Entrámos no mês mais carismático da história recente da nação. Lembro-me bem de Abril de 74. Era costume dos mais velhos constituírem equipas de futebol, sempre cognominadas de “Benficas” e “Portos” mas com o aparecimento dos novos partidos políticos passámos a ter os “Pê-ésses” contra os “Pê-pê-dês”. Eu adorava desenhar o símbolo do PPD, aquela seta colorida e arrebitada fascinava os meus lápis de cor, por isso o meu lugar era na claque dos “Pê-pê-dês”.
As “manifs” eram o pão-nosso de cada dia e os comícios fascinavam-me, tão intensos eram os testemunhos dos mais velhos, dos que podiam ir ao Porto, à praça, participar na festa, na campanha, na nova rotina semanal. Depois foi o despertar para um mundo novo, a “coca-cola”, as sapatilhas “Sanjo” e a inauguração do Centro Comercial Brasília (creio que foi o primeiro em Portugal) e as escadas rolantes. Que fascínio. Eu, puto dum caraças, crescia na liberdade, andava à “guna” nos autocarros e apanhava boleias nas “quatro éles” e nos “bocas de sapo” que me levavam e traziam dos Carvalhos ao Porto, à cidade livre e apelativa.
Um certo dia o meu pároco deu-me boleia, e a mais uns tantos miúdos, para Arcozelo (ía apanhar grilos num campo muito bom onde hoje mora a igreja nova da “Santa Maria Adelaide”. Ele era um “Á-dê” fervoroso e perguntara-nos de chofre:
- Há aqui “comunistas”?
Eu, de pronto, disse logo que sim. Entornou-se o caldo.
– No meu carro não entram gaijos desses, andor.
Sem comentários:
Enviar um comentário