Ouvir Young dá-me para escrever destas coisas. Ontem estive no Perestroika Café, o Hernâni tinha chegado de mais uma viagem por essa Europa, e estivemos um bom pedaço à conversa. É sempre bom termos amigos destes, gajos que, por força da sua profissão, visitam outras cidades europeias, e como o Hernâni não é, nem de longe nem de perto, o protótipo do “camionista-barrigudo-que-passa-os-tempos-livres-no-camião”, acaba por ter sempre coisas interessantes para contar. E lá me foi dizendo que Marselha está demais, com as discotecas e bares cheios de gente, bem disposta e apelativa. Mas Espanha é mesmo a rainha da noite. Não há noites quentes como as espanholas. Tudo o que é bar está repleto de vida. Eu ouvia o meu amigo e pensava para comigo: nós aqui, neste país, somos mesmo uma não realidade. Somos uma espécie de gente adiada que desata a envelhecer, fazendo das rugas o relatório de uma vida de casa trabalho, trabalho casa. É impressionante a forma como desperdiçamos o nosso clima, as ambiências próprias de latinos que somos.
Estas conversas, ao cair da meia-noite, fazem-me desejar, por vezes, pegar no carro e mandar-me daqui para fora. Por vezes apetece.
Hoje é sexta-feira e pronto. Mais um fim-de-semana, mais um copo. Muita gente também, mas pouca substância, franqueza quase nenhuma. Estou triste pelo olhar inseguro daquela moça que passa no bar. Estou sinceramente desapontado com a reserva moral que paira nas mentes deste povo que atina, e faz de si uma montra, nada mais. Eu não quero montras, quero um barco onde possa viajar.
[fotografia de © 2004 bruno alves - pode ver mais aqui]
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