Tenho um grilo enjaulado cá em casa. Fui buscá-lo a casa dele num campo de pastagem em Silva Escura, Maia, a aldeia onde se instalou a minha mãe depois do regresso de França. Ouvi o cântico fatal, caminhei devagar e quando vi a “lura” enfiei-lhe uma palhinha e pacientemente esperei que o jovem cantadeiro subisse aflito. Depois tapei o buraco com o indicador e pronto. Acabara de exercer uma das minhas actividades preferidas da minha meninice: apanhar grilos. Mal passava a Páscoa e era correr os campos da aldeia de Vermoim, de Nogueira e mesmo Barca à procura dos melhores grilos. Por vezes chegava a apanhar mais de vinte e trazia-os numa lata cheia de serradela e depois distribuía-os como calhava por quem quisesse um grilo. Não havia coisa melhor na Primavera, para além dos ninhos. Depois, melhor do que isto só mesmo as uvas no final do Verão e o castanheiro da quinta no Outono. Tanta caganeira apanhei por via das uvas e das castanhas, meu deus.
O Alex ficou, evidentemente, muito orgulhoso neste pai que tem. Porque o pai dissera-lhe “ vamos ali e garanto-te que apanho um grilo”. E foi certinho. De modo que agora tenho um grilo enjaulado cá em casa. E canta, o filho da mãe, que ontem foi um castigo para a minha malta ver de enfiada o “Serviço de Urgência”, o “Perdidos” e o “Donas de casa…”. Bom, mas o grilo canta e há-de ser sempre grilo até morrer. Não sei porquê mas nunca dei um nome a qualquer um das centenas de grilos que já apanhei.
O importante agora é que o Alex tem mais uma tarefa de grande responsabilidade que consiste em trazer diariamente uma folha de alface de casa da avó para que o nosso grilinho possa comer e cantar refastelado até ao S. João, pelo menos.
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