quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Hoje saí cedo. Fui passear o cão, passei no quiosque e "bom dia Dona Ilda! Bom dia, quer a bola?".
Não compro a bola nem nenhum outro jornal, tirando o Público dos sábados por causa da Fugas porque Gosto de ver aquelas coisa de viagens e vinhos embora não tenha viajado nada e ande a beber um Douro Pingo Doce de euro e noventa. O meu cão já percebeu que eu gosto de deitar os olhos aos jornais da Dona Ilda e passarteia por ali sempre muito ansioso para ir embora. Está velho e não quer confusões. Gosta de cagar na passadeira vermelha que o dono do talho colocou no passeio, como se aquele fedor a carne pudesse ser dissimulado na cor berrante da carpete, mas aquilo não é uma confusão para ele; é se calhar uma forma de me dizer "tás a ver man, andas sempre com o Benfica na cabeça mas eu cago para o vermelho" e apetece-me logo dar-lhe um cachaço, sendo que ele pensa que eu acusei a boca, porque para ele cagar numa carpete vermelha de um talho não é constrangedor a não ser por ser vermelha e por achar que eu vou aos arames.E também tem a mania de entrar em casa da Lininha onde vai de visita a uma cadelita preta e às vezes demora-se a fazer não sei o quê e dá-me tempo para ler uma crónica mais a propósito. É quase sempre nesse preciso momento que se me vem uma cólica valente e já sou eu o aflito a assobiar ao cão a ver se ele se despacha e a olhar para a carpete vermelha, dando-me conta de que nós temos cólicas como os cães, apetece-nos evacuar como eles sendo que para o efeito bastaria apenas tomar posição, apontar ao tapete e descarregar. O meu cão deve perceber isso e chama-me lorpa por eu ficar meio amarelo e ter de subir as escadas, apanhar o elevador até ao sétimo, abrir a porta, entrar, tirar o casaco correr para a casinha esquisita com torneiras e bacias de grés e só aí fazer aquilo que podia muito bem ter sido feito há mais de três minutos. O meu cão não tem um pingo de antropomorfizacão, se descontarmos a mania de levantar a pata para pedir comida, que foi um truque que eu lhe ensinei, mas de certeza que deve ter alguma esperança em me caninomorfizar porque na verdade ele sente alguma pena de eu não ser um bocadito parecido com ele.

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