quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

May God bless and keep you always,
May your wishes all come true,
May you always do for others
And let others do for you.
(Bob Dylan)

Bom ano, fellas!
http://www.youtube.com/watch?v=lvebiQfAu4M&feature=related

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

A revista Time, o maior baluarte propagandistico do império capitalista, da mentira e da desinformação, pretendeu brincar com o fogo, no jogo cada vez mais perfeito da clausura planetária face ao jugo capitalista e escolheu para figura deste desgraçado ano de 2011 o "manifestante". Os que se manifestam, se indignam e se entretêm a ocupar espaços públicos de relevância um pouco por todo o mundo capitalista foram, pois, homenageados pelos mensageiros do cancro financeiro, da mordaça económica e social que nos persegue e perseguirá ao longo deste terceiro milénio.

A revista Time devia, sim, prestar homenagem a essa falange imensa de formiguinhas obreiras da sua mais do que perfeita obra de exploração: os caridosos, os que ajudam, os que se organizam em grupos, civis ou religiosos, para dar de comer a quem tem fome. Esses sim, deviam ser figura do ano. Porque essas criaturas caridosas fazem parte deste processo cancerígeno que se chama Capitalismo. Recolhem alimentos, criam cantinas, rouparias e centros de recolha do cada vez maior número de vítimas deste sistema inglório, e que serve apenas os mesmos, sendo que sempre que surge mais um milionário têm de se construir mais de dez grupos de apoio aos desfavorecidos entretanto emergidos. E por estas alturas natalícias, chega a ser ternurento ver tantas reportagens de ceias de natal, entregas de cabazes e de roupinhas, algumas vezes com direito a concerto de variedades e tudo. Chega a ser comovente ouvir idosos que não fizeram mais nada na vida do que andar a sustentar a máquina capitalista, para agora, no final das suas vidas, aparecerem na televisão com um saco de comida na mão, caridosamente entregue por uma dessas organizações de caridade.

O mundo capitalista goza de perfeita saúde porque tem ao seu serviço um grande exercito de coveiros de cadáveres vivos, os esfomeados, os sem abrigo, os cada vez em maior número desgraçados que não podem ser abatidos ou despejados uma Etar qualquer como qualquer outro desperdício que se deita fora. O mundo capitalista vai comer bem neste natal, vestir bem e até vai contribuir com fundos e outros restos dispensáveis para que se diga que há humanidade nesta sociedade tão reles.

E se um dia os homens e mulheres que sofrem se lembrarem de recusar a sacra esmola e passarem a exigir que lhes paguem o que lhes é devido, aí sim, a revista Time talvez venha a homenagear os pelotões de fuzilamento, os grupos de aniquilação que a máquina capitalista se encarregará de criar, a par com a propaganda, para que se faça o que é preciso fazer para que tudo continue na mesma.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Há 25 anos, acabara eu de abandonar a meio um péssimo filme de Copola, no Cinema Trindade, e, descendo a praça, parei frente ao cartaz dos resultados de futebol dessa tarde, exposto na fachada do edifício do jornal O Comércio do Porto. E tive que me aproximar para ler melhor: Sporting 7 - Benfica 1 . Naquela tarde de domingo, fui logo consolado pelo meu amor que não me largava a mão e repetia um "deixa lá" que se vem repetinto ao logo destes 25 anos de vida em comum e sempre que alguma coisa não me corre de feição.
Hoje, tomando o  pequeno almoço, recordei-lhe aquele momento e ela lembrava-se de tudo e sorriu. Como naquele dia.

sábado, 10 de dezembro de 2011

No novo túnel de St. Ovídio já estão afixadas as placas azuis indicadoras dos principais destinos como Porto, Lisboa e, obviamente, "Carvalhos".  Por outro lado, quem passa os Carvalhos em direcção à ponte do Freixo, ha-de reparar numa placa indicando que "Pedroso" fica bem no interior do Concelho, em direcçao a Sandim e Olival. É justo.


É justo, sim senhor. Principalmente porque tenho memória e lembro-me bem da sanha persecutória que o ainda Presidente da Junta de Freguesia de Pedroso encetou contra a Vila dos Carvalhos. Uma gesta motivada por ambições pessoais, castradas no complexo de inferioridade de um ex-pintor da construção civil chegado à ribalta do poder minúsculo de um simples presidente de junta, ainda para mais levado ao colo desse animal político que comanda o Concelho de Gaia até à data em que terá, por via de lei, de zarpar para outra Câmara Municipal. Uma gesta que ganhou adeptos, norteada por vontades parolas em minimizar a importância geo-social da Vila dos Carvalhos, que aqui neste meu sítio já enumerei, e chegando ao cúmulo de querer banir a palavra Carvalhos das placas indicadoras de direcções a tomar para quem venha do sul ou do norte e cruze as terras do concelho sul de Gaia. Por isso é justo que "Carvalhos" continue a figurar onde sempre figurou e é irónico que a única placa de relevo com a palavra "Pedroso" mostre verdadeiramente aquilo que Pedroso não é, nunca foi nem jamais será: locar de importância geográfica relevante.

 Ainda há dias, estava eu em Chaves com um cliente local e perguntei-lhe se conhecia Carvalhos. Obviamente que sim!, respondia-me ele quase ofendido. E Pedroso? e Sermonde? e Grijó? Que não. Sabia lá o que isso era. Carvalhos sim, claro. Toda a gente sabe onde fica Carvalhos. E para quase toda a gente, depois de Espinho e antes de Gaia só existe um sítio conhecido.

 Carvalhos é um sítio onde se vive bem e onde se podia viver melhor, fosse esta localidade dotada de autonomia autárquica. Resistiu ao Tavares, embora tenha perdido a Repartição de Finanças que servia todas as localidades a sul do Concelho e mais algumas do Concelho vizinho. Ainda assim, não perdeu a sua identidade, num período mau para a sua determinação local, ainda para mais numa época em que urge reduzir autarquias por via da crise financeira. Espero sinceramente que os próximos autarcas eleitos tenham aprendido a lição e não se deixem levar por complexos de inferioridade e saibam, isso sim, reconhecer e dar a justa importância dos Carvalhos enquanto pólo de modernização, progresso e qualidade de vida.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Um poema que eu lia quando jovem:

Sous le pont Mirabeau coule la Seine
Et nos amours
Faut-il qu'il m'en souvienne
La joie venait toujours après la peine
Vienne la nuit sonne l'heure
Les jours s'en vont je demeure
Les mains dans les mains restons face à face
Tandis que sous
Le pont de nos bras passe
Des éternels regards l'onde si lasse
Vienne la nuit sonne l'heure
Les jours s'en vont je demeure
L'amour s'en va comme cette eau courante
L'amour s'en va
Comme la vie est lente
Et comme l'Espérance est violente
Vienne la nuit sonne l'heure
Les jours s'en vont je demeure
Passent les jours et passent les semaines
Ni temps passé
Ni les amours reviennent
Sous le pont Mirabeau coule la Seine
Vienne la nuit sonne l'heure
Les jours s'en vont je demeure

"Le Pont Mirabeau"
Apollinaire, Alcools (1912)

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Ando a emagrecer aos bocados. Não, não estou doente, graças a Deus. Simplesmente ando a emagrecer porque quero emagrecer. Estou cansado de ser um tipo gordo de quarenta e cinco anos. Bem sei que tenho de pagar a factura das "rugas dos magros" que me dão a impressão de começar a ficar com um aspecto mais de quarenta e cinco anos do que de trinta e sete, que era a ideia que eu tinha do meu aspecto. Mas ando a emagrecer e, aí é que ela bate, ando a emagrecer sem ter tido de deixar de comer. Ora pois. Emagreço tranquilamente na companhia dos enchidos, dos queijos e dos tintos e da Heineken (gajo pobre bebe Heineken).
O doutor Seabra mandou-me fazer uma bateria de testes e disse-me que eu tenho um coração de atleta, um fígado de bebé mas ando com o colesterol na casa dos duzentos e noventa! Nada de diabetes, nem triglicerídios, essas merdas.
Receitou-me, o doutor, o ferrari dos medicamentos para redução do colesterol. Nem sei a marca porque nem olhei para a receita. Aliás, tenho alguma inveja daquelas pessoas que sabem os nomes de quase todos os medicamentos. Eu não sei nenhum, se exceptuarmos a aspirina e o actifed. Bom, a receita tenho-a ali pronta a trocar na Farmácia Central mas não ando com muita vontade de mamar sessenta pastilhas, uma por dia. Não sei, não gosto de pastilhas. O que ando a fazer é correr quase todos os dias aí uns cinco mil metros, uma légua. E ando a pesar-me e a ver o peso descer e a ouvir os amigos dizerem "Torres, estás mais magro pá!" e isso sabe-me bem. Mas tenho de tomar as pastilhas, não tenho? Foda-se! Detesto essas merdas.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Um Domingo tranquilo é quando tu acordas cedo, fazes um café e passas uma manteiguinha em duas torradas, enquanto o teu cão fica ali sentado à espera da tua generosidade. Depois, levas o cão lá fora e fazes-lhe as festas habituais no elevador. Voltas a casa e espraias-te num banho demorado e voltas a sair. Num domingo tranquilo, tu começas por ir ao café habitual e encontras os amigos habituais e passas os olhos nos jornais habituais. E falas coisas ligeiras e espaças os diálogos com longas fumaças. Regressas  a casa já depois do meio-dia e almoças tranquilamente do que houver. E assim vem a tarde pasmacenta dos domingos tranquilos onde normalmente adormeces no sofá, no momento seguinte ao da escolha do filme para ver ou do livro para ler. Num domingo tranquilo a noite acaba por chegar, bem por cima de tudo aquilo que não fizeste. As horas correm no meio das notícias e ficas com a sensação de que tudo aquilo passou rápido de mais. 

sábado, 17 de setembro de 2011

Hoje apeteceu-me escrever.

Ontem foi um dia assim-assim e hoje apetece-me escrever. Ontem trabalhei normalmente, hoje também e, no entanto, apetece-me escrever. Ontem fui jogar futebol de sala, à noite, depois entrei em copos e conversei noite dentro. Hoje apetece-me escrever.
 Ontem quis ouvir jazz mas os amigos queriam música dura e eu percebi que  eu posso ouvir jazz sempre que me apetecer mas não tenho de arrastar os outros nesse desejo. E hoje apetece-me escrever. E os dias assim-assim nem sempre dão para ouvir jazz mas dão para muitas coisas. Dão para apetecer escrever mesmo sem ter nada de relevante a dizer. Dão para sentir que dormimos pouco e que, ainda assim, estamos vivos, saudáveis, a envelhecer como quando crescíamos. E se nos der para querer ouvir jazz é porque desejamos, por certo, encontrar respostas singelas a perguntas batidas.Os nossos dias correm com súbita voracidade e nós calamos um pouco. Perenes moços, nós já tivemos tudo e achamos que não temos nada. E perguntamos, ingénuos, ao registo musical que nos inunda os sentidos, por que razão somos tão tolos e incompletos? Por que motivo estamos já mais disponíveis para deslizar em vez de correr? Por que motivo nos colocamos mais atrás nas fotografias, por que razões, obscuras ou não, nos deixamos ficar quietos e quase nem argumentamos quando aquele fulano assume a dianteira?
 Queremos o nosso lugar aqui na terra e sabemos bem da sua preciosidade. Podemos talvez ainda achar que somos imortais mas adoçamos o sentido da vida com menos ousadia. Julgaremos nós que os mais novos tomaram os nossos lugares? Nos cafés, nas ruas, nos pontos-de-encontro.  Pensaremos já que somos um livro quase completo mas não sabemos bem em que página nos estamos a ler? Precisaremos de um marcador de páginas da nossa vida porque às tantas andamos demasiados dias a ler os mesmos capítulos, repetidamente, desconcentrados, e a música sabe-nos sempre diferente, tinge-nos a expressão, calca-nos os cabelos turvos?
E, no entanto, hoje apeteceu-me escrever.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

irritações

Venho aqui a correr para assentar uma espécie de irritação que me consome um bocadinho. Uma irritação que é quase um preconceito meu, ou quase um assomo de arrogância da minha parte, temo eu. Só admissível nos meus pensamentos auto-recriminatórios porque eu posso me dizer que, afinal de contas, eu percorri. Posso afirmar a mim mesmo que passei horas e horas numa biblioteca, que fui ao teatro, fui ao cinema, à ópera e comprei discos e livros e ouvi muita rádio que falava comigo e me trazia saberes que se me enraizavam e me moldaram os critérios. E que ainda hoje procuro fazer disso tudo.
E, justamente, o que me traz aqui neste momento não sou eu mas sim a tal irritação que eu ando a sentir faz algum tempo. Conhecem Pelléas et Mellissante? L' heure espagnol? Ah, eu conheço, sabiam? Ouvi e gostei muito, conheço as histórias e sei quem foram os autores e descobri nelas outra forma de entender o início do Sec. XX. Sei o que é porque cultivei essas coisas. Conhecem o noc noc noc on the heaven's door? Conhecem, claro que conhecem. Eu também conheço porque ouvi um disco de Bob Dylan há mais de 30 anos. Ouvi um disco, notem bem. Conhecem Joe Zawinul? E Brubeck, Conhecem? Pois, eu sei que podem pesquisar no google, eu sei. E ficam a saber, não é? E depois vão às Redes Sociais, não é? E postam vídeos e links de Debussy e Ravel, Drama Lírico e Comédia, não é? E Jazz, muito e bom Jazz. E debatem seriamente sobre esses e tantos outros temas. Por outro lado, deixe-me perguntar-vos se têm discos de jazz em casa. Se conseguem assistir a um concerto de música clássica (os divertimezzos não contam). Pois... E lêem romances para além dos downbrowns e margaridasrebelopintos? E Teatro? Ah, o LaFeria (do mal o menos. enfim - eu sei que está na moda).
E então o que é que me irrita tanto? Não consigo explicar doutro modo, peço desculpa. O que me irrita é pensar que anda muita gente a abarrotar de cultura ejaculada da Internet, fora da realidade vivida, da experiência, do contacto, do sal e da pimenta que só existe entre as folhas de um livro, do chilrear da natureza que só acontece numa sala com música, do pulsar do mundo como só se sente numa viagem, dentro de um museu, numa sala de teatro. Por isso irrito-me com, vamos lá ver se consigo ser educado, irrito-me com esse sub-produto de intelectuais fecundados no google, que têm tudo à mão e, assim, de tudo sabem, de tudo falam quais especialistas doutorados. É difícil lidar com essa gente, sabem?
 E às vezes, confesso, até apetece manda-los à merda, mas é claro que se o fizéssemos acabariamos por perder toda a imensa razão que temos.


quarta-feira, 10 de agosto de 2011

civilizaçãozinha-hipócrita-ocidental

  Estamos todos tão estarrecidos com a onda de violência urbana que infesta o território inglês, um país cheio de "shamless people", uns gajos a quem foi preciso uma portuguesa ensinar a não mijar nas paredes dos palácios. Uns gajos ricos que sempre viveram do trabalho dos outros, dos morenos do sul da Europa e dos pretos e asiáticos oriundos dos continentes do velho Império. E nós estamos tristes, porque andam tipinhos sem emprego a incendiar casas e a roubar lojas de gadjets e as polícias, treinadas para uma nova ordem pós terrorismo,  não sabem o que fazer e surgem então os filhos da escória do imperialismo ocidental, os radicais da raça, do poderio branco sobre todos os outros, a organizar resistências selváticas, como se fossem a penicilina que irá expurgar tão perigosa estirpe.
 E mais abaixo, logo ali, crianças morrem de fome. Não passam fome, morrem de fome. E miseráveis somos nós que estamos escandalizados e aplaudimos os "savethechildren.co.uk", coitadinhas das crianças que têm tão mau aspecto e é urgente salvá-las. Desde que os conhecemos, não fizemos outra coisa que não explorá-los, aos pretos. Entrámos nas casas deles, fodemos as mulheres deles, roubámos o que era deles, até a eles os levámos para nos enriquecer, a nós, os ocidentais prósperos e gordos.  Toda a vida fomos isto, uns Párias, e agora andámos tão estarrecidos com os tumultos em casa dos nossos compinchas, dos nossos empregadores, economistas, cientistas, filósofos, financeiros. E contudo, ali  não muito longe, morre-se de fome. Coitadinhos deles! vamos ajudá-los para que cresçam e os possamos foder de novo. Precisamos deles para continuarmos a garantir o nosso conforto e luxo. Mas esta coisa dos tumultos é uma chatice enorme para o nosso sossego. Não fora isto, eu passava umas férias tranquilas e de consciência limpa, bastando para isso uma transferênciazita de somenos para o Pay Pal. Savethechildren.caralho!

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

impressions

Longo tempo sem editar neste meu caderno de delírios. Hoje porém, volto a ele, porque necessito dele, de quando em vez, e ele está sempre aqui para aturar os meus dizeres.

Voltei ao Distrito de Leiria, por motivos profissionais, onde permaneci durante três dias no coração cultural da região, quanto a mim, que é a Vila da Batalha. Tinha andado por cá em intermitentes estadias nos anos passados de 2006 e 2007, de modo que achei fácil ser dominado pela vontade de peregrinar os velhos poisos, restaurantes e sítios que então conheci. Em cinco anos quase nada muda, se exceptuarmos as obras que acabaram e as que entretanto começaram. Novas vias a rasgar o distrito desenham uma nova paisagem na serra. A ligação por auto-estrada desde a Nazaré até Tomar é bem-vinda e, no mais, as pequenas vilas continuam lindas e estão mais asseadas. Batalha, Porto de Mós, Alcobaça e as praias. A praia das Paredes é um nicho de sossego e beleza ímpar. É mar e pinhal e sossego. As pessoas continuam as mesmas. O sotaque cantante como só os leirienses sabem cantar. O "cuméqueé" deliciosamente sorridente, o "AtãoVá" amistoso e perene, enfim, um tipo de povo desabrochado nas pedras da serra e florido na dureza dos olivais que evolui para o mar como robalos dançantes.

Experimentei, contudo, uma nova tristeza. O desconsolo quase reles que senti ao descobrir que aqueles restaurantes e tascas que conheci outrora estão decepcionantemente diferentes. Mudados, de gerências e tudo. Não achei, pois, aquelas frondosas saladas mistas, as lentriscas e as morcelas. Ou melhor, não achei as de outrora e senti pela primeira vez o tratamento que se faz aos turistas. Falso, cínico e interesseiro.

Em cinco anos quase nada muda e se calhar isto que vos disse não é bem assim. Talvez eu tenha mudado, envelhecido de forma cruel e tenha tido a ousadia de pôr de lado o meu "gravitas" próprio de quem amadurece em pomar distante deste. Talvez eu esteja a perder os sabores e a paciência. Talvez.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Manifesto

A entrevista de Jerónimo de Sousa à Sic teve, entre outros, este mérito: apontou o meu caminho como cidadão e comunista.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Não é fácil, de todo, bradar armas contra a Europa após 25 anos de casamento. Os mais novos não sabem o que era este país em 1986, por isso facilmente encaram esta hora de pagar a factura como uma afronta, uma ofensa imperdoável dos endinheirados europeus. Nao é fácil explicar-lhes que foram os pais deles que esbanjaram todo o dinheiro em seus caprichos, suas fortunas, seus compadrios e suas ambicões pessoais.
Somos um povo, como disse um dia um romano famoso, que nem se governa, nem se deixa governar. Por isso, nestes dias em que todo o mundo percebeu que jamais nos governámos, não é difícil aceitar que também não queremos que nos governem. Isso é que era bom, não era? Era, mas não pode ser.
Temos, porém, a obrigação de saber honrar o nosso destino que é, antes de mais, sobreviver, que outra coisa não fizemos desde Egas Moniz. Temos de saber traçar o nosso fado sem andarmos sempre a lamentar não termos ido ao casamento dos Reis Católicos, e sem insistirmos na teimosia enganadora de que já fomos grandes. Enganados fomos sempre e, o pior, enganados pelos nossos, por aqueles que nos comandaram, voluntaria ou involuntariamente, por voto ou imposição, e que não mais fizeram do que praticar o chico-espertismo, o favor com favor se paga. Por isso somos uma miséria de povo que nunca aprende e insiste que é gente brava e esquece que não é gente séria. É dificil explicar aos mais novos que estamos fodidos. Não por causa das definiçoes mais prosaicas que nos sao atiradas pela classe pensante. Estamos fodidos porque somos fodidos. Não há volta a dar, por mais que se agitem bandeiras de mudança, pregões de esperança e melodias de bonança.
O português, como espécie humana é um ser encantador. Como gente é uma fraude. Um erro histórico.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

As eleições, Ou melhor a golpada, estão à porta e eu nem sei que vos diga. Que desta vez tenho mesmo que votar no Sócrates, por voto útil, utilíssimo, logo agora que o PSD ensandeceu, muito por via da imaturidade do seu líder, somada a uma insana sede de poder, é uma vontade que me assalta a ideia. Como cidadão preocupado e comunista convicto, sinto-me impelido a votar útil. Não consigo aceitar que um partido que quer mandar, tenha nas suas listas de candidatos a deputados da nação um naipe de fulanos que surgiram do nada para se posicionarem no plano político de mão tão beijada e lambida. Fernando Nobre, esse barbapata da cidadania, afundou a réstia de credibilidade que tinha, trazida pela mão da AMI, que lhe deu seiscentos mil votos nas últimas presidenciais e, até por via de tal mediatismo, dispensa qualquer tipo de consideração. Mais um que se enamorou pelas luzes da ribalta. Mas há pior. Carlos Abreu Amorim, sim leram bem, essa peça enfezada do simbolismo regionalista, ultra-liberal, radical e malcontent com a pluralidade, não tem sido outra coisa que não um bastião dos adeptos do pensamento único, seja na política, seja na religião ou no desporto. Candidata-se por Viana, o tripeiro. Por Viana, vejam bem. E assim, vamos ter o morador da Boavista a dormitar na AR, contando o tempo que falta para voltar à terrinha. Ao Guarani e ao Dragão (sendo que neste último caso será sempre via TV porque ao indivíduo incomoda-lhe o suor das multidões). Será, enfim, um novo Tavares (estel outro era socialista) que mais uma vez rumará à Capital com o único desígnio de fazer justiça à Queda de um Anjo, de Camilo Castelo Branco. Um pacóvio mais não é grande incómodo para os lisboetas. Sê-lo-a sim para o PSD que mais uma vez cai no ridículo com tão aturada escolha.

E Bragança? Ah, Bragança passará a ter o seu bragançafather, que vai subir do Estoril a Montezinho para, numa primeira abordagem de cariz social e religioso, mandar que se retirem as carnes de porco das alheiras. A bem da genuina tradição judaica, que este Viegas não declama mas é de cultura. Provavelmente engordará de tédio e cumprirá o seu percurso de deputado com denodo e boas falas. Será bem visto pelas elites porque nunca se sabe. Boa sorte judeu piegas.

Em resumo, se somar a golpada política que os partidos aplicaram ao país, encabeçados por Cavaco, o Maquiavel, ao despautério eleitoralista de Passos Coelho e se adicionar a isto o ingrediente Paulo Portas, o mais interessante ambicioso que conheço, fico com duas possibilidades de escolha. Chega de cheques em branco, meus senhores. Por isso, um homem de esquerda só pode dar o seu voto aos partidos realmente da esquerda. A bem da naçao. E da consciência.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Estou lembrado duma coisa. Estar lembrado não é bem o mesmo que lembrei-me. Acho que não, que é diferente. Estar lembrado é uma coisa que nos vem à ideia, uma marca que nos está cá dentro e de tempos a tempos salta-nos cá para as praias do pensamento. Por isso digo, estou lembrado de quando era pequenino e tinha mais ou menos seis anos e nas manhãs de inverno vinha para a rua brincar num passeio largo feito de calçada portuguesa que existia e ainda existe no largo de Nossa Senhora de Fátima, em Vermoim Maia, mesmo em frente à porta da casa que eu habitava com os meus avós. De manhã cedo o passeio estava coberto com uma fina camada de geada e nós fazíamos ali umas patinadelas enfiados numas botas pesadas e velhas e às vezes engatavam-se-nos as biqueiras nas falhas dos paralelos e era cá cada tombo que meu Deus!
Depois, eu e o Zé Fernando, quase sem termos frio, cantávamos uma lenga-lenga inventada por nós e que começava sempre por "no tempo em que os animais falavam" e depois cada um de nós metia lá dentro um animal e largava a imaginação em busca de falas que tinham sempre qualquer coisa de "os bichos" de Torga, sem fazermos a mais pálida ideia de que isso existia, misturados com filmes de macacada, que era esse o nome por que tratávamos os filmes de banda desenhada americanos.
Anos mais tarde, creio que já na escola preparatória, tive o meu primeiro estou lembrado disto que hoje novamente estou lembrado, através das belas passagens que aflorei no livro "O Romance da Raposa", de Aquilino Ribeiro, uma história linda e soberba que nem sei se ainda mora nos programas escolares tão prenhes de critérios abrangentes e pragmáticos onde cabe cada vez menos aquilo que é nosso de ser nosso mesmo.

(Ah, como é bom de vez em quando estar lembrado!)
E depois vieram Os Bichos de Torga e Os Novos Contos da Montanha, e Trindade Coelho, e a Filha de Labão de Tomás da Fonseca. A filha de Labão, é um livro indispensável para qualquer pessoa que saiba ler. Palavra de honra! Li-o com tal paixão que gravei na mente que o livro se chamava "A Cotovia" (quem o leu saberá porquê) e muitos anos depois andei cismado nesse título e um dia, numa feira, dei de caras com a bela Cotovia dentro do Filha de Labão. E foi tão bom.
E pronto, era isto; desse tempo guardo um frio mais doce, um cheiro mais claro e uma luz mais calma. Estou lembrado muito bem desse frio, desse cheiro e dessa luz. Estou lembrado de quando fui menino e peço a Deus que nunca disso me deixe esquecer.
E então ele chegou lá e disse "foda-se lá para esta merda de vida que eu levo!" e ficaram todos pasmados porque jamais lhe tinham ouvido um palavrão. E ralhava com as raparigas da família, chamando-lhes de puta para cima. Ora isto aconteceu porque tinha de acontecer. Como quando se começa a fumar tarde de mais, ou mesmo algum vício desproporcionado. É a conta de cada um, dizem os mais velhos, e deve ser, que um homem tão ligado nas coisas de Deus, tão aprumado e bondoso, só pode descambar na palavroada porque naturalmente tem de ter a sua conta em dizer palavrões. Pois que os diga. E nós todos também. Gritemos palavrões sem poupar. Todos temos a nossa conta em palavrões, foda-se.

domingo, 3 de abril de 2011

Caro Sr L F Vieira, estamos a ser falados na Europa não por termos perdido, sim devido à atitude indigna perpetrada por V. Exa. Demita-se.
Como Benfiquista, sinto-me repugnado com esta deriva terrorista encabeçada por si. DEmita-se.

O meu Benfica tem um problema grave e urgente para resolver: afastar do clube esta raça de cães danados, mal-formados, como é o seu caso Sr. Presidente. Demita-se.

Como benfiquistas temos de fazer uma reflexão profunda. Não nos revemos nesta atitude desta direção que se comporta ao nível dos fracos. Basta!

PS: A falta de classe da gente que manda no Benfica é o que mais me entristece. Perder um campeonato não é nada de mais. Perder o fair play é ser o último. Perder a noção do ridículo é ser pobre, perder o respeito pelo maior clube português é ser ingrato.
Parabéns aos portistas. Que festejem em paz porque eu também gosto de festejar quando ganho...

sexta-feira, 4 de março de 2011

Gosto muito do café Nespresso. Se o café Nespresso fosse um jogador de futebol seria o Cristiano Ronaldo, como aliás bem o demonstra George Clooney, que se fosse café ele seria sem dúvida um Nespresso. O café Nespresso está no cimo das coisas boas que a Nestlé criou, muito acima da Cerelac e do Nestum, duas preciosidades alimentares que quase todo o mundo provou um dia. O Nespresso não é, porém, um alimento que se tome; antes disso tudo é uma peça Vista Alegre que se tem em casa e se exibe, muito quieta e vistosa, em perfeita harmonia com o glamour emergente dos seus donos que contemplam aquelas bombocas coloridas e alinhadas de modo soviético como se estivessem numa parada militar. Não tem nada que ver com o café autêntico, o que é feito numa cafeteira italiana de atarraxar e que se toma vezes sem conta lá em casa de manhazinha, depois da sobremesa e uma outra vez depois da sobremesa porque estava bom e apetece repetir. O excelente Nespresso não chega te-lo, é fundamental não bebê-lo.
Nas lojas é pior. O Nespresso das lojinhas de produtos banais para as donas de casa insaciadas sofre mais ainda. Tomar café oferecido e ainda por cima um Nespresso? Esqueça santinha. Ou compra a baixela de casquinha em promoção ou então vá ali à praça da alimentação e tome um Delta.
Eu gosto muito do café Nespresso.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Ocorre-me muitas vezes pensar em folhas amarelas caídas na terra lisa e penteada por pés apressados e mudos. Se elas falassem, quem as ouviria negava-lhes a audiência porque estão no chão e estão amarelas. Porque me ocorre muitas vezes pensar nelas, talvez eu me detivesse um momento, se elas falassem, e por certo reparava nas suas rugas e mazelas. E pegava numa e noutra e acariciava-as mesmo sem perceber muito bem o que falavam. Elas não se importam que não as percebam porque correm paradas no mundo à espera duma brisa que as arrume da multidão e só queriam ser escutadas por uns momentos. Porque elas existem e a passagem do tempo cravou-lhes marcas encorrilhadas de castanho e ocre. E gritam olás aos velhos arrumados nos bancos e berram às crianças arredias. E choram para os namorados felizes e imaginam o coreto cheio de música perfumando a multidão apressada e triste, cabisbaixa e muda. Nem os pássaros percebem tão grande angústia.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Por circunstancial conversa, fiquei a saber que há gente dotada de uma coisa que eu humildemente classifico de "inteligência hipócrita". Gente que, como eu, tem uma linha que demarca a sua vida pessoal, social e económica carregada de compromissos. Compromissos com a sua forma de vida, em primeiro lugar, e em seguida os compromissos com a sua vida enquanto gerentes de empresa sócio-familiar, na falta de melhor definição.
Ora essa gente tem, como eu, compromissos económicos de alta empreitada face aos dias de hoje, casa para pagar, contas e mais contas, filhos a estudar e mais o que só eles sabem para pagar. Essa gente dotada de uma "inteligência hipócrita" tudo aproveita para aforrar mais uns cobres, mesmo que ponha em causa os valores que norteiam a sua forma de vida que é uma coisa sem grande importância face à forma que querem dar à sua vida. E se hoje há casais que viviam sob um regime jurídico fora do casamento para assim pagarem menos impostos e que vão a correr tratar de casar porque afinal de contas o PEC os beneficia, agora sim como juridicamente casados, outros há que desatam a divorciar porque encontram ali um regime de excepção para beneficiarem de cortes consideráveis na prestação do crédito habitação, por exemplo, ou nos compromissos assumidos enquanto cônjuges. Esta "inteligência hipócrita" é apregoada e aconselhada nos chás das cinco, entre amigas e amigos como mais uma excelente oportunidade de negócio, tipo "eles têm uma bimby e agora estão divorciados portanto eu além da bymbi que me dá muito jeito também me vou divorciar porque com o que vou ganhar em fazendo-o posso comprar mais umas coisas das quais metade nem preciso e talvez até dê para fazer aquele Spa com frequência além da ginástica e do cabeleireiro semanal".
Esta "inteligência hipócrita" é de louvar, podeis dizer sim senhor que ninguém vos bate, mas eu dispenso-a. Eu que estou completamente dissecado financeiramente, que tenho contas e rendas e filhos a estudar, dispenso essa "inteligência hipócrita", não porque seja burro ou tenha falta de lata. Recuso-a porque também recuso o cinismo e a hipocrisia e porque, cos diabos, ainda vou tendo os meu "Valores".
Sei que estou a perder, porque os dias não são fáceis, mas também gosto de atum e não morro nada nem um bocadinho se não puder trocar de carro ou ir à Mealhada comer leitão. Gosto muito de massinhas com restos e não preciso nada nem um bocadinho de ir ao Mário Luso comer bacalhau com boroa. E gosto sobretudo de me sentir um homem normal, que não vai desistir de lutar e detesta dissimular.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Hoje saí cedo. Fui passear o cão, passei no quiosque e "bom dia Dona Ilda! Bom dia, quer a bola?".
Não compro a bola nem nenhum outro jornal, tirando o Público dos sábados por causa da Fugas porque Gosto de ver aquelas coisa de viagens e vinhos embora não tenha viajado nada e ande a beber um Douro Pingo Doce de euro e noventa. O meu cão já percebeu que eu gosto de deitar os olhos aos jornais da Dona Ilda e passarteia por ali sempre muito ansioso para ir embora. Está velho e não quer confusões. Gosta de cagar na passadeira vermelha que o dono do talho colocou no passeio, como se aquele fedor a carne pudesse ser dissimulado na cor berrante da carpete, mas aquilo não é uma confusão para ele; é se calhar uma forma de me dizer "tás a ver man, andas sempre com o Benfica na cabeça mas eu cago para o vermelho" e apetece-me logo dar-lhe um cachaço, sendo que ele pensa que eu acusei a boca, porque para ele cagar numa carpete vermelha de um talho não é constrangedor a não ser por ser vermelha e por achar que eu vou aos arames.E também tem a mania de entrar em casa da Lininha onde vai de visita a uma cadelita preta e às vezes demora-se a fazer não sei o quê e dá-me tempo para ler uma crónica mais a propósito. É quase sempre nesse preciso momento que se me vem uma cólica valente e já sou eu o aflito a assobiar ao cão a ver se ele se despacha e a olhar para a carpete vermelha, dando-me conta de que nós temos cólicas como os cães, apetece-nos evacuar como eles sendo que para o efeito bastaria apenas tomar posição, apontar ao tapete e descarregar. O meu cão deve perceber isso e chama-me lorpa por eu ficar meio amarelo e ter de subir as escadas, apanhar o elevador até ao sétimo, abrir a porta, entrar, tirar o casaco correr para a casinha esquisita com torneiras e bacias de grés e só aí fazer aquilo que podia muito bem ter sido feito há mais de três minutos. O meu cão não tem um pingo de antropomorfizacão, se descontarmos a mania de levantar a pata para pedir comida, que foi um truque que eu lhe ensinei, mas de certeza que deve ter alguma esperança em me caninomorfizar porque na verdade ele sente alguma pena de eu não ser um bocadito parecido com ele.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

puro filme

Aquela gaja entrou no parque de estacionamento ao volante de um Benz descapotável, putos atrás bem dispostos, e não teve qualquer problema em estacionar o bólide no lugar reservado a pessoas com deficiência, um lugar mesmo ao lado da porta principal da Fnac. O segurança zeloso passa habitualmente o parque a fio procurando irregularidades mas no caso da gaja do Mercedes não havia nenhuma irregularidade. Uma gaja que estaciona ali e faz dos outros parvos não está no Manual de Operações e Standards dos seguranças, a não ser que tivesse vindo de Clio. Mas não. esta tinha o perfil do cliente tipo da gigante cadeia de lojas Fnac, não ia ali ouvir umas demos, ler os preços de um ou outro livro ou depositar impressões digitais nos ipades. Era certo que havia de regressar ali com carradas de jogos digitais, talvez um livro e um disco do Carlos Santana.

O meu cigarro só me deixou ver até ao momento em que o segurança zeloso ignorou aquele Mercedes descapotável estacionado num lugar reservado a pessoas com deficiência. O resto é puro filme.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

cada coisa...

Hoje já tenho quarenta e cinco anos e acordei muito cedo. A manhã estava bonita, argenta de um nevoeiro cunhado no Douro que é prata, e o sossego destas manhãs colhe-me sorrisos de privilégios.
Ando um bocado fodido, é verdade, mas ainda assim tem-me dado para olhar para diante e sorrir para o nevoeiro. Bem sei, confesso, que tenho um defeito, uma falha. Nasci com uma falha sem remédio. Uma deriva de me empascaçar de mim mesmo, que é uma coisa defeituosa e peçonhenta. Talvez se tivesse um cancro as coisas pudessem ser diferentes. Talvez aí eu deixasse de ser um ser defeituoso para ser um coitadinho sem cura. Mas com esta falha que carrego nos ombros é que não sei lidar. Não há médicos nem medicamentos nem "quimios". Só nevoeiro melancólico e mais nevoeiro melancólico.
Se em certo dia tenho ideia de génio, logo no momento seguinte a falha resolve empatar o feito. Sou em mim um desalquimista catedrático, especializado em transformar em lata o ouro da minha vida. Não sou fadista, não senhor, apenas tenho uma falha que não se vê, e é tão grande que não cabe em verruga ou protuberância que se apalpe. Juro que é verdade, podem crer.
O nevoeiro estava bonito e agora vejo chumbo no céu e, contudo, despertei em mim uma nova sensação que vem da falha. Senti pela primeira vez este ano o aroma bestialmente único que brota das azedas floridas da primavera. Cada coisa que a minha falha me inspira, meu Deus, que até nem sei se volte a sair de casa hoje.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Discussing the Divine Comedy with Dante
Discussing the Divine Comedy with Dante


Fantástico, não acham? Contudo, enviei os seguinte comentário aos autores: Hello,Great Job! Please dont forget Fernão Magalhães and Vasco da Gama, two portuguese navigators from half of first millennium wich have changed the world up to the modern era with their contribute. Thanks for giving me a chance of talking about this two portuguese, because as you know, the world must notice that Portugal is not Spain ;)

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Milionários promovem milionários ou a vergonha das televisões noticiando anúncio do banco Millennium

"Mourinho a escolher uma marca é muito selectivo" é grave, muito grave caro Sr. jornalista Nuno Luz.


Vergonha. Agora sim, batemos fundo com o jornalismo transgénico a ser-nos entregue descaradamente nos principais serviços noticiosos. Vergonha de RTP e SIC a fazer notícia da publicidade do Mourinho ao banco Millennium. Milionários  promovem milionários. Quanto não deve ter o banco pago para que um dos seus mais caros anúncios de sempre seja propagandeado desta maneira nos telejornais? Vergonha.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

A propósito de uma conferência sobre Segurança na Internet realizada Na Escola Secundária de Carvalhos

Ontem, no âmbito do dia europeu da Seguranca na Internet, fui assistir a uma conferência sobre Segurança na Internet realizada na Escola Sec de Carvalhos e que teve como orador o Dr. Agostinho Frias (GIFT da DREN).

Da presenca dos pais notei aí uma meia-dúzia, o que demonstra uma falta de interesse preocupante em matérias como esta. Mas também é necessário dizer que os pais desinteressados não perderam grande coisa. De facto, a dita palestra foi muito pobre. O orador é um funcionário da DREN, professor de filosofia que, ora vejam lá, amandou-se para a DREN onde faz parte de uma equipa de trabalho na área da formacão nas novas tecnologias. De modo que passei ali duas horas a ouvir explicaões frugais sobre a internet, sobre o Facebook, o Wikileaks e outras couves misturadas com videos de extractos informativos da rtp e da sic sobre os mesmos. Alguns conselhos sobre filtros e anti-virus, historietas contadas na primeira pessoa e um pequeno debate de 10 minutos sobre o verdadeiro motivo que nos levara até ali. Uma pobreza de palestra!
Infelizmente, o sistema educativo continua a cometer os mesmos erros por falta de visão programática, falta de quadros efectivamente direccionados para as TIs e falta de uma estratégia clara para fazer face aos malefícios da internet em matérias graves e delicadas como é por exemplo o cyberbulying. Uma pena.

O director da escola, pessoa dedicada, ainda aflorou no final os verdadeios problemas que afligem os pais e encarregados de educacão mas o precioso tempo da conferência tinha sido gasto com historietas daquelas que quase todos nós costumamos ouvir sobre as mil e uma maneiras de se fazer Internet.

Como pai e cidadão não "info-excluído", ora vejam lá, gostaria era que me tivessem dito não apenas que o Facebbok tem mais de 600 Milhões de contas mas sim se o governo da nação ou mesmo a UE já fez alguma coisa no sentido de se obrigar o Facebook a permitir que se encerre uma conta, pura e simplesmente. Gostaria de ter ouvido falar-se da pegada digital e das bases de dados que são um manancial fraudulento que alimenta o marketing e a venda agressiva. Gostaria de ter ouvido que a Escola Secundária de Carvalhos, que viveu o extenuante caso de cyberbulying no último ano lectivo, e que foi resolvido num enquadramento regulamentar obsoleto, já tomou alguma medida com vista a preparar a comunidade escolar sobre como identificar, antecipar e resolver um processo de cyberbulying com base já numa experiência acumulada. Quanto a isso, nada. Zero. E tenho pena. Pena porque os pais demitiram-se, claro, e pena por uma escola que se esforça, que é honesta mas que teima em ser autista numa matéria tão sensível quanto esta.

PS: A senhora Presidente da Associação de Pais daquela escola estava obviamente presente e teve a oportunidade de denunciar que tinha proposto ao ministério que fosse feito um curso intensivo para os pais que de repente viram os seus filhos receber um PC e uma Pen de Banda Larga atribuídos pelo Sistema ao abrigo daquela negociata entre o Governo, as operadoras Móveis e a J.P.Sá Couto, e que conseguiu reunir cerca de 80 inscrições e continua, vejam bem, até hoje sem qualquer resposta. E isto, meus caros, é uma medida que pode ajudar e muito a combater os perigos da Internet. Porque é inegável que está criado um Gap entre os pais de 40 e 50 anos e os filhos no que diz respeito ás novas tecnologias.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Em Badajoz ninguém vos conhece.

Que cinismo intelectual esta cena do Luís Pedro Nunes e da Clara Ferreira Alves relativamente aos Deolinda. ..Estes intelectuais de pacotilha são pagos para dizer tanta atrocidade, arrogantes do alto da sua ridícula escada do figurismo público.
O velho Pulido Valente foi honesto, esse sim, relevando o papel verdadeiramente catalisador dos Deolinda. Agora estes maninhos + velhos...bem instalados na vida e a falar desta geração sem emprego. Do alto da sua arrogância nem percebem q é de pouco o que percebem.

Escória de gente que é paga pelo sistema para falar do sistema. Párias da bovinidade intelectual e da bóbinidade lambecus, q é o mesmo q "venha o guito pq eu é q estou a dar". Pois do alto da minha minoritária representatividade eu digo "Fodeivos ó artolas, em Badajoz ninguém vos conhece".

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

recordar

Ainda não eram sete horas e já aquele bruto o espreitava por detrás das enormes paredes de ferro. O sol de Valência nunca faltava.
Ao longe o mediterrâneo brilhava em mil cores, e o sol de Valência quimava-lhe a pele. Não havia sombra, nem praias. Apenas ferro.
Doze horas a fio, acartando barras de ferro, amarrando ferro, comendo ferro. Era o verão quente de Valência. O soldo amargo e cruel. Dias seguidos de árduos momentos jamais sonhados, de calor infernal. De uma Espanha puta de todos os dias. De um pobre diabo. De um diabo condenado ao cruel ardor do ganha-pão. De um diabo que nenhum mal fizera. De um sonhador.
Ao entardecer, as baratas, ratos com asas, levavam-no à náusea, a um estado de descanso cansado. As ruas quentes e sujas... Depois o ferro, o betão, as molhadas de capacetes amarelos, a ferrugem. Os dias quentes de valência, naquele Agosto maldito. Fugir para longe sim. Era preciso um motivo mais. Um acto de guerra. Inglório. Valência imperial ria-se dos seus pensamentos. Um homem não sabe, precisa. Um homem busca. Revira e sonha. E encontra o pesadelo. Um homem só.
Naquele dia o sol não veio. O calor sim. E a chuva. Uma chuva desigual, como o sol. E ele correu muito sobre aquelas botas pesadas. Correu e dançou na chuva, na sua música. Que manhã tão prenhe de vida! Encharcado, suado e sôfrego, correu sem parar e deixou-se possuir pela chuva molhada e quente. Gritou olhando as ninfas, aqueles enormes tanques de betão. Amou-as no sofrimento e perdoou-lhes a monstruosidade. Estava livre.
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