terça-feira, 2 de março de 2004

"mãe ana"

Tininho, (era assim que a minha avozinha me chamava) vou-te contar uma história:

…Há muitos anos havia duas irmãs que viviam na mesma casa e costumavam ir à “bouça” acartar lenha para o fogão. Faziam-no alternadamente, de modo que certo dia, estava a mais velha entretida a apanhar uns paus de eucalipto quando lhe aparece uma velhinha de olhar muito curioso:
- Ora dizei-me lá linda mulher, gostas da Primavera?
- Gosto sim, disse a mulher de pronto. É muito bonita a Primavera. As flores, a verdura e as andorinhas a chegarem do lado de lá do mar...
- E gostas do Verão?
- E não havia eu de gostar do Verão? O sol, ai o sol! E os dias enormes e as noites quentes. As festas e romarias e os bailaricos. Adoro o Verão.
E continuava a velhinha:
- E gostas do Outono?
- Também gosto. As colheitas, os frutos maduros e aquelas tardes de Setembro, a adivinharem o Inverno, fazendo-nos ir ao guarda-vestidos em busca de agasalhos. E as Castanhas quentinhas…
- E do Inverno?
- Do Inverno também gosto muito. Sabe, adoro estar à lareira a fazer renda e a ouvir o ronronar do meu gato. E depois temos o Natal e as prendas e as rabanadas. Gosto sim minha senhora.
Então a velhinha deu por terminado aquele inquérito e disse à mulher:
- Toma, leva esta caixa e abre-a só quando chegares a casa mas não contes a ninguém desta nossa conversa.
-Pode dormir sossegada que a minha boca é um tumulo.
E lá foi a mulher para casa a mais a caixa. Em chegando a casa ela dispôs-se a abrir a caixa e, já na companhia da irmã, quase desmaiou ao verificar que dentro da caixa não havia nada mais que muito dinheiro e lindas jóias.
A irmã logo se aprestou a perguntar donde ela tinha trazido semelhante coisa.
- Foi uma velhinha que estava no bosque. Não me perguntes porquê que eu não te vou dizer. Promessas.
A mais nova não se conformou e já só se via no bosque em busca da velha.
Na semana seguinte tocou em vez à mais nova a ida ao pinhal. Por lá andou e quase nem apanhava lenha de tanto pensar na velha. Até que a velhota lhe apareceu de rompante e, abordando-a com o seu jeito sábio, fez-lhe o mesmo questionário.
- A Primavera? Olhe que nem por isso. Muitas alergias, os fenos, depois a passarada caga-me o quintal todo e a canalha desata logo a vestir roupa de Verão e cai-me na cama e é um castigo.
O Verão podia ser melhor, não fosse o raio da canícula. E depois temos as festas. E as praias, os farnéis diários. Olhe é uma coisa de trabalhos.
Do Outono nem me fale. Tanto trabalho, tantas colheitas e a morrinha e o frio…O Inverno ainda é pior. Detesto o Inverno, minha senhora. Tamanho frio nestes montes não há.
De modos que a velha lá lhe deu uma caixa e as mesmas recomendações.
Em chegando a casa mal esperou pela irmã, tal era o desejo em tocar nas jóias e contar o dinheiro. Montes de cobras e outros bichos maus saíram daquela caixa e logo devoraram a pobre mulher que nem tempo teve para dizer um “ai”.

Moral da história: Tudo o que é diferente tem sempre coisas boas, um lado positivo. Aqui na blogosfera, apesar das diferenças, tudo tem coisas boas, tudo tem o seu lado positivo.


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