sábado, 26 de fevereiro de 2011

Ocorre-me muitas vezes pensar em folhas amarelas caídas na terra lisa e penteada por pés apressados e mudos. Se elas falassem, quem as ouviria negava-lhes a audiência porque estão no chão e estão amarelas. Porque me ocorre muitas vezes pensar nelas, talvez eu me detivesse um momento, se elas falassem, e por certo reparava nas suas rugas e mazelas. E pegava numa e noutra e acariciava-as mesmo sem perceber muito bem o que falavam. Elas não se importam que não as percebam porque correm paradas no mundo à espera duma brisa que as arrume da multidão e só queriam ser escutadas por uns momentos. Porque elas existem e a passagem do tempo cravou-lhes marcas encorrilhadas de castanho e ocre. E gritam olás aos velhos arrumados nos bancos e berram às crianças arredias. E choram para os namorados felizes e imaginam o coreto cheio de música perfumando a multidão apressada e triste, cabisbaixa e muda. Nem os pássaros percebem tão grande angústia.

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