sábado, 8 de maio de 2004

eggs and sausage

eggs and sausage and a side of toast/ coffee and a roll, hash browns over easy /chile in a bowl with burgers and fries/ what kind of pie?” (Eggs and Sausage, Tom Waits)

Sábado, 6.20. Sentado à mesa do café “Cruz de Cristo", estranho nome para um sitio onde se faz tudo menos falar com Cristo, aguardei pacientemente aquele “cimbalino”. Sical mas cimbalino. Olhava os meus amigos, cansados e famintos, escolhendo cada um sua sandocha, e realizei que estava velho.
Tinha acabado de regressar da cidade. Duma noite talhada para a diversão e, afinal, retalhada por miúdos de pequenos olhares esgazeados e apostados em me chatear a tola. Realizei que estava velho e deu-me vontade de estar só, a ouvir Tom Waits que, estava certo, era o único capaz de me compreender naquele momento. Para tras tinha ficado uma péssima experiência passada no “meu mercedes” aquele bar de que já aqui falei. Umas tipas despudoradamente atiradiças, suspeitas, insinuadas, a atirar-nos um rol de perguntas perfeitamente voláteis e de circunstancia: “São amigos?, irmãos? Aquele tem ar de ser o que está melhor na vida”. “Vamos todos juntos a uma discoteca dançar”. “ A malta vai ao” Bo´Bó” em Matosinhos. Venham connosco”.
Eu andava por ali perdido na minha cerveja e como aquele bar não é grande, acabei por me ver envolvido naquela conferencia espontânea. Ao fim da decima quinta pergunta, que os meus colegas respondiam como podiam, já eu dizia, com azeda ironia: “Sou casado e ando às gajas”, esperançado em que elas desistissem. Mas elas não queriam saber disso. Hoje em dia nenhuma miuda dessas parece intimidar-se com tamanho descaramento. O que elas queriam era aproveitar uns tipos que ali estavam, supostamente frustrados, e cegos por um tempinho extra de “society-success”. De modo que continuei irascível: “ Se me apetecesse dançar eu não tinha vindo aqui, a este bar”. Elas atiravam-se para os mais receptivos do meu grupo, como quem procura a chave para a solução do problema. E logo um dos nossos dizia que sim, que podíamos ir. Eu encostara-me à parede e fumava. A moça mais descarada atirou-se a mim percebendo que eu era o grande obstáculo:” As pessoas pequeninas é que não alinham, não respondem. Vêem uma miúda a falar para eles e assustam-se”; e eu: “Olha lá pequena, já te ocorreu, antes de atirares esse relambório todo, que muitas vezes pode dar-se o caso de a determinada pessoa não lhe apetecer falar? Simplesmente não lhe apetecer?” a miúda foi aos arames e chamou-me agressivo. Eu tinha conseguido. E o sinal da minha vitória foi dado quando dois ou três putos se aproximaram de nós, e a “miuda-irreverente-moderna” apresentou-me um deles como sendo o seu namorado. Cumprimentei-o e prestei-lhe as minhas homenagens. Algum tempo depois o grupo foi embora e nós ali ficámos, a ouvir musica e a beber.
Mais tarde, no café Cruz de Cristo, percebi o peso da minha cruz: descobrir que estava velho. Aquela dose de cafeína dizia-me que tudo tinha sido um equivoco, que elas não andavam no engate, nem eram assim tão má gente. Eu é que já não tenho paciência para estes grupos espontâneos, estes ajuntamentos de pessoas mais ou menos identificadas com o facto de serem jovens. E fui para casa dormir.

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