sexta-feira, 3 de setembro de 2004

tanques de Sagunt, Valencia



E dizia eu, há dias, que este trabalho é duro. E é muito mais duro, não pelo carácter robusto das funções propriamente ditas, mas sim por via da forma perfeitamente “ kusturikiana “ que guarnece as relações laborais entre as chefias e os subordinados (aos amantes de Hegel fazia-lhes bem uma observação cuidada deste tipo de relação senhor/escravo, em pleno terceiro milénio). A hierarquia existe sempre, claro, desde que estejamos perante determinada relação profissional. Mas quando tudo é básico, incluindo o manuseamento das pesadas barras de ferro, não há qualquer tipo de contemplações.“Hay que ser duro” é a expressão mais utilizada durante o dia de trabalho.

E depois existe um factor muito importante nesta dialéctica: o salário. Um cheque mensal cuja cifra suplanta todo o tipo de humilhações ou injustiças. Um cheque quase impossível de obter numa linha de montagem da Yasaky Saltano, ou da Lameirinho. Um cheque destes fala sempre mais alto.


PS: Um dia destes alguém citou Che Guevara, lá na obra: “ A vida só é dura para quem for mole”. Ora anda-me. Sublime intenção, esta, de pegar numa frase tão metafórica e atira-la assim, completamente despojada de sentimento, do cimo de um andaime: tu tens que ser mais duro que o ferro que manuseias, o trabalho só será duro se tu fores mole.

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