quarta-feira, 28 de janeiro de 2004

tu

Não foste capaz. Preferes falar da neve, onde quer que estejas – citas Camus por causa da neve. És um ser superior, por isso não foste capaz. Isso não te disse nada de nada. Não vês futebol, bem sei. Não sabes quem é, de quem se trata e nem queres saber. O teu desprezo brutal por coisas destas coloca-te de costas viradas para a plebe, para os básicos, para o que se comovem, os que não falam grego, os que dizem palavrões, os que nem escrever sabem, os que não viajam, os que nunca viram neve e muito menos a sobrevoaram. Tu não foste capaz. Tu estás acima de tudo, em Marte talvez. Tu nunca te deixarias ceder à condição perene dos simples. Tu jamais poderias gastar um único gesto com coisas destas. Tu és diferente, absoluto, magnânime. Tu bradas o que queres, tu mostras o erudito que há em ti. Tu permaneces olhando as águas do lago e contemplando-te belo, inteligentíssimo, jamais te acharás noutra condição. Tu sobes, voas, emanas cultura, sapiência. Tu és um orgasmo inutilmente indolor.

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