quinta-feira, 19 de fevereiro de 2004

Estive a ler os comentários deste magnifico "post" que me ajudaram a consolidar a minha visão da blogosfera portuguesa.
Começo por esclarecer que não sou profissional da função pública, não sou jornalista nem tão pouco tenho curso superior. Imperativos de vária ordem impediram-me de acabar o ensino secundário, deixando para trás qualquer objectivo académico. Isso não me impediu nunca de cultivar as minhas ilusões culturais, lendo, indo ao teatro, falando muito e ouvindo ainda mais. A actividade política nunca me seduziu, até porque sempre que me punha a imaginar num organização politica logo antevia precoce expulsão da mesma.

De modos que sou um cidadão capaz de se entusiasmar com aquilo que o rodeia, sem medo de enfrentar novos desafios e, em chegando à blogosfera, logo me encavalitei no cimo da minha cadeira e tratei de me meter com os ditos autores de referência. Vejo neles aquilo que sempre vi: tipos inteligentes mas também muito elitistas e injustos para gente como eu. Tipos quase sempre de costas viradas para quem os lê porque não estão habituados a lidar com a dinâmica destas plataformas de comunicação. Os da classe política manifestam boa ginástica na gestão do conflito gerado nos seus leitores. Os escritores e pensadores experimentam aqui o feedback dos seus leitores, raramente verificado na esfera dos livros que escrevem, refugiando-se na natural, austera e quase sempre evasiva forma de comentar, seja nos blogs seja por e-mail.

Chegados aqui, e pegando nos comentários que li no já referido post do Barnabé, concluo que a blogosfera está muito para além do debate politico. Ele existe e é bom que assim seja. E existe graças a meia dúzia de pessoas que trouxeram a sua generosidade intelectual de forma gratuita, propondo e debatendo ideias, nem sempre politicamente correctos mas quase sempre eivados de riqueza e capazes de nos fazer pensar na coisa politica com cabeça tronco e membros. Reconheço que o sucesso da blogosfera muito deve ao confronto político. Desgosta-me a arrogância daqueles que se supunham orgulhosamente sós, inatingíveis e terrivelmente seguros das suas verdades.
Creio pois que na blogosfera há espaço bastante para a cultura, para as artes e para os cavaleiros solitários – os que parecendo não ter nada, têm pelo menos uma coisa: a sua riqueza interior, património precioso que propõem partilhar com quem os lê. Em conclusão, a blogosfera não pode ser vista como tendo apenas dois pólos: o do debate politico e o do debate filosófico. Ela é as duas coisas no seu todo.




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