domingo, 29 de maio de 2005

Da minha janela vejo a serra de Valongo. Há putas nas ruas municipais em volta da serra de Valongo. Ninguém fala delas, nem fotos nem nada. Elas ficam hora e horas sentadas à beira da estrada esperando aquela motorizada rocinante, ou uma Mitsubishi Canter, de caixa aberta, que pare. Elas não pagam IVA nem têm custos de venda. Não gastam água nem têm aquecimento central. São as putas da estrada, de pernas abertas e revista Maria na mão. Quando está frio elas fazem uma fogueira para se aquecerem. Elas têm patrões que se escondem nos pinhais, atentos ao negócio, empresários sem computador, sem “Primavera Software”. A folha de caixa deles é um molho de notas que lhes são entregues. Não fazem orçamentos nem “sales forecasts”.
Uma puta de estrada é o quê? Mão-de-obra explorada? Função pública? Quadro técnico? Tem idade de reforma? Aumentos? Carreira? Nada disso. Uma puta de estrada é um serviço público que todos vêem, alguns utilizam e quase ninguém quer saber.
A serra de Valongo fervilha de actividade. As TVs estão prontas para as grandes reportagens. As putas nunca existiram.

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