quinta-feira, 18 de novembro de 2004

acerca de crianças

Se nos detivermos à volta da problemática das instituições de acolhimento de menores certamente que, sendo nós tão sensíveis a estas causas, identificaremos inúmeras situações com as quais não estamos de acordo. É o caso da Casa do Gaiato, essa instituição de “brend name” instituído, tal como a Cerci é já uma marca de sucesso no caso da deficiência mental (o assunto “Cerci” fica para outra oportunidade).

Eu defendo, declaradamente, que uma criança que sofre já, de forma perfeitamente cruel, a mais penosa das desgraças humanas que é a ruptura com a célula principal da sua construção como ser humano (a família), jamais deveria ser colocada em ambientes alternativos (a Casa do Gaiato, por exemplo) onde, para além de tudo, ela tenha que lavar a loiça, ir para o campo, pintar as paredes e chapar massa, de entre outras coisas que nunca por nunca elas fariam sistematicamente se tivessem tido “outra sorte” na família.

Ora a Casa do Gaiato obriga a este tipo de vida às crianças que acolhe. Outras casas também o fazem, evidentemente. Isso pode não ser considerado como “ maus-tratos” numa perspectiva de senso comum. Mas são “maus-tratos” sim porque é urgente que na mente das pessoas passe a residir que o conceito de “maus-tratos” vá muito além das meras práticas de violência física, sevícias e outras situações mais complexas. Maus-tratos é, essencialmente e quando estamos a falar de crianças, privar essas mesmas crianças de um conjunto de vida, de quotidiano o mais próximo possível do conceito de “ pedagogia da felicidade”. Essas crianças carregam nos ombros o jugo da separação da família. Têm culpa? Porque raio de carga moral se impõe a uma criança separada da família a hercúlea missão de pagar o seu sustento com o seu corpo?

Meus senhores, eu bem sei que a Segurança Social tem técnicos válidos e percebo onde eles querem chegar. O problema está nas mentalidades. Repensem o vosso conceito de “maus-tratos” (se quiserem estendam-no para outros domínios). A forma como olhamos uma criança, a compaixão compulsiva que empregamos para com uma criança destroçada pode ser um acto declaradamente impregnado de maus-tratos.

4 comentários:

Anónimo disse...

É evidente que o quera bom há 20 anos já não é hoje. Naturalmente que a política educativa da Casa do Gaiato tem que ser adaptada aos dias de hoje. Mas também concordo que as crianças devam ter alguma actividade extra-curricular, pequenos trabalhos leves. Os nossos filhos tb ajudam a mãe em pequenas coisas: é só isso que se deve exigir.
Orlando (desculpa lá, Altino, mas não me dou com esta coisa de passwords: vai mesmo anónimo e anódino!) :)

ATF disse...

O problema não está nos pequenos trabalhos, pequenas tarefas. O problema está em obrigar as crianças a desempenharem tarefas sistematizadamente produtivas: vacarias, pocilgas, trabakhos nos campos...forçados e sempre com a velha sina "és um infeliz e portanto, estás condenado a esta vida". e os castigos enfim...

Anónimo disse...

Ja foste alguma vez a uma das casas do gaiato?
Altino, pergunta ao meu pai o que ele pensa da casa do Gaiato.

Sonia

ATF disse...

Outro tempos Sónia. Deves, por certo, concordar comigo numa coisa: novos métodos e novas práticas são necessários. Ainda mais necessários em casas como a casa do gaiato.

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