava que lá longe é que seria capaz de renascer e arrumar os pecados em cada pegada desse caminho longo que, tinha a certeza, iria fazer. Na verdade, ele ansiava por mudar de vida mas nada disso podia ser feito ali, onde os pássaros cantam as mesmas canções de geração em geração, onde as ondas do mar batem sempre e continuadamente aquela melodia bucólica e quase rústica. E trágica.
Ele queria mudar, era certo. E para isso imaginava uma viagem longa e para longe. Não queria que o pensamento lhe apontasse a outra viagem, dentro dele e com pegadas e sítios espaçosos para arrumar os seus pecados. Essa viagem qualquer um faz, dizia ele a si próprio. Para ele, mudar significava sair. Ir. Deixar tudo para trás como se esse todo fosse feito de notas dispersas de uma melodia rara e única. E cada nota seria apenas o som que foge e não volta mais. Sem pauta ou assento que se visse. Como podia ele esquecer essa melodia pesada e tumultuosa sem partir? Tem de partir um dia. E para longe.
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