Aquela janela estava virada de baixo para cima. Tinha quatro vidros enormes separados por um caixilho de madeira. Estava de pernas para o ar.
Como podia aquela janela estar ao contrário? Fora sisma de quem a lá pôs? Fora engano? Superstição? Ninguém sabe. Aquela janela era um mistério. Dela podia ver-se o chão por cima do céu. Podia ver-se coelhos voando e pássaros a rastejar para a toca. O mundo às avessas era coisa estranha e tinha ares de pesadelo. Aquela janela era maldita!
Um dia, alguém decidiu parti-la. Havia urgência em repor a normalidade das coisas. Arrancaram-na da parede e saltaram para cima daqueles vidros claros que se partiram, frágeis e quase indiferentes. Todos ficaram aliviados, decerto. Um deles debruçou-se no parapeito da antiga janela e olhou para fora. Nada. O mundo tinha desaparecido.
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