Era um homem de trabalho, baixito e de barba teimosamente mal aparada. Vestia roupas de marca própria, da feira de Cerveira, e jogava futebol de salão todas os sábados.
Hilário Eleitor tinha, contudo, um problema de saturação. A mulher servia-lhe sempre a mesma refeição: feijoada com mão de vaca. Hilário comia sem moer, arrotava e, depois, procurava consolo no bagaço da tasca do Manel.
Todos os dias a mesma receita.
Horácio Eleitor estava decidido em experimentar a mudança. De maneiras que um dia resolveu que ia jantar fora. Dispensou o futebol de salão com os amigos e marcou mesa no restaurante mais povoado da vila.
Foi muito bem acolhido pelo chefe de mesa. Era agora um cliente e notava bem a diferença no trato. Tudo era agora diferente e sedutor. Disseram-lhe, porém, que consultasse a lista e escolhesse a melhor alternativa. O melhor prato, a mudança, em suma.
Hilário Eleitor não sabia ler. Olhava em volta e o conflito interior inibira-o. O melhor seria apontar qualquer coisa da lista. A mudança, afinal, estava ali à mão de semear.
O empregado percebeu claramente o pedido e prometeu pouca demora. Hilário pensava, ansioso, na mudança. E a mudança não se fez esperar: feijoada com mão de vaca. Raio de sorte a do Hilário Eleitor! Afinal ia comer mais do mesmo. E comeu e não moeu.
Na mesa ao lado percebeu que os comensais estavam satisfeitos e percebia-lhes a gula. Mas que posta de carne suculenta! Como se chamaria aquilo? Hilário ouviu então o mais velho da mesa solicitar o serviço do empregado e percebeu claramente a palavra “more”. Devia ser o nome daquela mudança. E Hilário pediu “More” ao empregado. E o empregado voltou com mais do mesmo. E Hilário Eleitor comeu e calou.
Não percebia bem tamanha sorte. A mudança estava ali ao lado mas a escolha acabava sempre no mesmo.
Hilário Eleitor foi para casa e disse à mulher que ela era a melhor cozinheira do mundo. Ela abraçou-o e avisou:
- Amanhã é dia de ir votar na mudança.
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