quinta-feira, 18 de janeiro de 2007

Do Aborto, e porque não vou falar mais disto

Nesta matéria de referendar uma nova lei do Aborto eu sou muito franco e tenho de ser honesto para comigo mesmo: se me chamam para dizer se concordo que uma mulher possa abortar de livre vontade, antes das 10 semanas de vida do filho que está na barriga dela, isto é, até dois meses e meio (!) de gestação, eu digo: não concordo. E ponto final.

Não quero saber de mais nada, das liberdades da mulher e dos abortos clandestinos e das parcas condições em que muitas mulheres vão abortar. Não quero saber. Abortar é da consciência de cada um. Eu não quero contribuir para que se legitime essa consciência. Se uma mulher não quer ter um filho apenas porque não, apenas porque ela manda, eu não posso legitimar o direito a que se aniquile uma vida sob pretexto de que a mãe tem o direito de, ou seja, não me estou a ver contribuir para que se autorize uma mulher a pensar durante quase dois meses e meio se quer continuar a deixar que uma vida se desenvolva.
E não me venham com as más condições com que muitos abortos são feitos por serem clandestinos. Más condições para quem? Para a mulher? A criança que vive dentro dela morre na mesma, seja num vão de escada, seja na mais confortável clínica.
O aborto é um processo que envolve dois seres humanos sendo que, à partida, só um está condenado a não viver: a criança. Aliás, e segundo o futuro quadro legal, a essa criança é-lhe retirado o direito de viver apenas por e para mero conforto de quem decide.
Não consigo dizer sim a tal legitimação para que se mate apenas porque não se quer ter mais um filho, seja porque fica caro, seja porque dá chatices, seja até porque esse filho é menino e a mãe queria uma menina. Para que se deite fora uma vida apenas porque não se quer o incomodo de ter de lidar com essa vida.

3 comentários:

Time disse...

Concordo Altino. Mas levemos a questão ao absurdo, e imaginemos que se despenaliza a mulher que pratica o aborto até ás 10 semanas. Convenhamos que este não é um assunto que envolva apenas duas pessoas, a mãe e a criança que carrega no ventre! Então e o pai da criança? Não tem voto na matéria nem vontade própria a exprimir no assunto? Ou será que neste assunto o homem é votado ao ostracismo e olhado como mero interveniente no acto concepcional, qual simples instrumento sexual? Caso se "legalize o aborto" não deveria o pai ter que autorizar? Ou será que todas as crianças são filhas da mãe e do Espirito Santo?

ATF disse...

obvio que o pai tem muita importãncia nesta matéria. Ali apenas pretendi referir quem corre perigos devido ao aborto. Eu sou dos que pensam que o aborto não deve nunca ser uma medida de planeamento familiar. principalmente na era em que vivemos.

Anónimo disse...

Para começar uma correcção técnica que para o caso não interessa muito, 10 semanas de gravidez correspondem a 8 de vida do feto porque as semanas contam-se desde a última menstruação da grávida.

E achas que a forma de fazer com que as mulheres não abortem é ameaça-las com uma pena de prisão? O aborto é considerado crime quando a prostituição, por exemplo, não é... não me parece justo.

Achas que deviam perseguir e prender as mulheres que fazem abortos ou que se deve fazer vista grossa da lei, ficando sujeitas a ela apenas as mulheres que alguém denuncie (aí a polícia é obrigada a agir...)?

É bastante fácil abortar legalmente e com óptimo tratamento médico (e nem sequer é assim tão caro), basta ir ali a Espanha. Se uma mulher quiser abortar, só se sujeita ao aborto clandestino em Portugal se for pobre, pouco instruida ou muito novinha. Ainda há pouco morreu uma miúda de 14 anos por causa disso... A lei que existe só é uma ameaça para as mulheres que estão numa posição mais vulnerável, as outras já têm opção de escolha.

Eu também sou pela vida mas também sou pela justiça e não acredito que a lei que existe impeça alguém de abortar: a única coisa que faz é fazer as mulheres mais desfavorecidas o façam em más condições e possam vir a ser presas por isso. Haveria outras formas de evitar abortos, por exemplo, um Estado que apoiasse mais as mães e as famílias, uma sociedade que não coroasse de vergonha uma miúda solteira que engravida... As ameaças de cadeia não resolvem nada.

Desculpa o testamento. Um beijinho.

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