quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Por circunstancial conversa, fiquei a saber que há gente dotada de uma coisa que eu humildemente classifico de "inteligência hipócrita". Gente que, como eu, tem uma linha que demarca a sua vida pessoal, social e económica carregada de compromissos. Compromissos com a sua forma de vida, em primeiro lugar, e em seguida os compromissos com a sua vida enquanto gerentes de empresa sócio-familiar, na falta de melhor definição.
Ora essa gente tem, como eu, compromissos económicos de alta empreitada face aos dias de hoje, casa para pagar, contas e mais contas, filhos a estudar e mais o que só eles sabem para pagar. Essa gente dotada de uma "inteligência hipócrita" tudo aproveita para aforrar mais uns cobres, mesmo que ponha em causa os valores que norteiam a sua forma de vida que é uma coisa sem grande importância face à forma que querem dar à sua vida. E se hoje há casais que viviam sob um regime jurídico fora do casamento para assim pagarem menos impostos e que vão a correr tratar de casar porque afinal de contas o PEC os beneficia, agora sim como juridicamente casados, outros há que desatam a divorciar porque encontram ali um regime de excepção para beneficiarem de cortes consideráveis na prestação do crédito habitação, por exemplo, ou nos compromissos assumidos enquanto cônjuges. Esta "inteligência hipócrita" é apregoada e aconselhada nos chás das cinco, entre amigas e amigos como mais uma excelente oportunidade de negócio, tipo "eles têm uma bimby e agora estão divorciados portanto eu além da bymbi que me dá muito jeito também me vou divorciar porque com o que vou ganhar em fazendo-o posso comprar mais umas coisas das quais metade nem preciso e talvez até dê para fazer aquele Spa com frequência além da ginástica e do cabeleireiro semanal".
Esta "inteligência hipócrita" é de louvar, podeis dizer sim senhor que ninguém vos bate, mas eu dispenso-a. Eu que estou completamente dissecado financeiramente, que tenho contas e rendas e filhos a estudar, dispenso essa "inteligência hipócrita", não porque seja burro ou tenha falta de lata. Recuso-a porque também recuso o cinismo e a hipocrisia e porque, cos diabos, ainda vou tendo os meu "Valores".
Sei que estou a perder, porque os dias não são fáceis, mas também gosto de atum e não morro nada nem um bocadinho se não puder trocar de carro ou ir à Mealhada comer leitão. Gosto muito de massinhas com restos e não preciso nada nem um bocadinho de ir ao Mário Luso comer bacalhau com boroa. E gosto sobretudo de me sentir um homem normal, que não vai desistir de lutar e detesta dissimular.

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