quarta-feira, 8 de outubro de 2003

Fumo. A propósito do novo formato dos avisos nos maços de cigarros, normalizado via União Europeia, tenho a partilhar convosco um certo paradoxo que descobri em mim e que baptizei de "paradoxo do pacote". Passo a explicar: Como sempre fumei (Ventil), já há muito que gramava aqueles discretos avisos de que o tabaco faz mal e coisa e tal. Findo o Verão, eis que aparecem aqueles dizeres todos malucos (mas sérios hein?) sobre grávidas e espermas. Fiquei um tanto incomodado porque o meu "maisnovo", fino como um alho, desatou a ler todos os exemplares de Ventil que apareciam em casa e, claro, preocupou-se muito com o meu vício, a passar já a vintena diária. Mas eu fiquei relutante a assumi, daquela forma burguesa de assumir, que nada ou ninguém me iria impedir de fumar os meus cigarritos. Tal como o "Estrangeiro" de Camus, estava eu, de certa forma, a comandar a minha própria sentença de morte. Aconteceu porém que ontem vi na TV, à hora do almoço, aquela notícia magnífica sobre um tal invólucro que ia, por assim dizer, ocultar os nossos traumas repetidamente anunciados nos maços de cigarros. De maneiras que olhei para o meu cigarro a arder entre dedos. De repente, apercebo-me que o respectivo maço jazia na mesa amarrotado e, escondendo as tais frases lancinantes, parecia gritar: compra outro, anda lá, está na hora de te levantares e sacares dois Euros e dez. Fiz uma pausa enquanto apagava aquele cigarro, olhei a televisão e ouvia, ao longe, um sotaque francês a tentar explicar o óbvio daquele pacote, ou invólucro, ou imbróglio, nem sei. Sei apenas que pronunciei esta frase: Estou farto disto, não fumo mais.

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