sexta-feira, 7 de janeiro de 2005



Vamos lá ver uma coisa. Nascido em sessenta e seis, eu ainda me lembro das excelentíssimas marcas de tabaco do estado novo . Adorava o pacote dos “Definitivos” porque trazia 24 cigarritos sem filtro. Do outro lado estava o “Kentuckys” (nem sei se é assim que se escreve), o célebre “mata-ratos”, com apenas 12 cigarros, ou coisa assim. E depois havia o “Três Vintes”, o "Provisórios”, o “Paris”, o “Sagres” e mesmo o "Ritz". Eram marcas muito consumidas no início dos anos setenta.
Baratos, simples e turbulentos, os cigarros de um povo pobre passaram a ser substituídos por marcas mais sofisticadas. Os “SGs” apareciam com toda a força e devo dizer que sempre cognominei o “SG Filtro” de “ o tabaco dos trolhas” porque na minha pré-adolescência apenas os miúdos que trabalhavam nas obras tinham dinheiro para comprar tabaco. Era um vê se te avias de “éssegêfiltro”, a causar inveja aos estudantes tesos que nem um pau.
Ora bem, depois apareceu a “geração de setenta”, já com o seu “Pocket Money”, e o dinheirinho para o autocarro. Iniciava-se aí a “primeira passa” e o padrinho era invariavelmente o “SG Ventil”.
Entretanto a malta casou e arranjou filhos e tal e, entre umas e outras coisas, veio a União Europeia e a abertura total do mercado e o poderosíssimo “Marlboro”, claro, não veio sozinho. Trouxe o “Lights” e deu uma mão ao “Camel” e a outras marcas importadas. Uma maravilha!
Acontece que a malta continuou a dar preferência aos “éssegês”. Raio de vício dos portugueses! Um povo que copia tudo, importa tudo do que há e do que não há. Bebem “Coca-cola” à força toda, usam “Levis” a torto e a direito, mas mudar de marca de tabaquinho é que não. Um fenómeno a merecer estudo aos estudantes de Sociologia!

Há bem pouco tempo surgiu o fatal golpe de teatro: os “éssegês” têm pesticida. Coisa grave! Há que mudar de marca.
Eu não mudei, pronto. E não mudo.

E tudo isto para dizer que, afinal, há umas análises mandadas fazer em Itália a afirmar que o meu “ventilito” não tem nada de pesticidas.
Arranjem outro estratagema, sim? Os “éssegês” continuarão a ser o símbolo maior da nossa independência.
Viva Portugal. Pim!

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