sexta-feira, 14 de janeiro de 2005

coisas de nada

Mariana esgueirou-se da janela alta, quase gótica, e não viu nada. Pensava no mar cheio de ondas e espuma branca. O mar era o seu sonho e as ondas as suas asas. Voar dali para fora, solta das amarras impostas pela fabrica, a linha de montagem e o barulho horrível dos teares, era um desejo febril que inundava o olhar cansado daquela mulher.
O sol a esconder-se e ela deitada nele a saborear a viagem longa.
O caminho para casa levava-lhe o ocaso, rápido e cruel, escuro, e a janela da camioneta servia de tela para outros filmes.
Nada mais aconteceria naquele fim de tarde de Janeiro. A casa, as lides e as ondas de espuma branca a debruar os lençóis amarrotados.
Mariana deitou-se cedo e nem ligou a televisão. Não viu o outro mar, cheio de fúria e destruidor de todos os sonhos. O seu sonho era outro e nada deste mundo é mais forte do que sonhar.

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