segunda-feira, 21 de agosto de 2006

a luz

Milhares de cidadãos, pretos, indiferenciados e desesperados, vivem em condições mais do que sub-humanas, enclausurados entre as praias do Norte de África e o mar, por onde vislumbram uma remota possibilidade de voarem para a luz. Uma luz que os atrai para uma nova vida, desta feita eivada de segregação, indiferença e racismo e clamorosamente iluminada pelos Euros e os empregos mais reles. Mais de 100 mil criaturas à espera. Da Líbia e de outros países africanos, uns mais democráticos do que outros, mas todos eles clamorosamente explorados pelas potências do lado de cá. Outrora, eles também esperavam, à força, pelas galeras que os levavam para o Novo Mundo. Hoje ninguém os quer, nem como escravos.
Entretanto, um dia destes alguém fez eco de um apelo feito pelo Presidente dos Estados Unidos da América aos médicos cubanos que rumavam para a Venezuela. Que viessem para os EUA. Os EUA acolhiam-nos em nome da Liberdade e da Democracia. Os outros, os que apenas dançam e cantam e transpiram que nem camelos, esses não. Esses que morram nas barcas dos seus próprios infernos. E em África não há médicos nem quadros superiores como há em Cuba. Em África há apenas cacos que sobreviveram ao colonialismo e às guerras do pós-descolonizações, subtilmente, umas vezes ou descaradamente na maior parte delas, apoiadas pelos bastiões dos direitos humanos e das liberdades.
Perguntem a um preto que dorme numa esteira às portas da Europa e come fungi, e não tem água potável, se ele gostaria de ter um blog. Perguntem-lhe se ele está desesperado por ir ver um concerto dos Rolling Stones. Perguntem-lhe se ele quer um Plasma.
Entretanto ele pede-vos pouco. Pede-vos uma oportunidade para melhorar as suas condições básicas de vida. Pede uma esperança e promete apenas humildade, servidão e persistência. Os blogs e os concertos e os plasmas podem esperar. Ele pedirá médicos, professores, ensino, saúde, trabalho e justiça. A Liberdade dele não se define na nossa. Ele quer o que nós desperdiçamos e açambarcamos: PÃO. E é precisamente o “pão”, aquilo que nós constantemente lhes negamos e negámos sempre. Somos, incrivelmente, uma sociedade superior!

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