terça-feira, 14 de junho de 2005

Os “arautos da verdade” insistem e persistem na ideia de que Cunhal queria impor uma ditadura soviética em Portugal. Apesar disso não passar de um famigerado “se”, o facto é que isso vai vingando, tal a força dos “média” e o empenho dos “opinon makers”. Pergunto eu se naquele quadro de guerra-fria entre América e União Soviética de então, não terão sido os americanos e os ingleses, os tais amiguinhos de Mário Soares, que o manipularam (ao Soares) e fizeram sobressair naquela cabecita oca a ideia de que Portugal seria a nova Cuba da Europa, até como forma de mostrarem aos Russos e ao mundo que eles, os capitalistas, estavam a recuperar e a ganhar terreno, tal como o viriam a fazer na Indonésia, travando a autodeterminação de todo um povo- TIMOR -, condenando-o ao jugo imperialista de Jacarta. Tudo isto foram iniciativas Americanas para combater o inimigo URSS, em todas as latitudes. E aqui valerá a pena uma outra equação: Cuba é um estado falido hoje, também graças a eles, aos americanos.
Estou por conseguinte convencido de que a missão de Cunhal foi sempre a de implementar a democracia em Portugal, de esquerda, obviamente. E a prova disso é que ele teve influência brutal no 25 de Novembro ao evitar e desaconselhar uma guerra civil em Portugal. A outra face estava armada (pelos ingleses) e ele poderia facilmente ter acesso a armamento soviético. Não o fez porém. Respeitou, foi tolerante e aceitou os desígnios do povo, apesar de saber que esse mesmo povo já estava contaminado pelo vírus da contra-revolução.
Portanto, Cunhal é, com todo o mérito, uma grande figura da nossa história. Não por ser ditador, que nunca o foi, não por ser um tirano, que nunca o foi, mas sim porque esteve sempre ao lado dos que sofrem, dos oprimidos. Ora senhores, se este homem tinha convicções, tinha lutado por elas, tinha um sonho de liberdade, porque não ter-se batido por tudo isso? Com armas? Não, meus amigos, bateu-se com paz e tranquilidade. Sempre. Lutou sempre, mesmo muito antes do 25 de Abril. Um homem destes merecia outro país. Mas era Portugal que ele amava e que o fazia sonhar.

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