Obikwelu venceu os 200 metros e a televisão destacava um sueco enrolado numa enorme bandeira azul-cueca com uma cruz amarela. Um funcionário de um estabelecimento comercial perguntou-me quem tinha vencido. Estava confuso, não ouvira clamores, nem buzinas, nem bandeiras, nem nada. Depois lá deu para ver um enorme africano, muito elegante e em passo de trote, acenando uma pequena bandeira portuguesa.
O funcionário gostou de saber que Portugal venceu, que estava ali um português que acabara de conquistar uma medalha de ouro. Não tinha a cor de pele da Fernanda Ribeiro, nem o buço, não tinha o cabelo de Carlos Lopes, nem a pança, e não tinha o nariz de Rosa Mota, nem a falta de cu, mas era um português a brilhar com a nossa bandeira. Não é do Marco de Canavezes, não senhor, nem treina cá, nem em Lanzarote, mas é português “carrejão” de bandeira.
É um atleta, foi um trolha, dormiu na esteira, comeu “fungi”, e andou de barco à vela e à deriva. Está cá e é nosso até um dia, até ele querer. Nós não o merecemos, por ventura, porque por doçura achamos-lhe graça e batemos palmas de compaixão, não de paixão. E sem embargo ousamos ignorar que ele já nos deu mais, muita mais do que aquilo que nós julgamos ter-lhe dado.
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