terça-feira, 22 de junho de 2004

quanto vale uma bandeira

Por uma bandeira tudo pode acontecer. Tinha acabado de colocar uma daquelas bandeiras de Portugal, com suporte e tudo, no vidro de trás do meu carro quando, em plena auto-estrada, o raio do engenho, mal colocado suponho, dá um pinote e vai parar à escapatória. Isto aconteceu hoje de manhã, mesmo depois de passar o nó de Vilar de Andorinho, em Gaia. Não tive outro remédio senão continuar a marcha até bem junto da ponte do Freixo e, só ali, tomar a saída para Gaia, invertendo o curso. Contava que, em chegando de novo ao nó de Vilar de Andorinho, retomaria o sentido para o Porto e encostava à berma para apanhar a “minha” bandeira. Mesmo a chegar ao local, ainda no sentido Porto- Lisboa, olho para a minha esquerda e vejo um mariolas a colocar a minha bandeira no sua camioneta tipo Mitsubishi Canter, de caixa aberta, e carregado com tábuas. Buzinei estridentemente enquanto fazia o nó para virar a Norte. O raio do manganão fez orelhas moucas. Tramado. Acelerei, e, mesmo antes da ponte do freixo encostei à camioneta e sinalizei convenientemente o meu fito. Não é que o espertalhão me ignorou compulsivamente? Ó raio dum caneco. Já a subir o “estádio do Dragão” insisto com o ladrãozeco, mas ele nada. Fiquei possesso. Decidi ali mesmo tomar o encalço daquele filho da mãe até onde fosse preciso ir. Entrámos na Via Norte e ele, sempre indiferente, nada. Eu sempre a insistir. Ao passar pela Efacec a camioneta faz-me uma finta. Sai, abruptamente, em direcção a S. Mamede Infesta. Não o dei por perdido. Mais à frente, agora junto à Super Bock, saio também e vou esperar que ele me apareça, em sentido contrário, para retomar a “Via Norte”. Assim foi. Ele a passar, com a bandeirinha, a minha bandeirinha a esvoaçar ao vento e eu a dar máximos, ali numa transversal.Parecia um filme. O que se passaria na cabeça daquele ladrãozito de ocasião? Teria pensado: “o gajo é food-i-do”. E lá entrámos na Via Norte, eu sempre atrás e a sinalizar constantemente, ora com os máximos, ora com a mão. Ele sempre impávido. Eu tinha ainda alguns quilómetros a meu favor, já que o meu escritório é na Maia, de modo que segui o seu encalço, tranquilo – marcação Homem a homem, como convém. Passámos a Maia e eu já deveria ter saído da “Via Norte”. Optei por seguir na peugada do malandro, numa jogada de autentico Póquer: “ tu deves estar próximo do teu destino e, estou certo, não vais querer levar comigo a reclamar o que é meu”. Estávamos já no Castelo da Maia, eu a desesperar porque tinha que virar na rotunda do “ISMAI” e ele parecia mais decidido do que eu. Até que surge um dado novo, o trânsito naquela zona abranda bastante. Eu pressionava-o constantemente. De súbito vejo o braço do meliante muito esticado. Olho para a bandeira e ela deixa de estar hirta.Pensei: "estás a chegar ao teu destino. tem de ser agora. Se passas a rotunda eu vou ter que desviar". Mesmo ali na rotunda do “ISMAI” a bandeira cai. Eu abrando. Apanho a minha bandeira e faço-lhe um estridente manguito. O homem seguiu a sua marcha. O que terá ele pensado? O que vale uma bandeira.
E foi assim que eu vivi uma história sobre a bandeira de Portugal. Conto-a com um sorriso nos lábios. Este final feliz só me dá mais força para continuar a lutar por um objectivo. Nem que seja uma simples bandeirinha de Portugal.

Sem comentários:

Web Analytics