Ontem fui tomar café no bar do restaurante McDonalds do Gaiashoping. Porque é Buondi, custa apenas quarenta e cinco cêntimos (num shoping, vejam bem!), vale sempre a pena perder alguns minutos na mesma fila donde os putos pedem os “Sundaes” e as cotas as meias de leite. À minha frente duas matronas. Bem vestidas, classe média bem paga. Bem podiam ser professoras de carreira, daquelas que têm marido bem posto na vida. Ou podiam ser divorciadas ou viúvas.
De mãos nos bolsos, de puto reguila, eu esforçava-me para lhes tirar uma ou outra palavra que elas iam soltando à medida que esperavam como eu:
- Quantos anos faz afinal? Quarenta e nove ou cinquenta?
- Cinquenta, respondia a outra com um sorriso muito largo a desmascarar as rugas escondidas por detrás da maquilhagem. Mas sou muito feliz com os meus cinquenta anos.
Por momentos fiquei paralisado com o que ouvia e via. Dez anos separavam-me daquele momento. Suei “mentols” de arrepios. Eu estou a entrar nos “quarenta”, e a distância dos trinta foi uma coisa tão rápida mas indolor, mais barriga menos barriga, mais um quilo ou dois, mas sempre a carburar. Os próximos dez anos representam aquele estado artificial? Aquele sorriso plástico e todo um conjunto de manhas e manias para parecer aquilo que já não serei nunca? Dez anos em declínio narcísico, a olhar para os espelhos das montras e a ver-me velho todos os dias? Um susto. Uma agonia.
Já noite dentro, apanhei-me em casa e dei com a minha filha a gravar um concerto do Robbie Williams que passava na televisão. Fiz um “zapping”, porque pai que é pai tem de ter sempre o comando na mão, e dei de caras com o filme “The Doors” que passava no AXN. “Vais levar com isto”, dizia eu para dentro à minha filha. À medida que Jim Morrisson brotava do excelente Val Kilmer e eu via a minha filha de olhos arrebitados a olhar para aquelas cenas, as pilas, o álcool, o LSD, eu extasiava. Eu ali, de 40 anos, a partilhar com a minha filha adolescente e pré-universitária uma coisa de que tanto gosto. E ela a ver, fingindo-se interessada.
Ainda o filme não tinha atingido os anos setenta de Morrisson e ela atira-me:
- Vou para a cama. Olha pela gravação por favor.
Fiquei velho outra vez. Raios partam os Doors e os anos longínquos. Melhor seria ter gramado o concerto do Robbie, as orquestras afinadas, os violinos, os beijinhos ao público.
Fui para a varanda e fiz um cigarro. Afinal, naquele instante o tempo tinha mesmo recuado uma hora.
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