quinta-feira, 20 de maio de 2004

o casamento

Lolita, a mui querida colega da blogosfera, atirou para cima do seu “Blogame Mucho” um tema muito interessante: o casamento. Li com gosto e apeteceu-me logo expressar o meu ponto de vista sobre o terceiro “sacramento” católico (depois do baptismo e da comunhão, antes do funeral, espera-se).

Ora bem. Eu sou casado há 16 anos, logo, suponho ter alguma experiência sobre o tema. Acontece que antes de ser casado já era maluco, disperso, extrovertido. Casei cedo e nunca aceitei de bom grado o ciclo altamente sedentário que o casamento impõe, apesar de sermos todos muito modernos. Depressa me cansei de permanecer em casa a engordar e nem sequer me lembro de ter acolhido um casal que fosse, naqueles jantares atrofiados, cheios de salamaleques e conversas à volta de bibelots, ou vendo aquele filme empastelado, mas que é do gosto dos convidados. Para mim não dá. Quanto ao relacionamento com a minha mulher, nada mais simples: ajudo no que posso e dou graças a deus por ela aceitar, a custo, aquela regra judaico-cristã de que a mulher tem de engomar e andar à volta dos tachos (confesso que não sei engomar mas sou um artista na arte gastronómica). Isso até nem é o que mais arrelia um casamento. O que verdadeiramente destrói os casamentos é o enfado, o compromisso do compromisso. Eu explico: nunca me hão-de ver a conviver com os amigos da minha mulher, só porque são amigos dela. Nunca hão-de ver a minha mulher a jogar poker e a beber cerveja com os meus amigos, só porque eu gosto. Nada disso. Amigo não empata amigo. Seguindo esse princípio, garanto-vos que o amor, chamem-lhe o que quiserem, nunca desce, jamais acaba. Porque há sempre descobertas a fazer-se, enquanto casal. Há sempre um laivo de loucura em cada olhar, em cada aroma. E nem falo dos filhos, porque a esses eu amo demais e nunca serviriam para sustentarem o meu casamento. E para terminar eu passo aqui, um pequeno excerto de uma conversa que tive com a minha mulher há quatro dias atrás, para perceberem bem onde pode estar esse tal amor de que muitos duvidam: “que queres para o almoço? língua ou espetada?” respondi de pronto: “tu é que tens que me dizer o que queres”. Ela retorquiu com paixão: “Sabes bem que eu quero sempre as duas coisas”. Eu só tenho é que dar, mainada.

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