Eu tinha 14 anos, estudava no liceu e adorava a Aliança Povo Unido. Naquele tempo já tudo se fazia para que Soares Carneiro fosse eleito presidente da República mas eu, que não tinha blog, gostava mais de ir ver o Benfica jogar ao Bessa, à tarde, e depois caminhava pelas ruas da Boavista a apreciar os cartazes políticos que inundavam tudo o que era parede. Gostava dos da APU porque me inspiravam um grito de revolta “APu ta que o pariu pá…”. Era pois um tempo de inocências e punhetas, de modo que quando vi um gajo a interromper um programa na RTP a anunciar a morte de Sá Carneiro fiquei inundado por um sentimento de frustração porque não tinha sessenta e tal canais nem a sic nem a sic news e, portanto, levei com música clássica todo o santo resto do dia . No dia seguinte as coisas até melhoraram. Os mais velhos da Escola Secundária De Carvalhos andavam numa roda-viva a distribuir notícias e pesares sobre a morte do estadista e creio bem que até nem houve aulas.
A verdade é que morrera um gajo que eu não gramava. E de quem ainda não continuo a gostar, apesar das estátuas e dos nomes de praças (na Velásquez, por exemplo) e até de aeroportos (ironia mais cabrona não conheço).
Como tenho um blog e é domingo e os putos estão a ver o Tigre e o Dragão na TVI, lembrei-me de falar disto.
Sempre passaram 25 anos sobre a morte de um homem normal que merecia estar entre nós. Não por ser quem foi mas porque apenas morreu puto e de uma morte puta.
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