Se querem saber eu digo-vos sem a mínima espécie de interesse que não o de dizer por dizer. Fui tomar café e apanhei com um professor do colégio dos Carvalhos que se lembrou, há uns dias para cá, de me abordar.
Se calhar, por vestir uma camisola branca a dizer Brasil e que me fora oferecida pela minha cunhada brasileira, e de usar umas calças “levis” muito coçadas, compradas há mais de dois anos em saldo na feira de Cerveira, o gajo deve pensar que eu devo ser um burguesito de merda, que até esteve de fárias no Brasil, daqueles que lêem Sepúlveda por acharem que fazem parte da elite intelectual que abomina o sexo anal e toma banhos de perfumes caros comprados na Sephorá. Deve pensar que eu, usando uns óculos muito discretos e lendo diariamente três ou quatro jornais (incluindo os desportivos), sou um género de tipo a quem se pode desabafar um ou dois pecados neo-liberais, daqueles que fazem as delicias do blasfémias e quejandos, dizendo-se mal de Lisboa e apelando-se a uma nova politica de regeneração da área metropolitana do Porto mas nunca apresentando soluções ou sequer uma única linha alternativa. E falava das suas histórias da tropa porque um professor de meia-idade, do Norte, tem sempre histórias lindíssimas dos tempos em que fora cadete em Lisboa ou aspirante em Mafra. E zurziu em toda a classe politica do Norte como se estivesse à espera da minha aprovação.
Com bonomia e alguma educação judaico-cristã, eu deitava-lhe um olho, porquanto o outro procurava “o que diz Peseiro” que é um tema muito mais interessante como devem facilmente imaginar.
Estive quase, todavia, para perder a paciência e manda-lo pentear macacos, e corrigir-lhe os preconceitos de assalariado médio a viver numa urbe como é o caso da área metropolitana do Porto. E porque se não tem metro, há que fazer um, se tem um está tudo mal, se o Porto trabalha muito há que de rei que nunca por nunca deveria ser a zona do país onde há mais desemprego e o raio que o parta e eu ali à espera de ler os meus jornais ao preço de um simples café, e já ia em três cigarros e, de repente o gajo levanta-se, arruma as cenas dele e diz-me bom dia, saindo. Tinha de ir dar aulas para o colégio, o desgraçado. Pobres alunos os dele, e os pais dos alunos que pagam balúrdios para meterem os filhotes defronte a semelhante bota quadrada.
Mas que querem, eu sou um tipo meio assim, uns dizem que sou estalinista outros chamam-me pamonha e outras adoram-me, sendo que estas ultimas são cada vez menos, mas que se lixe porque eu tenho quase quarenta anos e ainda tenho alguma pachorra para levar com gajos que me confundem com a espécie deles.
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