Um gajo sabe que a vida vai mal. Anda-se neste mundo com a sensação de que tudo nos cai em cima, de que o raio da sorte só acontece aos outros. Um tipo esfalfa-se para ganhar a vida, tem ambições e fica espantado quando as coisas não saem bem. Um homem tenta uma explicação para a merda da vida que é tão madrasta, o salário que não dá para nada e o raio do endividamento que nos come a cor do cabelo. Um gajo olha para os filhos a crescer e só pensa em como dar a volta por cima, para que eles possam tirar um curso e encontrar uma oportunidade para a vida deles que aí vem. Um gajo esfola os neurónios, não a ler ou a pensar como é que há de dar a volta ao filho da mãe do governo, cambada de incompetentes, esfola os neurónios, dizia eu, para encontrar soluções de sobrevivência. Caminhos menos áridos para superar a responsabilidade de estar cá, ser pai, cumprir com os compromissos. Um gajo fode-se bem, acreditem.
E um gajo, de repente, vai ao café de sempre, toma o mesmo café de sempre, embora mais caro, fala com as mesmas pessoas de sempre e, de repente, um amigo conta-lhe: “sabes o que aconteceu com fulano? O filho dele está em coma devido a um acidente de mota”. Um acidente de mota, cuja culpa fora toda de um filho da mãe que não parou no stop e assim, mandou o miúdo para uma cama do hospital de Gaia, em coma. E o nosso amigo, fulano mais cheio de graça e felicidade por ter os seus filhos, a sua casinha, o seu trabalhinho, e com a sua horta e os seus patinhos e feliz também por ter cerveja fresca em casa, por estar a ver os filhos quase criados e encarreirados, no fundo ele também um homem de luta constante por uma vida boa, vê-se assim destroçado, desamparado pela puta da sorte desta vida.
Eu continuo cheio de problemas para levar a minha vida avante. O meu amigo, enfim, perece na negritude da fatalidade.
Bom sábado.
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