domingo, 31 de julho de 2005

Sempre fui à feira de Vila Nova de Cerveira.
Como todos sabem, burguesia incluída, Cerveira é linda porque tem uma bienal e uma Espanha como vizinha. E tem árvores lindas e frondosas que ladeiam o rio Minho, de aspecto límpido.
E tem espanhóis.
Cerveira aos sábados pela manhã fica inundada de espanhóis lindos e faladores. Aprenderam a regatear os preços com os nossos avós galegos e é vê-los de banca em banca a comprar de tudo um pouco sem deixarem de exigir um desconto.
Visitei a minha banca preferida, a de um cigano de boa aparência, simpático e muito inteligente. Vendeu-me um pólo da Lacoste, vermelho vivo, por 10 euros. Agradeci a pechincha e não me vou arrepender porque ele disse-me logo, antes de eu pagar, que o pólo era falso mas “saíam bons!” e isso é o mais importante. E disse-me que no sábado passado tinham lá estado a Rute Marques e o Batanete e que o director de um importante hospital portuense era cliente semanal.
Há de facto uma classe média que adora comprar em Cerveira. Coisas de marca, contrafacção, mas bonitas, impecáveis.

Depois segui para Valença a fim de almoçar e entrei num restaurante prenhe de espanhóis. Os filhos da mãe adoram almoçar em Portugal. Servem-se de doses que abastecem um agregado familiar inteiro, a bom preço, e são impecavelmente bem tratados pelos nossos “camareros”. Assim eu reparei porque na mesa ao lado da minha estava uma família de galegos já a tomar o seu “café solo” quando o empregado aparece com a conta. Tantos foram os “gracias senhores, gracias senhores”, que eu até me deitei à espreita da gorja que o moço se habilitara a ganhar. Para meu espanto o “Sancho Pança” depositou no pratito uma triste e singela moeda de cinquenta cêntimos. E isto já descontando que a respectiva mulher já tinha enfiado numa saca plástica duas tacinhas de cerâmica com que as empresas de gelados apresentam as suas “tartitas queimadas”. Perante isto disse à minha mulher que não ia gratificar o empregado porque se ele só ganhara uns míseros cinquenta cêntimos com tanta lamechice, a mim que nenhuma festa me fez, o que é que eu lhe poderia dar? Nada, claro.

Depois fui ao monte de Santa Tecla em Espanha e foi bonito. “Inde” lá seus nabos. Aquilo vale a pena e a gasolina sem chumbo noventa e cinco octanas custa apenas noventa e nove euros o litro!

A Guarda (Galiza)








Rio Minho ( Valença)

quarta-feira, 27 de julho de 2005


quando fechei a porta senti um cheiro forte a alfazema. o meu amor trouxera um ramo que apanhara no jardim das instalações onde trabalha e tinha-o acondicionado numa jarra alta que colocou sobre o único móvel que decora o nosso "hall de entrada", que é o nome que agora se convencionou dar ao vestíbulo. confesso que me impressionou aquele aroma intenso. pensava que a alfazema era já só uma questão de marketing que ilustrava os rótulos das embalagens dos amaciadores. ou simples cheiro artificial dos estafados ambientadores que abundam por esses escritórios afora ou por esses habitáculos impecavelmente forrados a antracite.
um tipo como eu sabe bem que a alfazema existe. simplesmente não estaria à espera de dar de caras com a verdadeira, a autentica.
podia bem ser com outro tipo de flor de cheiro.
menos aloé vera. não percebo bem qual o motivo do aloé vera cheirar tão bem, sendo um extracto de cacto. uma coisa são as propriedades terapêuticas propriamente ditas ( remontam ao tempo dos franciscanos) outra é o aroma.
sabem?, eu ando a lavar-me com um gel de banho à base de aloé vera. mas é um gel de banho barato, comprado no Lidl. um tipo como eu experimenta coisas novas, não porque são novas mas apenas porque são realmente económicas.
entretanto também estou a programar uma ida à feira de Vila Nova de Cerveira, onde tenciono comprar umas roupas de bom preço e qualidade assim assim. se calhar boa. e aproveito para apreciar o rio Minho que tem bons aromas e é amigo de bons passeios.
alfazema, aloé vera, Cerveira, Minho. que bom!

terça-feira, 26 de julho de 2005


o meu filho está a ver um filme, algures numa sala de cinema da cidade, realizado por portugueses e por galegos. um sms enviado mesmo antes do início do filme informa que se trata de uma sessão muito especial porque o Alexandre pode trocar impressões em alta voz com a tia, uma vez que não está lá mais ninguém.
é claro que este dilicioso filme passou na nossa excelentíssima rtp na madrugada de domimgo para segunda, a horas tardias como sempre. é claro que eu o vi, por um simples acaso. é claro que se trata de uma história linda, de amor, de inocencia e de livros. é claro que se trata de ler, ou, "al mejor", de alguém ler para nós. é claro que nos nossos dias ninguém é analfabeto, todos lêem muito, desde revistas, jornais, e pipis, coisas sem nada mas muito faladas, muito badaladas. e os romances, um bom romance, pode até nem ser um grande romance, é capaz de mudar as nossas vidinhas. assim como um livro estúpido e vazio, cheio, contudo, de clichés da moda e levado ao colo pelas máquinas de promoção, pode fazer de nós uma cambada de futeis. é claro.
"a nossa sorte depende muito do viranço da porta de casa" dizia-me há dias um gajo ligado às coisas do mar e, por consequência, muito afecto às coisas estranhas, aos pólos e outras influências que terminam sempre na dicotomia sorte/azar. e explicava o tal marinheiro que "não é bom que a nossa porta fique virada para sul". eu peguei naquele "viranço" e quase encontrei a resposta para a má onda que venho carregando nas costas desde meados de 2003: a porta de saída do meu apartamento fica virada a sul. mas ele insistiu que a porta, no caso de um prédio, era a porta de acesso à rua. sosseguei. essa, a do meu prédio, fica virada a poente. de modo que, pronto, continuo em busca de uma resposta para o meu viranço.

sábado, 23 de julho de 2005

hoje andei perdido num pensamento que me confunde. voltar a espanha é uma equação complicada. sair daqui em busca de melhores euros é coisa danada. digamos que posso faze-lo quando quiser, porque sou livre como as andorinhas. deixar meu ninho neste beiral alegre e falido, minhas crias que já sabem voar, minha fêmea que me beija todos os dias é coisa bastante. a ideia de viajar para o lado de lá anda a meter-se comigo. caraças, pá.
este blog, este ( parabéns!!!) e mais este estão parados, ou nem por isso. mas eu insisto em os manter na minha shotlist. sim, leram bem. shot list, com rum, vodka e muito fumo.
overdose posting afternoon! yeahhhhh...after moon, after height, after nine, yeah, dezassete anos de casado!!!! consolidação de um romance, continuidade, amor. obrigado querida.
o afixe relembra que uma nota de vinte euros (rectifico:escudos) valia mais ou menos o mesmo que vale agora uma moeda de dez cêntimos. lembro-me bem dos tempos em que eu comprava, com uma simples notinha de vinte paus, um pacote de sugus, um gelado fizz da olá e ainda sobrava algum para converter em moedas de dez tostões e passar a tarde a jogar matraquilhos.
depois temos o futebol. este sítio anda a falar pouco de futebol, carago.
é claro que reparamos que há alguns posts neste desalmado food-i-do que só existem graças a enormes quantidades de uma tal cerveja boémia.

actualização: este post também evidencia sintomas de alguma moca. talvez não seja cerveja barata. absinto, quem sabe...

pum

o euromilhões merecia uma visita do comissário europeu para os jogos de azar. está a ser uma seca, como a seca, este euromilhões. nenhum primeiro prémio e, por consequência, mais um jackpot, ou lá o que é. mais uma semana de loucura com as rádios a debitarem banalidades sobre " se eu ganhasse o euromilhões". e os blogs também, que blog decente e de grande audiência tem de falar nestas merdas, de forma jocosa, desprendida, quase a pretender imitar um qualquer "montypeytonismo".
note-se que a malta, para além desta seca do euromilhões, de trinta e tal milhões de euros gastos numa semana em chaves e chavinhas, anda entretida a ver as cenas histéricas do "london, london what did you die for..." , ou coisa, e esquece que são os espanhóis quem nos fodem. fazem explendidos transvazes dos nossos rios, que também são deles, sendo internacionais, não têm problemas de seca no sul, ou se têm não se comparam com os nossos, e a malta a jogar o euromilhões. e os psicólogos e os sociólogos a dar conselhos de como deve um gajo comportar-se no caso de ganhar a dita lotaria.
que se fodam! uma bomba nesta merda é que era bom. foder isto tudo sem dó nem piedade.
"duas torres foi pouco", escreveu um gajo, certo dia. pois foi. deviam explodir com esta merda toda.
até amanhã.
pum: explodi

quinta-feira, 21 de julho de 2005

quarta-feira, 20 de julho de 2005


Nunca li livro algum da série Harry Potter, embora existam cá em casa todos os exemplares editados em português. Nem vou ler, assim como também não conto ler o Código Davinci (já o vi aqui em casa). Os meus filhos são leitores fiéis da saga de J.K.Rowling e foi com excepcional interesse que receberam das minhas mãos a revista Time desta semana, que apresenta uma breve reportagem sobre o tema.
De qualquer forma um livro que vende mais, num fim-de-semana, do que as estreias das super-produções de Hollywood merece óbvio destaque. Porque, apesar de tudo, é um livro, tem um enquadramento narrativo, conta uma ou mais histórias e cativa, pela energia da aventura, quer os jovens quer os mais velhos. Ainda bem que um livro vende assim tanto. Um livro, leram bem.

terça-feira, 19 de julho de 2005

Hoje havia frango no frigorifico à espera de ser cozinhado. De modo que disse à minha mulher que sossegasse, eu faria o jantar.
Peguei na última revista Grande Reportagem e atirei-me à receita do Francisco José Viegas.
Peitinhos de frango, pimentos, mostarda... tinha disso tudo aqui em casa, de maneiras que abri a revista na dita página e lá me fiz à estrada.
Aqui em casa a malta adora massa. Tudo o que tenha massa escapa, mesmo que não seja lá grande coisa. Cozi esparguete em água e sal e deitei um frango partido em pedacinhos a dourar em azeite. Depois retirei o franguito e acrescentei mais azeite e mostarda ( que não de Dijon- savora mesmo ) e também acrescentei uma colher de sobremesa de mel; e conhaque não tinha. É pá, faltava o conhaque. No problemo: tinha uma garrafa de aguardente vínica muito forte que me fora dada por um amigo que trabalha na Taylors, misturei um pouco de “vino do puorto” e pronto, lá arranjei uma colher de um jogador qualquer que possa substituir o Tomasson. Quem não tem cão caça com gato, né?
E pronto. Deixei encorpar aquilo, sem esquecer os pimentos verdes ( maravilha ) e voltei a colocar o fricassé de frango. Resultou bem, muito bem mesmo.
Decorei o truque e prometo que o utilizarei em muitas outras ocasiões. Com peru, com bifanas, com entrecosto. A mostarda, o mel e a aguardente vínica ( ou melhor, o conhaque) refinam qualquer conduto.
Além disso, devo dizer que durante a minha prestação como cozinheiro também fiz e bebi um favaios-tónic que bem me soube. Não tem nada que saber, basta misturar um favaíto com água tónica e acrescentar muito gelo com uma rodelinha de limão. É português, fresco e sabe muito bem. Experimentem.

sábado, 16 de julho de 2005

Cheguei a Alijó em hora e meia, vindo do Porto. É um lugar pequeno mas muito acolhedor. A Revidouro está bonita, muitos produtos da terra, essencialmente vinhos, fumeiros e azeites...e os meus também. A UTAD montou um stand com internet, donde estou a editar este post.Ao longe oiço os "Zés-Pereiras" a bombar. A festa promete e Rui Veloso é a principal atracção, lá mais para o fim da noite.
O interior é bom. Façam o favor de melhorar as vias de comunicação.

sexta-feira, 15 de julho de 2005

ela ali estava, sempre presente. colava-se naquela parede, todos os dias, paciente e de olhar lânguido, doce e apelativo, vendedora de sonhos forrados com êxtase e bordados de volúpia. conjugava muito bem a pose com a profissão e obrigava a distrações momentâneas. Punha-se de olhares até que algum moço, mais ou menos maduro, a abeirasse, quase discreto, e a conversa era quase sempre breve e concreta. a conversa fugia daquilo tudo, da magia dos seios, dos sonhos forjados entre o vermelho e o verde do semáforo.
"quanto levas?".
nada de mais, se tomarmos em consideração os dentes brancos e absolutamente certinhos. muito interessante, se levarmos em conta a sua pele clara, macia e cheirosa. quase dado se olharmos de perto o seu decote doce e bom.
a conversa é que reprimia o sonho, dizia eu, porque era um diálogo comercial, de fecho na hora, sem emoção. e que bom deveria ser poder conversar com ela, sem negócio, sem preço, a olhar o rio lá em baixo e a ouvir as gaivotas aldeeiras.
seria possível? haveria vida íntima para além daquela parede, para além daquelas quatro paredes feias e iluminadas com fraca luz? por certo sim, quem sabe. por certo há um história de amor naquele coração que palpita. há, de certeza, alguém que a ouve sem lhe bater, que a mima de gelados como se faz a uma moça qualquer, a uma empregada de balcão ou a uma vendedora da Zara.
estou certo disso enquanto inicio a marcha, porque abriu o sinal e urge chegar a casa. haverá uma casa também. e miudos e compras e telenovelas.
quem sabe. eu acho que sim.

quinta-feira, 14 de julho de 2005

Alguns Bloggers fizeram referência às entrevistas que Judite de Sousa ( a mãe da expressão "Portugalce") fez à irmã de Álvaro Cunhal e a Urbano Tavares Rodrigues. Os anti-comunistas disseram "bla bla bla" e os que se julgam únicos em matéria de "Álvaro Cunhal" disseram "bla bla bla". Eu, por mim, deliciei-me a ouvir o Professor Catedrático e senti-me muito pequenino quando ele confidenciou que aconselhou Álvaro Cunhal a respeito da forma como ele deveria escrever, na necessidade de se introduzir mais elementos pictóricos na narrativa, por exemplo. Julgo que valeu por isso mesmo, por ouvir Urbano Tavares Rodrigues que, um dia talvez, já desaparecido, será evidentemente mais escutado ainda.
Editem-se livros mas é, que aprender já todos sabem.

Ó meu caro Dr. B, desculpe lá o tom formal, mas eu insisto na perspectiva de que só o meu amigo está habilitado a falar do Glorioso e Campeão-Nacional-com-o-pior-plantel-de-todos-os-tempos (sendo que só não teve o pior treinador graças ao Csernai) Sport Lisboa et Benfica, da forma vernácula e acintosa como só o caríssimo sabe. E se quiser (ou se quiserem) um exemplo, ainda me estou a lembrar da "cara de rascunho", o melhor retrato tridimensional de um jogador, alguma vez escrito. Pronto, foi só um exemplo a provar que nem todos são delgados na escrita. Por outro lado, caro lagarto, eu tenho especial dificuldade em zurzir na lagartagem, porque gosto deles. Gosto de vós porque a camisola é sempre bonita, os adeptos perdem com o Benfica mas saem do estádio de braço dado, e a vossa equipa normalmente perde contra o SLB, quando se trata de um jogo decisivo. Portanto não pense o amigo que eu vou descer ao seu nível só porque posso. É preciso sentir.
Ademais, saiba o excelentíssimo descendente do Visconde de Alvalade que eu vou estar presente na Revidouro, sábado e domingo, e, se lhe der jeito, passe por lá para bebermos um tinto "de consumo" e verá que eu não passo de um "enfant timide". Por isso nem pense levar consigo armas de duelo; antes leve boa disposição e curiosidade bastante para tudo saber sobre os magníficos produtos que eu lhe poderei demonstrar. E já sabe: não é para comprar nada. Se bem que eu possa, excepcionalmente, puxar do livro de encomendas, uma vez que Alijó fica pouco perto da nossa mui amada Vila Nova de Gaia.

quarta-feira, 13 de julho de 2005

caro Dr. B, tu desculpa lá o tom informal, mas olha que eu tenho uma hiperligação do Diário Digital aqui no meu fedidito e, ontem, quando li este artigo pensei logo em ti pá. E também pensei em ti quando vi que o Miguelito não tem razão nenhuma. E também pensei em ti quando vi o João Pereira a pedalar na Suiça. Não sei pá, ainda estou à espera que me digas porque carga de água ganhaste pessonha ao gajo... a não ser que comungues da minha opinião: que o gajo é um vaidoso de merda e não vale a ponta de um chaveiro, acrescentando o facto de que uma recepcionista do Hotel Solverde me confidenciou que ele, o caralho do joão pereira, é mesmo um filho da mãe de um vedetinha petulante... e ainda por cima um meia-leca. Bom, fico por aqui. Já é pensar demais num gajo. Dasse...

terça-feira, 12 de julho de 2005

lembrar



Hoje faria 101 anos se fosse vivo.

XX
Puedo escribir los versos más tristes esta noche.

Escribir, por ejemplo: "La noche está estrellada,
y tiritan, azules, los astros, a lo lejos".

El viento de la noche gira en el cielo y canta.

Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Yo la quise, y a veces ella también me quiso.

En las noches como ésta la tuve entre mis brazos.
La besé tantas veces bajo el cielo infinito.

Ella me quiso, a veces yo también la quería.
Cómo no haber amado sus grandes ojos fijos.

Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Pensar que no la tengo. Sentir que la he perdido.

Oir la noche inmensa, más inmensa sin ella.
Y el verso cae al alma como al pasto el rocío.

Qué importa que mi amor no pudiera guardarla.
La noche está estrellada y ella no está conmigo.

Eso es todo. A lo lejos alguien canta. A lo lejos.
Mi alma no se contenta con haberla perdido.

Como para acercarla mi mirada la busca.
Mi corazón la busca, y ella no está conmigo.

La misma noche que hace blanquear los mismos árboles.
Nosotros, los de entonces, ya no somos los mismos.

Ya no la quiero, es cierto, pero cuánto la quise.
Mi voz buscaba el viento para tocar su oído.

De otro. Será de otro. Como antes de mis besos.
Su voz, su cuerpo claro. Sus ojos infinitos.

Ya no la quiero, es cierto, pero tal vez la quiero.
Es tan corto el amor, y es tan largo el olvido.

Porque en noches como ésta la tuve entre mis brazos,
mi alma no se contenta con haberla perdido.

Aunque éste sea el último dolor que ella me causa,
y éstos sean los últimos versos que yo le escribo.


Veinte poemas de amor y una
canción desesperada

segunda-feira, 11 de julho de 2005

Ontem foi dia de S. José do Outeiro (imagem:Josefa de Óbidos "S. José e o Menino"), um lugar com capela, da freguesia onde habito, S. Pedro de Pedroso, em Vila Nova de Gaia. O calor, misturado com o cheiro a mata ardida, influenciou o estado de espírito dos fiéis. De modo que, estando a procissão a iniciar o seu monumental cortejo, logo foi parada devido a uma cena de pancadaria protagonizada por duas famílias desavindas. Muito alarido, algumas murraças e mulherio pelo chão (que nestas coisas as mulheres são muito roliças) e o GNR muito ciente da sua nobre tarefa dizia: " A minha missão é olhar pela procissão. Liguem para o posto e chamem a guarda". A bem da causa fiel que ali levara tanta gente, as famílias recompuseram a postura de bons cristãos e a procissão lá seguiu o seu caminho, e o zeloso guarda a olhar para os anjinhos e as nossas senhoras muito bem acompanhadas pelos escuteiros impecavelmente fardados.

sexta-feira, 8 de julho de 2005

um tipo como eu almoça nos restaurantes não-restaurantes, confeitarias com fabrico próprio, de boa qualidade, dispondo de um prato do dia normalmente rico em saladas e composto por guarnição ligeira. estes sítios estão quase sempre cheios à hora do almoço e o serviço é rápido e não necessariamente mau. o espaço é muito bem aproveitado, de maneira que a malta almoça praticamente na mesma mesa. partilha-se quase tudo: o fumo do cigarro, o aroma das francesinhas espectaculares (só no Porto mesmo) e as conversas. hoje calhou de cuscar o que diziam quatro raparigas mulheres, supostamente funcionarias de um tribunal das redondezas. o tema dominante foi o trabalho, o serviço e as relações com as chefias. e conclui que não vale muito a pena pedir-se esforços extras aos portugueses, principalmente a este tipo de portugueses que trabalham das nove às cinco e recebem o seu salário entre o dia 20 e o dia 25 de cada mês. esta malta quer lá saber de questões um tanto mais pertinentes como “produtividade”, “assiduidade”, ou mesmo”responsabilidade”! esta malta precisava de fazer um estagio, de 15 dias apenas, numa empresa com pés e cabeça, com orçamentos e objectivos concretos e apetrechadas com “controladores de tempos e métodos”. morriam, tenho a certeza.

quinta-feira, 7 de julho de 2005

um dia destes...( oxalá nunca!)

Porto, 7.30, um dia destes. Centenas de pessoas desaparecidas no meio dos escombros da estação de S.Bento, no Porto, que ficou completamente destruída desde a rua da Madeira até à Av. Vimara Peres, devido a um presumível acto terrorista ainda não reivindicado. A protecção civil e os bombeiros não têm meios suficientes para fazer face à tragédia, o que levou o primeiro-ministro a pedir auxilio às autoridades espanholas. O presidente da Câmara Municipal do Porto já fez um declaração à imprensa, confirmando que tudo aponta para um acto terrorista. Até ao momento ainda não foi possível perceber-se que tipo de grupo ou organização terrorista possa estar por detrás deste atentado.
de regresso a casa e embrulhado no transito,um calor insuportável e a tsf a dar cartas. Carlos Vaz Marques salvou-me a tarde com o seu excelentíssimo “Pessoal e Transmissível”. a delicia do programa de ontem trouxe-nos a reposição de uma entrevista ao editor/tradutor Michel Chandeigne, um francês rendido a Portugal e a Lisboa, aos nossos escritores, vivos e desaparecidos, novos e velhos. artesão desse oficio raro mas banalizado por inúmeras editoras de tudo e mais alguma coisa que venda, sem critério, sem alma, sem arte, Michel Chandeigne consolou-me o espírito porque ainda existe para os livros, e consequentemente, despertou-me um sorriso de sincera satisfação.
como me soube bem a mensagem clara de que temos alma de escritores, que somos um pequeno país, com uma língua “estranha” e, contudo, recheado de escritores cujos nomes ombreiam com Rilke, Joyce, etc.

quarta-feira, 6 de julho de 2005

Serafim tem um especial orgulho numa colecção de cromos que guarda religiosamente desde 1968. o bacalhau, numero quarenta e dois, está um bocadito desfeito mas era, de longe, o mais difícil de encontrar. o cinquenta e três é o rato e o grilo é o três. ficaram as estampas, coladas com farinha e água numa caderneta muito pequena e feita de papel sebenta. e na memória fica o sabor único dos rebuçados, cor de mel, muito pequenos e que eram envolvidos pelas “vitórias” o nome que se dava àquela colecção.
penso tratar-se de uma edição vendida apenas no Porto e arredores, não sei bem. tinha eu os meus cinco anos e regalava-me a vê-las, e consolava-me com os rebuçados. ajudava os meus irmãos a fazer a cola com farinha e água e jogava ao “vira” com os cromos repetidos. não sei se algum dos visitantes do food-i-do teve alguma experiência com esta fabulosa colecção e, por outro lado, bem me esforcei procurando nos motores de busca por qualquer coisa que faça referencia a isso e não tive sucesso.
recordar é bom, de qualquer modo.

terça-feira, 5 de julho de 2005

ele era o Ginja, o maior. tratavam-no assim porque passava os dias a fazer sinalética para o transito. vestia uma farda à fidel e trazia umas barbas brancas e longas. na mão esquerda segurava uma vergasta à coronel. era um cromo, o Ginja. Efigénia era muito amiga dele e dominava-se por uma ligação conjugal, não ao doido varrido que era o homem, mas sim à sua indumentária. Efigénia sempre adorou fardas e contam os mais velhos que não havia bombeiro na vila que não tivesse sido estímulo para os seus longos orgasmos matinais. de modo que o Ginja sentia-se um modelo para a cachopa. apesar das suas nobres tarefas, o transito e a maldita passadeira, Ginja nunca deixara de lhe botar olhinhos marotos de brigadeiro. Efigénia, já gasta e sem vontades, correspondia aos sinais do cromo e de vez em quando sentia-se menina, para logo acordar daqueles repentes porque o rubor mandava mais e as tarefas da igreja impediam tais propósitos.
solteirões e amantes, como a terra e a lua, Efigénia e Ginja nunca se aproximaram, jamais se tocaram e há quem diga que tal romance só podia ter dado no que deu, nas recordações de tudo o que podiam ter feito e não fizeram , nunca fizeram. por isso o Ginjas era o maior, porque era o dono daquela história. e Efigénia era a Geninha do Ginjas porque se sentia dele, sendo só. sentia-se uma mortalha sem tabaco mas cheia dos aromas de uma juventude sonhada, passada sem passado e queimada como um triste cigarro nos lábios de um homem só.

segunda-feira, 4 de julho de 2005

Maria do Sameiro era uma boa sopeira. uma sopeira, sem ofensa, muito dedicada que via as colegas subirem na vida, pensando ela que tal se devia à velha questão de sempre, a regra mais básica de toda a coexistência humana desde os tempos de adão e eva: a graxa. resolveu então esmerar-se mais ainda. e um belo dia decidiu que o patrão não mais limparia o cu sempre que ela estivesse de serviço. ora o patrão tinha o estranho hábito de, ao cagar, escrevinhar umas coisitas no papel antes de limpar o orifício metrosexual. Maria do Sameiro sabia disso e mais do que prestar um óptimo serviço ao seu mestre, mais do que esperar uma promoção na sua carreira, ela passou a coleccionar os papéizinhos, sem merda, mas cheios de merdas escritas pelo seu dono. Maria do Sameiro andou nisto dias e dias, consta-se que mais de ano, e via as amigas subirem à glória da consagração editorial. De modo que desatou a compilar os rascunhos e decidiu lê-los. e aprendeu umas coisas e percebeu que, em sendo burra, podia ao menos escrever coisas para as amigas sopeiras. elas iam adorar, assim como ela adorou toda a porcaria que elas escreveram, assim como ela elogiou todas as merdas que elas editaram. o patrão deu um jeito e arranjou uma editora que tinha uma executiva para os "assuntos de sopeiras escritoras", a bem da verdade, uma ex sopeira e ex limpa cus. Consta-se que houve uma grande festa e que no momento dos autógrafos, Maria soltara um desabafo que marcou a sessão e que foi, inclusivamente ( um termo bem á sopeira, hein?), citado no cabaré da coxa. Maria teria afirmado que estava feliz porque realizara o sonho da vida dela: escrever um livro de merda.


da janela donde trabalho vejo a capela do Palácio dos Pestanas, hoje sede do Governo Civil do Porto. se a minha memória não me atraiçoa, este belo edifício serviu de albergue a muitos retornados de África. da África que comemora mais ou menos trinta anos de independência. como este, muitos edifícios públicos, mais ou menos abandonados, serviram de abrigo aos milhares de portugueses expulsos de África. como foi o caso do belíssimo Grande Hotel da Granja, um edifício queirosiano que, ainda hoje, está condenado ao degredo do abandono. seria justo, portanto, fazer-se um breve levantamento de edifícios-albergues-de-retornados que hão-de estar na memória viva de muita gente. bem sei que este tema não é fracturante, nem aborda as grandes questões do presente, como são o facto de termos de voltar a Espanha para comprar gadjets e viagra e andarmos a comprar ganza de Marrocos. mas é um tema, contudo.

sábado, 2 de julho de 2005


ó josé, tu caíste na armadilha, disse maria com uma voz seca e fria. josé olhava-a com aparente atenção, fingindo dar crédito às palavras da mulher.
vou mas é ler um bom capítulo daquele livro que tem como nome o retrato do artista quando jovem, disse eu, o narrador deste esplêndido excerto literário.
e no momento em que decido levantar-me da minha secretária, descubro que o protagonista deveria chamar-se bernardo. fica bem um bernardo num conto.

ó bernardo, tu caíste na armadilha, disse maria com uma voz seca e fria. bernardo olhava-a com aparente atenção, fingindo dar crédito às palavras da mulher.

e assim o narrador contemplou o seu belo texto e resolveu considerar que valeu a pena pensar no retrato do artista quando jovem.

milhares de cidadãos do planeta vibraram com o live oito, um festival de musica à escala planetária. um recalque, ou decalque, do celebre live aid de 1985. parece que é por uma boa causa, que as há imensas e nem sempre à escala planetária.

ontem no escritório, uma colega abordou-me e perguntou-me se eu costumava comprar água de garrafa de plástico. claro que sim, disse eu, e ela pediu que eu lhe levasse as tampas porque há uma recolha de tampas para que se possa oferecer uma cadeira de rodas a uma menina de gaia. gaia é a minha terra e a menina precisa de ajuda e eu cá em casa tenho o bom hábito de separar os lixos e não me custa nada levar as tampas para a tal recolha. se isto é verdade, é pois uma boa causa. caso contrário anda alguém a criar uma mega rede de lixeiros especializados em lixo que dá dinheiro. depois vende-se o bruto da coisa e factura-se uma boa maquia. e se é verdade que a boa iniciativa do live oito é séria, tudo bem. mas ninguém me garante que aquilo não passe de uma ocupação de tempos livres de uns tantos roqueiros, grande parte deles dinossauros, que nada mais fazem do que promover a sua imagem. não sei, não. e não me interessa muito. aliás passou-me ao lado porque já não suporto os pink floyd de agora nem o paulinho dos beatles e muito menos o elton dos óculos
oiço o barulho efémero das moedas, que parecem catraios a brincar, saltitando na algibeira do meu casaco já gasto. moedas pobres mas muito activas. elas entram quase sempre aos pares e saem em grupo, raramente permanecem mais de meia hora naquela morada de ocasião. o estacionamento, o café e o tabaco dão-lhes destino marcado. e circulam, sempre contentes, indiferentes à sua condição de vil metal. as mais crescidas estão na primeira fila e, uma vez ou outra, as mais pequenitas ocupam espaços vagos no transporte da troca comercial. são como "moços de trolha" que ora tapam um buraco, ora completam uma tarefa mais básica. raramente são valorizadas, a não ser na caixa de pagamento do supermercado Lidl, onde a conta acaba quase sempre irremediavelmente em "ponto" três cêntimos, ou dois. essa moedinhas, de leite, parecem já um coisa de importãncia. ninguém as recusa e cabem sempre na algibeira. as maiores, orgulhosas, quase as pontapeiam, porque sabem que tais ganapitas as impedem de sair mais cedo. as moedas são uma sociedade viva, como a das abelhas, a das formigas.

sexta-feira, 1 de julho de 2005

o grande thor sabe o que é bom.


via attu

O Rogério, do Indústrias Culturais enviou-me um inquérito para um trabalho académico que está a elaborar. Respondi com gosto:

Inquérito
1. Como começou o seu blogue [razões, objectivos]?
Tomei conhecimento dos blogs através da imprensa e fui ver. Gostei da ideia a aderi.
2. Quando começou?Em Julho de 2003
3. Criou mais do que um blogue? Nomes; blogue individual ou de grupo?
Não

4. Tem preocupações estatísticas (periodicidade, temas, audiências)?
Tenho. Relativas, mas tenho.
5. Antes dos blogues teve alguma experiência na internet (grupo de discussão, comunidade MSN). Se sim, como foi essa experiência?Tinha um experiência no IRC Chat que já estava afastada.
6. Quais os temas do seu blogue?Meltingblog
7. Quais os temas que procura ler na blogosfera?Filosofia, politica e generalidades.
8. A sua perspectiva é optimista ou crítica deste universo?
É criticamente optimista
9. Como define um blogue?Um blog é um registo de textos na web. Pessoalmente acho que um blog é um “tomagochi” da Internet, um webdog.
10. Que níveis etários são, na sua perspectiva, os dominantes nos blogues (7-14, 15-24, 25-34, 35-44, acima dos 45 anos)?25-34 e 35-44
11. Acha que são mais masculinos? Ou femininos? Como caracteriza os de cada género sexual?Unisexo. Os femininos são diabolicamente atraentes e melosos quanto baste. Os masculinos cheiram muito a cavalo.
12. É capaz de idealizar qual será o universo dos blogues daqui a cinco anos? Para onde vão os blogues? Hoje encerrou o Barnabé (devido a uma birra). Acho que os blogs colectivos resistem menos e daqui a cinco anos talvez surja um outro tipo de coisa, mais sofisticada (talvez à boleia do UMTS). Em todo o caso faço notar que isto tudo não é mais nem menos do que um mundo silicone: tudo mexe muito fácil e rapidamente.
13. Que tipos de blogues acha existirem (exemplo: políticos, de jornalistas)?
Há blogs de todas as naturezas. Gostava de ter um blog sobre a morte, mas acho que ninguém lá iria.
14.Qual acha a percentagem de blogues dedicados ao jornalismo? E ao ensino e comentário do jornalismo?Não tenho uma ideia quantitiva.
15. Como entende os comentários no seu blogue e no de outros?Acho os comentários como um apêndice das salas de chat. Há blogs que vivem dos comentários e há blogs que, apesar de poucos comentários vivem do impacto que exercem nas cabecinhas de quem os lê.
16. Usa as diferentes potencialidades dos blogues, como fotoblogue, videoblogue?
De quando em vez, sim.
17. Um blogue é um espaço literário? Ou visual? Ou outra coisa? É um espaço onde há tudo. E pulgas também.
18. O escrever um blogue aumenta ou diminui o consumo de práticas culturais (televisão, cinema, jornais, livros)?Aumenta nos livros (até dá livros) mas retira televisão ( o que é bom)
19. Tem lido livros sobre internet e blogues? Quais? Que resumos pode fazer deles?Nada. Sou contra livros de blogs, não leio.
20. Conhece pessoalmente blogueiros desde que tem o seu blogue? Como chegou ao seu conhecimento? Estabeleceu alguma amizade com eles?Sim, conheço através de alguns encontros de bloggers. Penso que fiz um ou outro amigo.
21. O escrever no blogue alarga contactos ou isola quem o faz?Alarga, definitivamente.
22. Indique até três blogues que fazem parte da sua leitura diária.
Blogamemucho, Blasfémias e Erotismo na Cidade
23. Indique pessoas – em especial não blogueiros – que têm um interesse grande sobre este tema.
Jornalistas, intelectuais e puxa-sacos.
24. Conhece algum blogue cuja temática – jornalismo regional ou de proximidade – seja idêntico ao seu? Qual?Não conheço.
25. No caso de um blogue de jornalista acha que ele respeita as regras e princípios profissionais, como clareza e exactidão?
Quase nenhum jornalista respeita isso, portanto aqui passa-se o mesmo.
26. Dados sociográficos: idade, habilitações literárias, função profissional.
39, 12º ano, consultor
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